Opinião

Opiniao 11909

Pise firme

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Passos firmes e decididos… mesmo que você esteja apenas andando de um cômodo para outro em sua casa. Assuma uma atitude de encarar o mundo. (Catherine E. Rollins)

Sua posição, gestos e atitudes são importantes para sua felicidade. Sua firmeza no caminhar indica sua firmeza no ser. Pise firme até mesmo quando não estiver pisando. Seus pensamentos já são uma caminhada. Inicie sua semana com firmeza para que você chegue à próxima semana com o espírito ativo. E não perca tempo buscando sua felicidade fora de você mesmo ou mesma. Todo o poder de que você necessita para ser feliz está em você mesmo. Tudo vai depender de sua firmeza no pensar.

Fale sempre a verdade. Não importa o que você diz, o importante é que você seja sincero e fiel com você mesmo. A felicidade está com você e em você. Não a desperdice. Não fique perdendo tempo dando atenção a coisas e fatos desagradáveis. Não desperdice tempo com assuntos negativos. Busque a felicidade em você mesmo. Ame, ri, sorria e procure viver a vida que você merece. Os trancos no dia a dia fazem parte da vida. Eles nos ensinam a vencer. Nenhum tranco é superior a você se você não se curvar. Embora os entendidos não falem nisso, acredite que os obstáculos são como os cachorros e os covardes. Eles sabem quando você está com medo deles. Acredite nisso.

Não sei se você já conhece o caso do Raimundinho. Éramos escoteiros, na Base Aérea de Natal, em Parnamirim, no Rio Grande do Norte. Raimundinho era Lobinho no meu grupo, porque ele tinha pouco mais de seis aninhos de idade. Certo dia, num treinamento, perguntei-lhe o que ele faria se numa caminhada ele encontrasse uma árvore atravessada na estrada, e ele respondeu:

– Eu pulo pu riba.

Eu ainda era um adolescente, mas fiz força e segurei o riso. Embora fosse estanha a resposta dele, ela era correta e educativa. Tudo que você deve fazer para vencer o obstáculo é pular por cima dele. Se não der pra pular, circunde-o. Dê a volta em volta dele e deixe-o onde ele estiver. Porque é assim que os cachorros e os covardes se sentem quando você não lhes dá trela: eles baixam a cabeça. Porque se você lhes der atenção eles pisam no seu pescoço. Seja sempre mais forte do que os trancos que possam surgir na sua frente.

Sidarta Gautama disse: “Não acredite em nada, não importa onde você o leia ou quem o diga, a menos que esteja de acordo com sua própria razão.” Mas, é claro, você tem que estar com sua mente equilibrada. E você só manterá sua razão realmente equilibrada, mantendo seus pensamentos em equilíbrio. Mantenha-se sempre em equilíbrio na sua maneira de pisar firme. Pense nisso.

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Gravidez na adolescência: um problema de saúde pública

Por Claudia Rubin (*)

O dia 1º de fevereiro marca o início da Semana Nacional da Prevenção da Gravidez na Adolescência. Por cinco dias consecutivos, autoridades e instituições trazem o tema à luz do debate para mostrar algo que pouca gente sabe: trata-se de um problema de saúde pública, pois se apresenta como uma condição de alta prevalência; e de impactos individual (uma das principais causas de morte entre jovens e adolescentes) e social (causa evasão escolar, diminui oportunidades de trabalho e limita as jovens mulheres de suas vidas pública e política).

Estima-se que 400 mil crianças nascidas anualmente no Brasil sejam de mães adolescentes, segundo estudo da Associação Médica Brasileira (AMB). Ou seja, quase 20% das gestações ocorrem em mulheres entre 12 e 19 anos. Mesmo em queda, os números ainda são superiores às médias dos países desenvolvidos. E muitas razões podem ser apontadas: baixa escolaridade; o inicio de atividade sexual antes dos 15 anos; história materna de gravidez na adolescência; e falta de conhecimento e acesso a métodos contraceptivos, por exemplo.

A maioria destas gestações não é planejada e afeta de forma profunda – e muitas vezes irreversível – a saúde das meninas no curso da vida, não apenas dificultando o desenvolvimento psicossocial, mas também elevando os riscos de morte materna e deixando os filhos mais vulneráveis a problemas de saúde e pobreza. Só para se ter uma ideia, em nível global, segundo dados da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), o risco de morte materna é duplicado em mães com menos de 15 anos em países em desenvolvimento. Já as mortes perinatais são 50% maiores entre bebês nascidos de mães adolescentes.

Gestações em adolescentes são consideradas, portanto, de alto risco e é importante salientar que patologias obstétricas, tais como pré-eclâmpsia, restrições de crescimento intrauterino, anemia, complicações referentes ao parto, por exemplo, estão mais comumente presentes nos extremos da vida reprodutiva. É, portanto, mandatório, que se siga um programa especial de acompanhamento de todo o ciclo gravídico puerperal dessas meninas.

