Opinião

Opiniao 12327

O HOMEM DO ESPELHO OVAL

Walber Aguiar*

Quem me dera ao menos uma vez que o mais simples fosse visto como o mais importante. (Renato Russo)

Ele vivia naquela casa simples com cadeiras na calçada, com cajueiros no quintal, abacateiros, manguitas, que sempre fazia questão de dar. Passeava quase levitando, na imanência dos dias, com os pés descalços no terreiro cheio de sombra, chicória, cupuaçu, cidreira e capim santo. A casa foi feita para ser o lar de Cazuza e dona Otília. Construída em cima de mirixis e batatas doces que pai-lá plantava, junto com bananeiras; tesouro doce, feito as ingás de dona Inês, bem ali do lado.

Tudo era muito simples, como simples era o homem menino que ali morava. Junto com Joaquim, durante algum tempo, com quem repartiu abrigo e boas palavras, com firmeza e sensibilidade. Um dia vovó partiu, e a casa do bairro de Aparecida ficou ainda maior, pois seu quarto, sempre imexivel, ficou enorme feito sua mala centenária, que testemunhou todos os atos e pessoas que por ali passaram.

Depois foi a vez de Joaquim. Ausente o pescador de peixes e de amizades, o espaço foi crescendo, crescendo, absorvendo a figura cheia de ética e grandeza que ali vivia. Um rapaz que amou poucas mulheres, que fez chorar Eneida e suspirar tantas outras almas femininas. Com uma delas teve um filho, Leonardo, único e intensamente amado, mesmo à distância. Leonardo, que estava com ele na hora final.

Antônio Carlos David. o tio Carlinhos, ou Cazuza, viveu como bem entendeu viver e se vestiu de enorme simplicidade. Pedalava sua monark vermelha, enquanto cruzava a rua Aruaque, na direção da “Folha de Boa Vista”, onde apanhava o jornal todos os dias, bem manhãzinha. Levava o periódico religiosamente até a casa da Coronel Mota, onde desfraldava poemas e palavras diante dos olhos atentos de seu Genésio e dona Maria. E fazia isso com orgulho. Aliás, tudo que ele realizava tinha muito de vontade e satisfação.

Cazuza desenhava muito bem e foi tenor no coral da Secretaria de Educação,com o maestro Dirson Costa e tantos outros. Seus traços viraram ideias, atitudes e a existencialização do que viria a ser. Passou a limpo o borrão da vida e sorriu diante da saudade e da dor. Colecionou amigos e acumulou tesouros no céu, onde a traça não consome e a ferrugem não corrói. Por onde passava, acenava. No bar do Pará, onde tomava uma cervejinha bem gelada, no trabalho, no lugar onde se ergue o busto de Ottomar de Souza Pinto. Ali era respeitado, querido, amado. Sempre levava um sorriso no rosto e um lanche para os que tinham encarado a longa jornada semanal.

Carlinhos era assim, feito à imagem e semelhança do santo cuja igreja frequentava com muita constância, devoção e alegria: São Francisco, amigo dos bichos, das plantas, do sol e da lua; uma figura sedenta por Deus, cheia de intensa espiritualidade no coração. Se “alguém é tanto mais santo quanto mais humano seja”, então Cazuza era portador de enorme vida com Deus. Era de uma extrema humanidade, desde o ato de botar comida e água pros passarinhos até o cuidado com as feridas dos cães que nem dele eram.

Um carro, uma moto e uma coleção de amigos. Sidney, Wallace, Carmono, César Baiacu, Raulino, Caboco Clério, Williams, Magno velho e todos os sobrinhos, filhos de tia Zélia, Maria Messias e tia Dica. Também de Francivaldo Galvão, com quem batia longos papos sob as mangueiras mágicas do quintal de dona Otília, sorvendo uma antártica bem gelada. E aqui, peço perdão por não lembrar de todos os amigos, como Índio Bessa, Joãozinho, Eronildes, Patinhas, Cachorrão e toda a gente boa que com ele caminhou na trilha do existir.

Meu tio era indescritível. Indignava-se com a injustiça, a corrupção, o saque, a ladroagem, a opressão com que são tratados os que se vendem por cem reais e os que pagam o pato por se manterem bons, éticos e justos. Cazuza nunca deixou de ser menino. Nunca perdeu totalmente seu sorriso maroto, sua inocência bonita, coisa ingênua e morna que muitos deixaram e deixam pelo caminho. 

Era uma tarde morna. Nunca ia lá pra passar uma chuva. Sempre demorava duas, três horas, às vezes a tarde inteira. Creyse e Cleres também iam lá. Creyse levava Renato para conhecer e conversar com o tio, a quem ele chamava de “camaradinha legal”. Penso que o menino Renato deve ter aprendido um pouco da simplicidade daquele homem, daquele jovem que portava um espelhinho oval no bolso e uma escovinha, chamada por seu Gernésio de pente de malandro.

Oferecia suco, água, manguita, um pouco de peixe que sobrava do almoço. Sei que ele tinha muitos livros e um enorme quadro com Wanda, na parede, do qual tinha muito orgulho, feito no auge da juventude dos dois. Sei que ali estão a TV, companheira da solidão e da insônia, o sofá onde ele deitava, o velho ventilador que girava no ritmo em que Cazuza levava sua vida: devagar e sempre.

Cleres sempre estava lá, na tentativa de compensar a ausência de muitos que partiram para o Eterno e a eternidade. Brincava de ser simples com aquele discípulo de São Francisco, que sempre estava ali, entre cachorros, plantas e passarinhos.

