Opinião

Opniao 27 02 2020 9838

E 2020, finalmente, vai começar!

Flamarion Portela*

Acabou o carnaval! Agora, efetivamente, o ano vai começar de verdade.

Embora seja uma mera questão cultural do brasileiro, esta sensação de que o ano só começa depois do carnaval tem um fundo de verdade. O período da folia sempre acontece próximo a férias escolares, recesso político e uma sensação de que janeiro e fevereiro são meses praticamente parados.

Então, é hora de levantar e fazer o ano efetivamente andar. Seja em nossa vida pessoal ou na esfera pública, o momento é de buscar fazer aquilo que planejamos no final do ano passado, colocar em prática tudo que esperamos de melhor para a gente e para os demais.

Na esfera pessoal, é hora de realizar aquele planejamento de fazer uma dieta, cuidar mais da saúde, fazer a viagem dos sonhos, buscar uma ascensão profissional e tudo aquilo que espera realiza em 2020. 

Partindo para a esfera pública, pensando na coletividade, cobrar mais dos nossos políticos e governantes, que cumpram as promessas de campanha e façam tudo que precisa ser feito em nossa cidade, nosso estado e nosso país, para que as pessoas tenham acesso irrestrito a tudo que lhe é garantido por lei. 

Nosso país passa por um momento conturbado, com a economia cambaleante, mais de 11 milhões de pessoas desempregadas e sem perspectivas de conseguir um emprego em curto prazo, instabilidade na segurança pública com polícias em greve em vários estados. São diversas mazelas que esperamos serem resolvidas a partir de agora.

Nosso estado vive um verdadeiro caos social com a imigração desenfreada de venezuelanos, que resulta em mais insegurança, superlotação em hospitais e uma série de problemas que interferem nas nossas vidas e precisam ser sanados. A visita recente do vice-presidente Hamilton Mourão e do ministro Sérgio Moro trouxe alguma esperança de que o governo federal vai fazer alguma coisa para mudar esse quadro, mas até agora não houve nenhuma ação concreta. 

E, não podemos esquecer, este é ano de eleições municipais. É preciso fazer uma análise criteriosa sobre a atuação dos nossos governantes e legisladores, verificar quem está realmente trabalhando em prol do nosso município e do nosso povo, para saber escolher quem estará comandando nossa cidade a partir do ano que vem.

Por fim, e não menos importante, lembrar que estamos iniciando o período da Quaresma e precisamos rezar e agradecer a Deus pelo dom da vida, buscando mais do que nunca ajudar nosso próximo e ter uma vida mais cheia de religiosidade e próxima dos ensinamentos de Jesus Cristo.

Então, levante, sacuda a poeira e vamos fazer de 2020 um ano de vitórias para todos nós.

*Ex-governador de Roraima

T.F.D. em Boa Vista: entre a submissão dos vereadores e a ‘primeira infância’ humilhada

Luis Cláudio de Jesus Silva*

Reconheço que a prefeitura de Boa Vista tem avançado com muita eficiência em várias áreas. Grande parte desses avanços são para serem vistos e admirados pelos boa-vistenses e turistas que aqui chegam, e é aí que se encontram os principais problemas. A gestão concentra seus gastos naquilo que embeleza e, enquanto nos perdemos admirando, negligencia muitas áreas que mereciam a mesma atenção.

Enquanto gasta milhares de recursos públicos com mídia para divulgar supostos cuidados com projetos voltados para a “primeira infância”, reserva recursos irrisórios para aqueles que precisam de tratamento fora de domicílio (TFD), humilhando a primeira infância e seus familiares quando deportados a outras localidades da federação, onde a atenção À saúde é muito mais eficiente e verdadeira. Mas a negligência nessa questão não está restrita a alcaide municipal. Onde estão os vereadores, que deveriam cobrar e fiscalizar a aplicação dos recursos municipais e as políticas públicas em favor da população? A verdade é que nosso legislativo municipal sempre foi uma vergonha para o boa-vistense e, infelizmente, a atual legislatura não é diferente.

Com raríssimas exceções, nossos vereadores preferem iludir o povo com projetos de mudanças de nomes de ruas e realização de audiências públicas que nada resolvem, enquanto enchem seus bolsos se locupletando com recursos do erário, sem darem nenhum retorno que justifiquem suas atuações e, enquanto isso, postam-se embasbacados com as realizações propagadas pela prefeitura. Na nossa Câmara Municipal, falta capacidade e comprometimento, e sobra submissão e negligência. O caso do TFD é apenas um dos muitos problemas que humilham os munícipes.

