Opinião

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De sopa em sopa o Brasil vai sendo envenenado

Sebastião Pereira do Nascimento*

Não basta o desmatamento que contribui para o aquecimento global e as ações que elevam a concentração de renda e os conflitos agrários, o agronegócio vem cada vez mais utilizando produtos químicos sintéticos (agrotóxicos), tanto na agricultura quanto na pecuária em todos os modelos e etapas de produção: na limpeza do terreno e preparação do solo, no acompanhamento da lavoura, no armazenamento e beneficiamento de produtos, na formação e manutenção de pastagens, nas florestas plantadas e nas grandes produções em sistemas aquáticos.

Nos último anos, o Brasil vem sendo recordista mundial no consumo de produtos químicos (herbicidas, inseticidas, fungicidas, acaricidas, nematicidas, etc), desde 2008 quando adotou efetivamente o desenvolvimento do agronegócio – uma indústria de commodities – no setor econômico. De lá para cá, todos os problemas decorrentes do uso indiscriminado de agrotóxicos se multiplicaram, inclusive a utilização de produtos químicos banidos em outros países e a venda ilegal de produtos proibidos pela lei brasileira.

A cada ano, a produção e autorização de agrotóxicos no Brasil sofre mudanças nos critérios de aprovação, nas análises de riscos e até mesmo no nome dado aos produtos com forma de esconder o real composto químico, ou seja, há de forma velada, uma maciça flexibilização da forma de uso e do controle de agrotóxicos na agricultura brasileira. Isso tudo incentivado por grupos empresariais, representados por políticos da chamada frente parlamentar agropecuária ou “bancada ruralista”, chancelados por setores governamentais, organizações da agricultura e pecuária, além das indústrias químicas.

Por outro lado, apesar de muitas medidas governamentais serem duramente censuradas por diversos setores da sociedade (entidades científicas e ambientais, saúde pública, ministérios públicos, grupos parlamentares, organizações da agricultura familiar, povos indígenas, povos da floresta, etc) –, os lobbies políticos e econômicos são bastantes efetivos por estarem livremente sob o domínio do Estado. Portanto, as interferências contrárias não são suficientes para barrar as medidas editadas pelo governo no sentido de facilitar o uso de agrotóxicos no país.

A exemplo disso, é a proposta que altera a lei de 1989 que trata do uso e do registro de agrotóxicos em todo o território nacional, onde uma das pautas é a mudança do termo “agrotóxicos para “produtos fitossanitários”, definidos no texto como “agentes físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção”. A proposta prever também a redução do tempo para o registro e a comercialização dos produtos junto aos órgão de saúde e meio ambiente. Além da possibilidade de validar o uso de várias marcas de defensivos agrícolas banidos em outros países, cujas fórmulas, em alguns casos, são compostas por substâncias cancerígenas.

Dessa forma, os registros de agrotóxicos no Brasil vêm crescendo acelerado ano a ano, onde segundo o próprio Ministério da Agricultura e Abastecimento, só em 2019 foram registrados 474 pesticidas. Em 2020 foram registrados mais 493 químicos de uso agrícolas sendo a maioria produtos genéricos, isto é, produtos que se baseiam em outros já existentes. Em 2021, até o momento, foram 205 novos agrotóxicos registrados, levando para 1.172 produtos liberados desde o início de 2019. Contudo, o ritmo das liberações ainda não é satisfatório nem para os agropecuaristas nem para o governo, que está disposto a flexibilizar ainda mais as regras sanitárias, no intuito de ampliar os registros de agrotóxicos no país.

Argumentos contrários, acreditam que aprovar uma legislação ainda mais branda, fará com que cada vez mais venenos sejam usados na agropecuária e, consequentemente, aumenta a possibilidade de que os trabalhadores que atuam no campo, assim como os consumidores desses alimentos envenenados tenham maior possibilidade de contrair doenças graves como cânceres e distúrbios hormonais e genéticos.

