Opinião

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Quem tem medo da menopausa?

* Por Maria Cândida Bacarat

  O receio em relação ao envelhecimento permeia, desde sempre, mais a vida das mulheres que a dos homens. As causas disso datam de milênios de evolução humana, durante a qual a mulher sempre foi vista como uma máquina de reprodução com data de validade, cuja existência tinha como principal sentido a maternidade. Mulheres que ficavam velhas perdiam sua função na sociedade e, quando não eram abandonadas, precisavam lidar com o parceiro, também velho, se relacionando com jovens para perpetuar seu poder de reprodução – mais longevo que o feminino.   

Ainda bem que não vivemos mais na antiguidade. Hoje temos, à nossa disposição, a ciência, uma das principais razões para o aumento da longevidade humana. No início do século XX, a menopausa, que dá início ao climatério, era o sinal de que o fim da vida estaria chegando, pois a expectativa de vida da mulher era de até 60 anos em média. Hoje vivemos cerca de 30 anos além desse marco, permanecemos ativas nesse tempo e… vivemos mais que os homens. Dados do IBGE coletados em 2020 mostram que, no Brasil, a expectativa de vida das mulheres é de 79,9 anos – já a dos homens é de 72,8 anos. A OMS confirma essa tendência no mundo todo, variando em quantidade de anos de uma região para outra.  

Segundo dados da Sociedade Norte-Americana de Menopausa, daqui a três anos mais de 1 bilhão de mulheres estarão passando pelo climatério em todo o mundo, o que representa 12% da população mundial. Contudo, ainda há muitas dúvidas a respeito desse período da vida, inclusive se ele permanece um motivo de vergonha ou constrangimento de qualquer tipo para a mulher.  

 Oras, hoje temos mulheres longevas, chefes de família, profissionais, líderes em grandes corporações, sexualmente ativas e praticando esportes na fase do climatério. Ou seja, se ele um dia foi motivo de marginalização da mulher, hoje não é mais. Conseguimos mudar esse jogo.  Mas um ponto de atenção é importante aqui: socialmente falando, o climatério não ameaça mais ninguém, mas se considerarmos a questão fisiológica, ainda há muito desconhecimento e isso, sim, joga contra a qualidade de vida das mulheres nessa fase.  

Menopausa é menopausa, climatério é climatério.  

O climatério é uma transição de anos que engloba a menopausa, sendo a fase da vida em que a mulher deixa de poder gerar filhos. Já a menopausa, em si, é um marco mais facilmente percebido: acontece quando a mulher completa 12 meses do último ciclo menstrual. Antes disso, a entrada no climatério promove uma diminuição gradual e irregular na produção de hormônios femininos, que pode resultar em uma série de mudanças no corpo, notadas a curto, médio e longo prazos.  

No curto prazo, a aproximação e a chegada da menopausa podem causar calor, alteração no humor, com possíveis episódios de irritação e até depressão. Também são percebidas tontura, dor de cabeça e baixa libido. É uma confusão hormonal tão intensa que há muitos casos de mulheres que acreditam estarem grávidas nesse período. A médio prazo, além da diminuição do desejo sexual, pode ocorrer também atrofia urogenital, que é resultado do afinamento e ressecamento da mucosa que reveste a vagina e causa, em muitos casos, dor durante o sexo.  

Finalizada essa transição – que dura, em média, 20 anos –, a mulher deixa a fase reprodutiva e passa para a não reprodutiva. É a mudança de longo prazo.

Mas nada disso deve ser motivo de dor de cabeça, pois hoje temos a ciência ao nosso lado. Principalmente a partir dos 40 anos, as mulheres precisam consultar seus médicos com periodicidade, atentar para a recorrência na realização de exames preventivos e, em muitos casos, de reposição hormonal. Não tem segredo, tem cuidado e amor-próprio, e a qualidade de vida plena é perfeitamente possível dentro desse contexto. Além disso, uma rotina de exercícios físicos, hábitos saudáveis, cuidados também com a saúde mental e uma relação de parceria com o médico de confiança são fundamentais. Quem disse que é pra ter medo da menopausa?  

  * Maria Cândida Bacarat é ginecologista e coordenadora do curso de Medicina da Universidade Santo Amaro – Unisa.  

Na caminhada da tartaruga

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Há uma só máquina gigantesca operada por pigmeus: é a burocracia”. (Arthur Schopenhauer)

É claro que num sábado a gente gosta de ficar manhoso, treinando para a festança do domingo. Mas, esse não é o meu caso. Na quarta-feira acordei chacoalhando a mente. É que me lembrei: estava completando, como já falei aqui, exatamente quarenta e um anos de minha chegada a Boa Vista. Foi algo inusitado. Já era noite quando cheguei à casa do amigão, Adair Santos. Depois de nos apresentarmos, saí para assistir à festa junina, na Praça do Centro Cívico. Se não me falha a memória, já falei disso por aqui, faz muitos anos. Então vamos apenas relembrar e viver, na memória, cada minuto daquela noite.

O importante é que depois de quatro décadas, continuamos na luta para nosso assentamento em nossos lotes de terra, ali no Cantá. Nada de crítica, apenas comentários. Somos uma família dedicada ao que queremos. E o que quisemos naquela época foi nos dedicarmos à vida rural, mesmo sem sermos da área, e antes de dormir, ontem, fiquei pensando nas coisas mais absurdas que pratiquei, naqueles dias de tentativas agradáveis.

Naquela manhã, e isso em 1981, resolvi plantar maracujás. Construí uma cerca circular de mais ou menos uns cinco metros de diâmetro. E adivinha a maravilha que o “agricultor” fez: onde eu deveria ter plantado 4 mudas de maracujá, em volta da cerca, plantei 63 mudas. E elas brotaram. Foi a moita mais esplendorosa que já vi. Só que pouco tempo depois a moita estava tão pesada que derrubou a cerca e os maracujás nasceram pelo chão. Claro que foi muito maracujá. Vendi um bocado deles aqui pelos já an
tigos supermercados do São Francisco.

Claro que continuei na labuta. Só que não deu para ir em frente, mas diverti-me, e muito, com os absurdos que cometi e que divertiram muito os vizinhos que brincavam com respeito. Agora, mais de quarenta anos depois, estamos tentando, e vamos conseguir, continuar a luta, mas agora sabendo como plantar maracujás e tantas outras coisas que plantei naquela época. Só que, como já falei aqui, minha área foi invadida e estou parado há dois anos, esperando uma decisão da Justiça, para voltar ao meu velho sonho que me fez sair do Rio de Janeiro, para me embrenhar nas matas da Confiança I.

Mas, com certeza, vamos conseguir e realizar meu velho sonho de viver feliz e tranquilo, à beira do igarapé onde naquela manhã, deparei-me com uma enorme sucuri. O susto foi enorme, mas a sucuri fugiu, enquanto eu rodopiava procurando um facão que estava a poucos metros de mim e eu não o vi, enrolado num tremendo e tremedor medo. Pense nisso.

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