O tratamento fora de domicílio, por si só, já expõe a falta de seriedade do gestor público nos cuidados com a saúde pública. Quando a população precisa buscar em outra unidade da federação um tratamento que não existe em sua cidade, deixa evidente a negligência com a saúde. No caso do município, este é o responsável pelo tratamento de crianças até 12 anos, aí incluída a “primeira infância” tão propagada pela prefeitura. Infelizmente, em Boa Vista, quem precisa de TFD, após passar pelos transtornos da excessiva burocracia, será submetido à humilhação de receber míseros R$ 24,50 de diárias, para custear alimentação e hospedagem da criança doente e do acompanhante na cidade para onde foram deportados.

A título de comparação, a diária para TFD no Estado é R$ 89,50. Ou seja, o município prefere pagar o valor irrisório previsto como valor básico em tabela do Ministério da Saúde, mesmo sabendo que estes valores estão defasados, não tendo sido reajustados há mais de uma década. Essa é a atenção à ‘primeira infância’ que nosso município executa e que nossos omissos e submissos vereadores aplaudem do conforto de seus gabinetes. Imaginem se o valor da diária destes vereadores fosse os mesmos humilhantes R$ 24,50. Certamente, eles já teriam feito a sua obrigação e cobrado do município que reajustasse esses valores.

Quando nossos vereadores pararem de se esquivar de suas obrigações, de se esconder da população – só aparecendo em época de eleição, pararem de colocar nome em rua e concentrarem suas energias na defesa dos nossos munícipes, talvez as crianças boa-vistenses parem de ser humilhadas no momento em que mais precisam de ajuda, quando, mesmo padecendo, são obrigados a perambular nos braços de seus pais, abandonados numa cidade estranha, mal alimentadas e pernoitando em qualquer muquifo fétido que caiba nos 24,50 da humilhação. A diária do SUS é o valor mínimo, e deveria ser visto como uma referência a ser complementada pelo município, mas nossos edis se acovardam e preferem a comodidade da subserviência a cobrar mais dignidade e respeito a esta parcela da primeira infância em sofrimento.

Oferecer dignidade, tratar com respeito verdadeiro, acolher os mais vulneráveis nos momentos de mais vulnerabilidade é o mínimo que se espera, mesmo que isso não traga beleza e atraia mais turistas e prêmios para nosso município. Quanto aos atuais vereadores, são somente mais uma decepção que não nos tira a esperança por dias melhores.

*Professor universitário, Doutor em Administração. luisclaudiojs
@gmail.com

A águia e o sábio

Afonso Rodrigues de Oliveira*

“A águia voa sozinha, os corvos voam em bando, o tolo tem necessidade de companhia e o sábio necessidade de solidão.” (Friedrich Rückert)

Há lugares onde você se sente sozinho sem se sentir abandonado. É questão de opção, de escolha e de decisão. Estou me sentindo assim, aqui na Ilha. Embora a Ilha não seja um lugar solitário nem adequado para meditações. Movimento é o que não falta por aqui. Estou sempre procurando viver cada dia como ele deve ser vivido. Desfrutando apenas o que existe, sem a tolice de criticar pelo que está faltando. Estamos num lugar adequado para se viver.

Temos uma rede de supermercados bem considerável. Mas escolhi aquele mais distante de casa. Pelo ambiente, o atendimento e a caminhada que dou na ida e volta. Não sei se estou ficando chato com esse papo, mas adoro observar o comportamento dos animais no meio dos humanos, que não deixamos de ser animais. E não sei se eles me observam como os observo. Mas sempre que passo por eles, eles ficam me olhando, como se estivessem se perguntando se podem confiar em mim.

Ontem saí do supermercado com as compras em duas sacolas que deviam pesar pelo menos quinhentos gramas. Como observador, resolvi entrar pela Rua Roraima. E na caminhada, pra variar, lá estavam dois quero-queros bicando na grama. E olha o que mais me encanta: quando me aproximei, os dois apenas se afastaram, um para a direita e outro para a esquerda. Passei e eles continuaram afastados. Só aí observei que vinha um carro. Os dois continuaram parados e o carro passou. Virei-me e observei que eles vinham caminhando calmamente para o meio da pista, onde continuaram caminhando com as pernas mais longas e finas que já vi.

É nessas caminhadas que caminho refletindo sobre o quanto ainda desconhecemos os animais que consideramos irracionais. E que por isso continuamos tratando-os como animais. Aí me pergunto por que pássaros e animais considerados domésticos não se sentem à vontade no meio dos seres humanos, fora dos lares. E por isso não refletimos diante de comentários de especialistas sobre o desenvolvimento humano. Porque o que me parece é que somos, seres humanos, os que menos se desenvolvem.

Afaste-se um pouco da azáfama dos centros urbanos e viva, vivendo, um pouco da Natureza, na convivência com os que vivem nela. É simples e gratificante, desde que você preste atenção às vias e veredas da evolução racional. Vamos ver as coisas como elas realmente são em relação ao nosso desenvolvimento, sem deixar de levar em consideração o desenvolvimento das raças desprezadas por nós. É gostoso pra dedéu, ser feliz. Pense nisso.

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