Sobre essa questão de saúde, especialistas afirmam que a agenda tóxica do governo atual implica entre outras coisas, na elaboração de um processo de análise de risco, em que haveria níveis aceitáveis para a presença de produtos cancerígenos e teratogênicos (agentes que causam anomalias embrionária ou fetal). A lei de 1989 proíbe o registro de qualquer agrotóxico que traga esses riscos, sendo que quando se caracteriza uma substância como mutagênica, especialistas falam que não existe limite seguro de exposição, ou seja, quando alguém entra em contato já está em risco. Não há como estabelecer o limite – nesse universo estão os frequentes casos de “morte silenciosa” de trabalhadores rurais ou mesmo da população em geral acometidos por intoxicações agudas ou crônicas onde muitos evoluem para óbito.

Diante disso, fica a recomendação do médico Guilherme Franco Netto, especialista da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), quando diz que o país deveria trabalhar no sentido de aprimorar a lei atual, não só fortalecendo os órgãos reguladores, como também trabalhando na perspectiva de incrementar uma produção de alimentos mais saudáveis.

Outra maneira, seria a sociedade brasileira se conscientizar e advogar contra essas manobras nocivas do governo, visto que diariamente toda a população é afetada pelo o uso maciço de produtos químicos, onde cada um tem a sua quota-parte de veneno a partir do momento que ingere uma sopa preparada com defensivos, com sobremesa de herbicidas e suco de pesticidas. É importante frisar ainda um trecho do livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, quando ela diz que “cada um dos seres humanos está agora sujeito a entrar em contato com substâncias químicas perigosas (os “elixires da morte” como ela mesma diz), desde o momento em que é concebido, até ao instante de sua morte”.

*Consultor ambiental, filósofo e escritor. Autor dos livros: “Sonhador do Absoluto” e Recado aos humanos”. Editora CRV.

O importante é viver

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaio. Por isso, cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se feche e a peça termine sem aplausos”. (Charles Chaplin)

Tudo que devemos fazer para viver a vida é aprender a viver. E isso acontece no aprendizado na Faculdade do Asfalto. É viver o dia a dia como ele deve ser vivido. Todos nós estamos no palco da vida. As atividades diárias são uma apresentação no palco, estejamos onde estivermos. Afinal somos todos iguais. A dificuldade é fazer que o ser humano se considere um ser como o outro. Preferimos rir dos outros, mas não para nós mesmos, nem para os outros.

Só quando entendermos isso seremos capaz de ser o que somos. E a dificuldade está em entender que para sermos o mesmo amanhã, devemos, amanhã, sermos o que devemos ser hoje sem sermos o que fomos ontem. E esta diferença está nos nossos pensamentos. Porque o dia, hoje não é o mesmo de ontem. A Natureza está em constante desenvolvimento e progresso. A lentidão do andar da carruagem está na nossa lentidão em progredir racionalmente.

Vamos parar de gritar por coisas que só conseguiremos com racionalidade. Não podemos construir o mundo que desejamos para nossos descendentes, com arrufos, protestos e vandalismos que estão muito aquém do civilizado. Vamos aprender a dizer e mostrar o que realmente queremos, como seres de origem racional. Porque no racional o que queremos é um mundo onde vivamos racionalmente. Simples pra dedéu.

Vamos nos educar. E o importante é que nesse grupo devem estar os que já educam. O que continuamos assistindo, mundo afora, é entristecedor. Os comportamentos de humanos condizem com os de animais irracionais. E é primário pensar que o mundo melhorará, construído com barbáries. Em vez de irmos para as ruas gritar, espernear, destruindo, e provocar escândalos na nudez, vamos nos educar. Porque sem educação nunca seremos seres civilizados. E sem civilidade não seremos, cidadãos. E a cidadania é o instrumento maior para o direito de viver respeitosamente.

Vamos nos respeitar para podermos respeitar o próximo. E o próximo é todo ser humano existente, esteja onde estiver, seja quem for. Somos todos da mesma origem. Viemos todos do mesmo Universo. E nosso retorno ao nosso mundo de origem depende de cada um de nós. E isso não quer dizer que devemos ficar ajoelhados, orando, na ingênua convicção de que só assim conseguiremos o nosso retorno. O que devemos é viver a vida como ela deve ser vivida; com educação, respeito, e dedicação racional. E isso só é possível com educação. Então vamos nos educar. Pense nisso.

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