Qualquer dia desses vou passar por ali, na tentativa de reabastecer o espigão de minha alma com as energias da simplicidade e daquilo que se constitui no autêntico existir, no mais amplo significado da verdadeira vida.

Sei que vou lembrar sempre do seu sorriso, do seu olhar franco, como que querendo agradar através de palavras cheias de singeleza e alegria de coração. Lembrarei da bicicleta vermelha, da manga madura, do abacate e, sobretudo, daquele rapaz latino-americano que portava uma escovinha e um espelho oval no bolso…

Adeus menino Cazuza, um dia nos encontraremos nos terreiros cele
stiais, cheios de sombra, cajueiros frondosos e uma grande revoada de passarinhos…

*Poeta, professor de filosofia, historiador, membro do Conselho de Cultura e membro da Academia Roraimense de Letras

Dermatite Atópica

Marlene de Andrade

 

“Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo”. (João 16:33

 

Dermatite atópica também conhecida como eczema atópico é doença genética e crônica. Ela apresenta crostas e erupções, as quais coçam e se caracterizam por um dos tipos de alergia cutânea, ou seja, alergia de pele.  

Essa lesão pode apresentar: pele seca, ferimentos, vermelhidão, inflamação da pele ao redor das bolhas com áreas espessas. Elas podem ser desencadeadas por alergia a mofo, ácaros, perfumes, sabonetes, produtos de limpeza em geral, tecido sintético, frio, calor sudorese, estado emocional e certos alimentos. 

O pior da dermatite atópica é que ela pode se tornar crônica    desencadeando de vez em quando  novo quadro clínico. De tanto a pessoa se coçar pode ocorrer feridas ocasionadas por bactérias, gerando assim, infeção purulenta.  

Mesmo essa doença sendo crônica, o tratamento dela deve ser realizado para controlar a coceira e reduzir a inflamação da pele e assim diminuir as recorrências.   

A pessoa que tem esse tipo de dermatite deve evitar as situações que provocam alergia e ser acompanhada por médico especializado em dermatologia. Somente um médico pode dizer qual o medicamento mais indicado para qualquer doença. Automedicação nem pensar. Também não se deve interromper o uso do medicamento sem consultar antes o médico, o qual está prestando assistência ao paciente. Outra coisa importante, é que o paciente não pode alterar as dosagens medicamentosas prescritas pelo médico. Essa inflamação cutânea pode ser desencadeada na infância e é mais comum em pessoas, as quais têm histórico familiar dessa doença. 

Essas lesões de pele aparecem mais em dobras como joelhos e cotovelos. Há que ficar bem esclarecido que dermatite atópica  não necessita de exames laboratoriais ou exames de imagens, pois o médico dermatologista é capacitado para atender pacientes com essa doença, a qual pode durar anos ou para o resto da vida.  

 

Marlene de Andrade 

Médica Especialista em Medicina do Trabalho – ANAMT/AMB/CFM 

Pós-Graduada em Pericias Médicas – Fundação UNIMED 

Medicina do Trabalho Concursada pelo Estado/RR  

Técnica de Segurança no Trabalho – SENAI/IEL 

CRM-RR 339 RQE-341 

Conversa franca

Afonso Rodrigues de Oliveira

“As palestras de autoajuda pouco ajudam quando as pessoas não compreendem o funcionamento da mente”. (Augusto Cury)

De nada adianta tentar uma conversa sobre o relacionamento humano, sem conhecimento da mente. Infelizmente a Educação não nos orienta nesse caminho. Ainda continuamos confundindo a conversa sobre relações humano como um engodo filosófico. O que exige controle na manutenção de uma conversa madura e franca. E tudo está na simplicidade do assunto. E está nesta simplicidade, a dificuldade, na maioria das vezes. Ainda não somos orientados, na nossa educação, em casa ou nas escolas, sobre a mente.

Muitos séculos antes do Augusto Cury, o Confúcio disse: “De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si mesmos”. Mas isso não significa que devemos deixar de orientar, desde que não haja intenção de dirigir. No início da década dos anos sessentas do século passado, tivemos essa dificuldade na indústria paulista. O SESI iniciava um trabalho maravilhoso com as Relações Humanas, para aperfeiçoamento da qualidade nas empresas. E não pode haver qualidade no trabalho, se não houver um bom relacionamento no ambiente profissional. E relacionamento no trabalho está ligado a relacionamento familiar.

Tenho certeza de que já falei disso por aqui. Mas vamos repetir. Eu trabalhava numa grande indústria paulista, à época. E como minha função era controle de qualidade, a empresa indicou-me para trabalhar junto com o SESI, na implantação, na empresa, das Relações Humanas no Trabalho e na Família. E acredite, tive que orientar os operários, porque eles não queriam participar das palestras. E isso porque eles estavam confundindo relações humanas com relações sexuais. Isso pode lhe parecer piada, mas é verdade. Tive que reunir turmas de todas as áreas para esclarecer o assunto.

É bem verdade que não há mais esse equívoco. Mas ainda e
ncontramos dificuldades em fazer o pessoal entender a importância das Relações Humanas, tanto no trabalho quanto na família. Reflita sobre isso e procure manter mais relacionamento com o assunto. Os relacionamentos familiares atuais, estão meio confusos. E não há como haver um bom relacionamento entre trabalho e família, se não houver um bom entendimento entre a pessoa e sua própria mente. O que é muito simples, mas muito difícil, desde que não exercitemos o controle mental.

Durante toda a década de 1960, trabalhei com o Controle de Qualidade e as Relações Humanas, na empresa Coldex, em São Paulo. E tenho muita história pra contar sobe este assunto. Nas décadas de 1970 e 1980, nos Estaleiros Mauá e Caneco, no Rio de Janeiro. Pense nisso.

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