Opinião

Opiniao 9996

Amores saborosos

Rodrigo Alves de Carvalho*

Antenor desde menino tinha paixão por comida. Nem preciso dizer que o gordinho rosado nunca recusava um belo prato seja lá do que e de quem quer que fosse.

Foi assim que o comilão conheceu Quitéria, uma moça prendada que apresentou uma lasanha especial ao molho branco que fez com que Antenor se sentisse nas nuvens. O amor havia lhe visitado.

Antenor e Quitéria viveram lindos momentos ao sabor de massas espetaculares, pizzas caseiras, pães exóticos, macarronadas Al Dente numa verdadeira paixão ardente.

Isso até aparecer Jandira, cozinheira do restaurante no centro que fulminou o coração de Antenor ao experimentar seu sarapatel turbinado. A pobre Quitéria se sentiu trocada, mas como o estupefato Antenor poderia recusar os dotes de Jandira?

Ela fazia o homem cada vez mais feliz com seus pratos nordestinos apimentados e apetitosos.

Mas Antenor era insaciável e como um Don Juan gastronômico trocou Jandira ao conhecer a doce Iracema. Tão doce quanto seus bolos, tortas e sobremesas. Foi uma fase gostosa na vida de Antenor onde sentiu o mel e a doçura daquela confeiteira talentosa e angelical.

Quando tudo parecia estável e saboroso na vida de Antenor, o destino prega outra peça e novamente outro amor surge em sua vida para lhe promover sentimentos novos e especiais.

Tudo porque conheceu Estela e sua típica comida mineira.

Tão simples e ao mesmo tempo tão gostoso. Arroz, feijão, torresmo, frango caipira e salada de couve picada.

As coisas tão belas estavam na simplicidade. Isabel com seu jeitinho tímido fez Antenor derreter-se por seus pratos interioranos.

Tantos amores na vida teve Antenor, tantas mulheres, tanta comida, tantos sentimentos.

E é justamente por isso que hoje defendo o posicionamento dessa pessoa singular e querida por todos os que conhecem.

Antenor é gente boa e não merece esses comentários incabíveis e preconceituosos que se espalham à boca pequena em conversinhas de pessoas maldosas.

Cada um tem seus sentimentos e devemos respeitar as opções do todo mundo.

Não é porque o alegre e comilão do Antenor resolveu buscar sua felicidade com o Julião do botequinho perto do lago que devemos crucificá-lo.

Quem mandou o Julião fazer aquela feijoada completa que arrebatou o coração e o estômago do nosso amigo esfomeado?

*Nascido em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.

O BRASIL QUE ABDICOU DA HUMILDADE

Wender de Souza Ciricio*

A África do Sul experimentou entre 1948 a 1994 um dos momentos mais nefastos e injustos de toda sua história. Uma minoria branca que não batia na casa dos 8% da população local, sustentados pelo discurso de superioridade racial, exercia um poder desmedido sobre os negros a ponto dos mesmos não poderem exercer cargos políticos, frequentar as mesmas escolas dos brancos, morar nos bairros nobres dos brancos e ter o mesmo padrão monetário e material dos peles claras. Em função dessa política segregacionista denominada de apartheid surgiu um homem, um líder, chamado Nelson Mandela, que de tamanha e alta voz conseguiu chamar a atenção do mundo e com isso dar fim a esse absurdo de arrogância e empáfia de uma minoria que tinha todas as benesses em detrimento da desgraça e miséria de uma grande maioria negra.

A voz de Mandela lhe custou perseguição, tortura e uma prisão de 26 anos. Em 1994 foi liberto da cadeia e viu o colapso e fim do apartheid. Na condição de homem livre e depois de promover eleições multirraciais Nelson Mandela foi eleito presidente da África do Sul acompanhada por uma maioria de seu parido que ocupou o parlamento. Grande desafio tinha esse homem pela frente.

Teria capacidade você de dimensionar o ódio de 33 milhões de negros que por 46 anos tiveram suas histórias feridas e quase que destruídas por uma minoria branca que não chegava a 5 milhões? Essa maioria que viram parentes serem assassinados, injustiçados, presos, humilhados e agora sob o comando de Mandela, estão sobre seus opressores. O poder mudou de dono, o que sofria não sofre mais, mas ao contrário exerce o poder de mando com as armas em mãos. Os negros estavam com seus corações encharcados de ódio, as lembranças eram tristes, medonhas e a sugestão de suas almas consistia em, como forma de vingança, apertar os gatilhos, fulminar os brancos e acabar com seus privilégios e mordomias. Porém uma voz dizia: Temos que perdoar. Essa voz era do presidente da república, era a voz de Nelson Mandela. Por 4 anos Mandela, como presidente, não foi extraordinário na economia, não conseguiu acabar em grande volume com a desigualdade social, não erradicou a pobreza mas proclamou o Perdão. O ódio foi coberto pelo perdão. O povo que queria vingança se conforma com a tolerância e com o deixar livre, o soltar e o deixar ir embora, pois isso é perdão. Esse foi o maior legado de Mandela. O principal líder da nação falando e personificando o perdão foi seguido por uma maioria porque geralmente é assim, o povo segue o exemplo do líder. Se o cabeça age o povo age e se o cabeça não age o povo se mata.

