Opinião

Opiniao 14418

As ameaças à democracia e ao povo brasileiro

Sebastião Pereira do Nascimento*

A carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do estado democrático de direito, e seus desdobramentos, em todo Brasil, visa à defesa das instituições, da democracia, do sistema eleitoral e, resumidamente, da Constituição brasileira. Isso porque o país passa por um grande ataque proferido pelo atual presidente da república que, sem escrúpulo, se revela o mais contundente agressor do Brasil e do povo brasileiro. Logo, podemos afirmar que o chefe do executivo nacional é contra a decência e a moralidade.

Ao longo desses quase quatro anos de governo, ou melhor, de desgoverno, o mandatário brasileiro vem demonstrando a sua nato incompetência e todas as formas de hostilidades abarrotadas de ojeriza e ódio. Seja como for, o chefe da administração pública deixa claro o seu desapreço a causas humanas, assim como ao sistema democrático, chegando mesmo ao limite do inaceitável. E para a prova disso, basta ver os discursos antissistema proferidos pelo presidente que vão desde os ataques às urnas eletrônicas  procurando desqualificar o processo eleitoral brasileiro  aos episódios de mentiras e ameaças golpistas que causam a instabilidade democrática. Um desses episódios é a tentativa de fazer com que as Forças Armadas — ainda que preterem a vontade de Bolsonaro — se intrometam no processo eleitoral, sendo que a Constituição atribui ao Poder Judiciário a competência originária de cuidar da organização do processo eleitoral (alistamento eleitoral, votação, apuração dos votos, diplomação dos eleitos, etc.). Logo, o Poder Judiciário Eleitoral trabalha para garantir o respeito à soberania popular e à cidadania do povo brasileiro.

Todavia, todas essas artimanhas promovidas pelo presidente da república, têm como objetivo de assegurar e consolidar a manutenção do poder usurpado em 2016, por meio do impeachment de Dilma Rousseff. Diante disso, o perigo contra a normalidade democrática ronda a liberdade do povo brasileiro, uma vez que as atitudes desavergonhadas de sabotagem e de agressão feitas pelo presidente e seus apoiadores são reais. Isso está muito claro quando pedem intervenção militar e a dissolução do Superior Tribunal e do Congresso Nacional. Não é só um jogo político, há toda uma ação orientada para armar a população (em sentido estrito de uma política armamentista) e articular ações de violência contra aqueles que não se declinam aos propósitos extremistas e não republicanos.  

A onda de ataques violentos à adversários realizados por elementos bolsonaristas como, por exemplo, o assassinato do dirigente do PT, torna o risco de violência eleitoral iminente. Inclusive, sobre o assassinato do petista, como conta o professor e ex-reitor da UNB, José Geraldo de Sousa Júnior, “…o Ministério Público até mandou reabrir inquérito para caracterizar a motivação política do homicídio. Em audiência no TSE, integrantes da coalização em defesa do processo eleitoral, entre eles representantes sindicais de servidores do judiciário e da segurança pública, fizeram relato dramático ao Ministro Presidente, revelando não só preocupação com a segurança do processo eleitoral, mas pelos fatos ocorridos [os diversos atos de violência atribuídos ao presidente e seus lacaios]. Isso fez com que o TSE encaminhasse, por exemplo, a suspensão de porte de armas durante o período de votação e apuração”.

Essas preocupações trouxeram também a divulgação da “Carta às brasileiras e aos brasileiros em defesa do estado democrático de direito, sempre”, divulgada pelo Conselho da Faculdade de Direito da USP. A carta teve forte adesão de professores, empresários, artistas, sindicalistas, universidades públicas, diversos governadores, Ordem dos Advogados do Brasil, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal, organizações de juristas, personalidades intelectuais e da sociedade civil com mais de um milhão de assinaturas. Além da carta do dia 11/08, outros manifestos foram divulgados em apoio à democracia como, por exemplo, o documento em defesa da democracia e da justiça, cuja iniciativa foi encabeçada pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP). O manifesto assinado por mais de cem ex-reitores e ex-reitoras de universidades federais do Brasil, divulgado no fim da tarde do último dia 15/08, com a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), candidato a presidente da república.

