Opinião

Opiniao 14344

Neocalvinismo: a nova teologia do governo Bolsonaro?

Por Tiago de Melo Novais

Parecia improvável que depois do pentecostalismo e o neopentecostalismo haveria outra vertente cristã que ganharia destaque fora dos âmbitos religiosos no Brasil. Por bem ou por mal, a ala reformada (calvinista) brasileira, e mais especificamente a tradição neocalvinista, tem sido associada até mesmo ao governo de Bolsonaro.

Por não pressupor que o leitor saiba do que se trata, explico. Mas começo pela negativa: o Neocalvinismo não é o ressurgimento de uma teologia de corte calvinista, que, quando muito, afeta o que se entende sobre o caminho da salvação do crente. É uma tradição intelectual cristã específica, que nasce na Holanda e que surgiu como reação ao enfraquecimento da religião causado pelas mudanças vindas da Filosofia Moderna e da Revolução Francesa. Seu precursor foi um teólogo reformado, professor e político, chamado Abraham Kuyper, figura multifacetada e controversa, o qual chegou a ocupar o cargo de Primeiro-ministro da Holanda. Além dele, outros deram continuidade ao que se tornou uma tradição intelectual.

Sem rodeios, suas principais ideias se resumem na proposta de que o cristianismo é melhor entendido quando promove a integração da fé com os outros aspectos da vida e da sociedade – inclusive aqueles em que a fé já não é mais tão bem-vinda, como a cultura e política.  No Brasil, o Neocalvinismo não prosperou até pouquíssimo tempo atrás, quando se pôde identificar um esforço editorial de tradução de obras dos seus autores e disseminação das suas ideias.

Diante disso, alguém poderia indagar o motivo que torna essa vertente cristã sequer digna de menção, como tem ocorrido até mesmo em jornais de âmbito nacional. Ao meu ver, a razão é, antes de tudo, uma associação equivocada. Gostaria de explicar através de duas observações que dizem respeito ao nosso contexto social e político, e por isso, as considero importantes tanto para o leitor cristão, quanto não cristão.

Primeiro, embora o Neocalvinismo seja uma tradição ainda pouco conhecida por aqui, seu nome facilmente conduz a erros. Um deles tem ligação direta com o governo Bolsonaro, pois altos cargos do executivo e judiciário foram ocupados por pastores presbiterianos, reconhecidamente calvinistas. Cito alguns: André Mendonça, ex-AGU e agora Ministro do STF, Milton Ribeiro no Ministério da Educação e Benedito Guimarães Aguiar Neto na CAPES.

Após a ditadura, a confluência dos calvinistas com o governo e a política nunca foi tão grande no país, o que naturalmente coloca em suspeição uma parcela até então inexpressiva dos protestantes. Nesse sentido, parece inegável um alinhamento ideológico de alguns calvinistas com o bolsonarismo, o que não é motivo suficiente para transferir a associação para o campo Neocalvinista (nem calvinista como um todo). Não só isso. Por não possuir uma denominação religiosa ou instituição política no Brasil, a tradição neocalvinista é usualmente identificada sem muito rigor com qualquer movimento que compartilhe semelhanças, inclusive terminológicas.

Segundo, as ideias neocalvinistas dificultam sua rotulação em termos políticos. É constantemente interpretado por seus sucessores de diferentes modos, seja mais à esquerda ou à direita. Para os progressistas, o Neocalvinismo é lido como uma potência para promover o pluralismo religioso e o engajamento das religiões na esfera pública.

Para os conservadores, é entendido como uma força de sofisticação intelectual para manter a tradição cristã em um tempo avesso à fé. Então, até certo ponto, é correto afirmar que a tradição possui afinidade com o senso moral de governos conservadores, o que, por sua vez, não é o mesmo que afirmar uma correspondência entre o reacionarismo do governo Bolsonaro e o Neocalvinismo, por exemplo. Mesmo com suas muitas faces possíveis, alguns limites se impõem em nome da coerência.

Concluo com um convite: que o leitor amplie o conhecimento do que ainda é desconhecido, só assim um texto como este (que desfaz a associação equivocada) não necessitará parecer uma defesa, exceto da honestidade intelectual.

*Tiago de Melo Novais é teólogo, mestre e doutorando em Ciências da Religião e autor da Editora Mundo Cristão.

Formule e faça

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Nenhum pensamento de forma pode ser impresso na substância original sem causar a criação dessa forma”. (Wallace D. Wattles)

Quando falamos, por aqui, no subconsciente, estamos falando da substância original. Nosso subconsciente é a força maior do universo e está dentro de nós. Nós é que não sabemos usá-la. Ainda não aprendemos a usar nossos pensamentos porque não sabemos, porque não aprendemos a pensar. Ainda pensamos em função do que vemos, e não na originalidade. Somos, na verdade, verdadeiras “Maria-vai-com-as-outras”. Tudo o que fazemos não vem realmente dos nossos pensamentos, mas dos pensamentos dos que já fizeram o que vamos fazer porque eles fizeram. A moda hoje é argolinhas e bolinhas no nariz e no corpo. E por que fazemos isso? Porque os índios já o faziam há milênios e milênios. A diferença é que por não ter o metal trabalhado, os índios usam varetas, perfurando lábios e narizes. Pela moda, pintamos nossos corpos no estilo dos primatas. Isso indica que não somos capazes de pensar a não ser no que os antigos já pensaram. Será que não é por isso que não conseguimos ir além de onde estamos?


Na minha doce ignorância, e ainda não descobri qual o famoso e antigo escultor, que falou esta beleza, mas a ouvi do guitarrista Netinho do Recife, no meu radinho de pilha, dentro da mata de Roraima, em 1981. Numa entrevista, à rádio, o Netinho contou isso, dizendo-nos, por exemplo, como as coisas são simples de fazer, quando sabemos o que fazemos. Ele falou de um artesão pernambucano que estava com seu produto numa feira, quando um turista se aproximou. O turista deu várias voltas em volta de uma peça e perguntou para o artesão:

– Que técnica você usou para esculpir esse elefante?

O artesão alegou que não tinha usado nenhuma técnica especial. O turista insistiu na pergunta e o artesão respondeu:

– Bem… minha técnica é a seguinte: eu coloco uma tora de madeira sobre a mesa e olho pra ela. Aí vejo o elefante lá dentro. Aí eu pego a ferramenta e o que não é do elefante eu vou tirando, jogando fora, e deixando somente o elefante.

Simples pra dedéu. Os resultados que você obtém, são fruto dos seus pensamentos. Saber pensar requer equilíbrio mental. A escolha do que queremos deve, e pode ser exclusivamente nossa. Enquanto vivermos pensando encima do que os outros pensaram ou pensam, não teremos o que queremos. Se obtivermos alguma coisa, ela não será mais do que cópia do que foi nosso modelo. Mantenha seus pensamentos livres. “Misturar suas ideias com crenças e fé, fará com que todos os seus esforços sejam em vão”. Seja livre nos seus pensamentos e vá além. Pense nisso.

[email protected]

9121-1460