O Brasil de hoje precisa aprender com Nelson Mandela. Nunca, em nossa história, se falou tanto o nome de Deus, mas em tão poucos momentos se estimulou tanto o ódio como vemos hoje. Vários líderes religiosos abdicaram de suas prerrogativas eclesiais para discursar políticas e ideologias econômicas, defender partidos e políticos. Professores que antes eram heróis estão no banco dos réus. O discurso não é de melhorar as escolas sucateadas e investir em pesquisas mas de eliminar, na educação, uma voz plural e estabelecer uma forma unilateral de lidar e ensinar os alunos. Os amigos para permanecerem amigos tem que falar a mesma língua caso contrário é segregado e rotulado. O mundo vive uma crise e no Brasil poucos falam em oração e união. Continuamos egoístas, frívolos e tomados de empáfia onde cada um quer ser mais esperto, mais inteligente, mais contundente do que o outro. Trocamos a amizade, a vontade de aprender e apreciar pela soberba do “sei tudo, não abro mão e vá se catar o resto”. A liberdade de expressão tem sido “contingenciada” pela falta de compreendermos a extensão da democracia. Estamos saturados e cansados. O Brasil abriu mão da humildade.

Respeitar, dialogar e buscar embasamento para aquilo que acreditamos ser o melhor para o Brasil. Ouvir, crescer um com outro e condescender isso foi Mandela e isso deve ser o Brasil.

*Historiador, psicopedagogo e teólogo

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A sacudidela

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“Bendita crise que sacudiu o mundo e a minha vida.” (Mirna Grzich)

Elas sempre existiram e sempre existirão. Sempre sacudiram o mundo. O importante é que aprendamos a conviver com elas, para que elas não nos derrotem. A sacudidela sempre existirá e faz parte da vida. Vamos viver um pouco mais com racionalidade, confiantes no futuro. Porque ele, o futuro, será construído com o que plantarmos hoje. Então vamos ser mais espertos na plantação para que sejamos mais ben
eficiados no futuro. “Há os que plantam a alface para o prato de hoje, e os que plantam o carvalho para a sombra de amanhã.” Rui Barbosa sabia o que dizia. Então vamos segui-lo e plantar o carvalho para a sombra do futuro. E a semeadura está no que fazemos.

Acordei, hoje, no horário costumeiro. Nada de televisão, rádio nem celular. Costumeiramente fui até a área dos fundos do apartamento e abri os vidros para o Sol, e o vento fresco da praia, entrarem. Eles entraram e foi legal pra dedéu. Olhei lá para o início da Rua Roraima, e lá estava ele. Tranquilo, contemplando o horizonte e apoiado na pontinha do poste. Não resisto a esse cenário. De repente um ônibus passou, fazendo um barulho exagerado, por bem pertinho do poste. Aí ele não resistiu e voou. Abriu as asas e levantou voo. Continuou sacudindo as asas como se estivesse acelerando. Parou o movimento das asas e plainou em direção à praia. Fiquei imaginando ele passeando pela areia da praia, deleitando-se com o barulho encantador do mar.

E toda essa beleza e encanto vieram de um urubu. Poucas são as pessoas que prestam atenção à beleza no voo de um urubu. Sempre o veem como uma ave desprezível. Quando na verdade, nós é que o desprezamos. Quando deveríamos prestar mais atenção à beleza do seu voo. Quantos momentos bons e bonitos, deixamos de contemplar durante o dia, por não prestamos mais atenção à simplicidade como fonte de beleza.

Não deixe de prestar atenção às coisas simples à sua volta, durante seu dia. Muitas vezes, não lhes dando atenção você está desperdiçando momentos, mesmo se curtos, de felicidade. Muitas vezes você se deixa levar por notícias, momentos e acontecimentos negativos que por serem negativos fazem de você um negativista. Somos seres humanos, e por isso estamos em constante e eterna caminhada para a racionalidade. Mas no racional não há unidade de tempo. E por isso o tempo que você passar sobre esta Terra, num processo lento de progresso, é problemas seu. Então não perca seu tempo com o negativo. Viva, cada momento de sua vida, como se ele fosse o último. Seu futuro depende de seus pensamentos e atitudes, hoje. Pense nisso.

*Articulista

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99121-1460