Todas essas manifestações pró-democracia, deixam claro que a sociedade brasileira jamais vai aceitar o retorno da ditadura ou mesmo uma reação extremista ao resultado das urnas em
outubro próximo, visto
que a democracia não comporta esses tipos de atitudes ou qualquer outro tipo de violência que a todo momento vem sendo estimulada pelo mau exemplo de quem tem o dever de respeitar a Constituição  o presidente da república.

Portanto, como escreveu o ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal (STF), Celso de Mello “Torna-se importante, por tal razão, que aqueles que respeitam a institucionalidade e que prestam fiel reverência à nossa Constituição reajam — e reajam sempre com apoio e sob o amparo da Lei Fundamental do Brasil — às sórdidas manobras golpistas, às sombrias conspirações autocráticas e às inaceitáveis tentações pretorianas de submeter o nosso País a um novo e ominoso período de supressão das liberdades constitucionais e de degradação e conspurcação do regime democrático.”

*Filósofo, escritor e consultor ambiental.

Ditos bem-ditos

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo” (Nelson Mandela)

Os ditos quando são bem-ditos tornam-se benditos. Desde, claro, que não os vulgarizemos. Os nordestinos são useiros e vezeiros dos grandes ditos populares. Recentemente o escritor potiguar, Geraldo Queiroz, me mandou um exemplar do seu último livro: “Geringonças do Nordeste – A Fala Proibida do Povo”. Uma beleza de livro. Um verdadeiro glossário de expressões usadas no Nordeste. Muitos dos dizeres bem usados atualmente em todas as regiões do Brasil. Mas é muito gostoso você ler expressões, das quais você nem se lembra mais, e que muitas vezes nem conhece.

Numa terça-feira, estávamos na reunião do Fórum de Cultura quando, propositadamente, o roraimense Edgar Borges usou uma expressão muito conhecida pelos nordestinos: “Quem não pode com o pote não pega na rodilha”. Expressão bem oportuna no assunto que se discutia, sobre a provável construção do Teatro Municipal de Boa Vista. Minha mãe usava muito esse ditado, sempre que algum de nós extrapolava e cometia uma imprudência. Ela assumia o que fazíamos e simplesmente advertia:

– Quem não pode com o pote não pega na rodilha.

Ontem, pela manhã, eu estava no quintal quando ouvi, lá na oficina do Olímpio, alguém falar para alguém:

– Em casa de ferreiro, espeto de pau.

Outro ditado que minha mãe usava com frequência. Quando, por exemplo, ela achava que meu pai caía em falta com alguma coisa simples que ele deveria ter feito. Ele era marceneiro. Certo dia, ela precisou comprar uma colher-de-pau. Ela chamou meu irmão mais velho, olhou sarcasticamente para o meu pai e ordenou pro meu irmão:

– Vai ali comprar uma colher-de-pau, pequena, pra mexer o mingau, porque em casa de marceneiro o espeto é de ferro.

Prendi-me pra não rir e vi que meu pai fazia o mesmo esforço. Ainda bem, porque, no temperamento dos dois, o assunto banal e corriqueiro era suficiente para uma tremenda ranzinzice.

Você já prestou atenção em como essas coisas aparentemente banais são muito importantes no nosso crescimento? Já viu como é gostoso você se lembrar de tais insignificâncias, vindas de ditados populares, de lugares e em horas tão distintos? Isso faz parte do nosso crescimento. O prazer que senti em ouvir um ditado numa reunião do Fórum de Cultura foi o mesmo que senti ouvindo-o, vindo da oficina mecânica. E isso é cultura, senhores candidatos a postos eletivos. Pensem nisso como plataforma em suas campanhas, senão vamos ter que enfrentar o lodo do analfabetismo político e social, por mais um longo período, na formação dos nossos descendentes. Pense nisso.

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9121-1460

  

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