No que tange ao enfrentamento para uma drástica mudança neste cenário, é preciso começarmos pela educação. Não apenas apresentando e orientando quanto aos diversos métodos contraceptivos e dando aos adolescentes a autonomia para escolhê-los, mas, ainda, promovendo a educação sexual em nível individual e comunitário, coibindo casamento infantil e empoderando as meninas para exercerem seus direitos reprodutivos em ambiente de igualdade de gênero. Também é necessário permitirmos o acesso a serviços de saúde capacitados, que respeitem os direitos sexuais dessas garotas, sem julgamentos de caráter moral, social ou religioso, disponibilizando os métodos contraceptivos de forma atualizada e desmistificada, incentivando o uso de métodos reversíveis de longa duração pela segurança, facilidade de uso e eficácia.

Em geral, adolescentes não têm contraindicações de nenhum método anticoncepcional. A apresentação de todos, contrapondo os pontos positivos e negativos de cada um, gera mais segurança na escolha. Uma escolha consciente e assertiva, por sua vez, tem mais possibilidade de adesão e de continuidade do uso.

Hoje em dia, há uma tendência das sociedades de ginecologia e pediatria em incentivar o uso de métodos contraceptivos reversíveis de longa duração (LARCS), como DIU de cobre, DIU hormonal e implante de etonogestrel, por exemplo, por se apresentarem com altíssima taxa de aprovação ao uso, com nenhum ou pouquíssimos efeitos colaterais. São práticos, seguros e não exigem tomadas diárias ou mensais. Cabe a nós, profissionais da saúde, esclarecer a ação (não são abortivos, ao contrário do que se pode pensar) e eficácia desses métodos, encorajando nossa população-alvo a utilizá-los sem medo.

Que a Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência de 2021 marque mudanças e quebras de paradigmas no aconselhamento e planeamento familiar das nossas adolescentes mais expostas a situações de vulnerabilidade e violência. E que este ciclo de repetições de padrões de pobreza e exclusão so
cial seja, enfim, quebrado.

(*) Dra. Claudia Rubin é Medica Ginecologista e Obstetra do Vera Cruz Hospital

“Socorro, me ajude!”

Renata Abreu

Meu coração de mãe sangra, mas não posso me calar diante de tamanha violência praticada contra uma criança de apenas 10 anos. Dez anos! Essa menina merece carinho e proteção e não ser exposta a mais abusos e traumas. Se já não fosse suficiente o que passou nesses anos de dores físicas e emocionais, ela teve de encarar lobos e bruxas saídos dos contos dos Irmãos Grimm a lhe causar mais sofrimentos. Uma infância destruída por estupros constantes e a gravidez jamais desejada e talvez nem compreendida por ela, uma criança de apenas 10 anos. Se pudéssemos ler seus pensamentos, eles diriam “socorro, me ajude!”. Medo, vergonha e culpa são alguns dos sentimentos que acompanham essa menina, silenciada por quatro anos por não saber a quem pedir socorro, por pensar que ninguém acreditaria nela e ou por nem saber que estava sofrendo violência sexual. Façamos uma regressão, voltemos à nossa infância, o que fazíamos nessa idade? Brincávamos, éramos crianças. Mas, e essa menina … Meu estômago embrulha só de pensar nas atrocidades que a garotinha passou. E imaginar que neste momento quantas outras crianças estão passando por isso. Sinto vontade de gritar. E de chorar! No Brasil, ocorrem 6 internações diárias para procedimento de aborto legal em meninas de 10 a 14 anos, vítimas de estupro. Segundo dados tabulados pela BBC News Brasil no Sistema de Informações do SUS, desde 2008 foram registrados 32 mil abortos envolvendo crianças nessa faixa etária. E se esses números já nos chocam, o Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra a cruel realidade: uma menina é estuprada a cada 15 minutos no país!!! E quando uma dessas atrocidades diárias é descoberta por acaso, durante consulta para verificar um ‘simples’ mal-estar, logo materializam-se lobos e bruxas a sentenciar, como numa inquisição, que a criança assuma sua maternidade. Oi? Como assim? Ela tem só 10 anos de idade! Politizar tragédias e violar as leis que garantem, entre outros direitos, o anonimato e a preservação da vida dos menores de idade que sofreram violência sexual é injetar uma dor adicional em vidas já tão destruídas. Estamos falhando com nossas crianças. Elas precisam ser preservadas, respeitadas e protegidas. Com sequelas que talvez nunca mais sejam curadas, nossas crianças precisam ser orientadas, assistidas, abrigadas e amparadas. Jamais julgadas por lobos e bruxas. O silêncio delas é o mais alto grito do mundo de “socorro, me ajude!”. Renata Abreu é presidente nacional do Podemos e deputada federal por São Paulo