Parabólica

Parabolica 17 12 2018 7398

Bom dia,

Nos últimos 80 anos, especialmente dos anos 40 do Século passado para cá, o Brasil experimentou vigorosa urbanização. Estimulados pelo chamado modelo de substituição de importação implementado pelo governo de Getúlio Vargas, e consolidado especialmente pelo governo modernizador industrial de Juscelino Kubitscheck, os brasileiros e as brasileiras foram crescentemente deixando de morar no interior e ficando em moradias nas cidades. Isso fez com que nosso país se transformasse em menos de um Século de uma sociedade tipicamente rural, numa sociedade urbana e industrial ao ponto de, antes do final do Século XX, o Brasil ter alcançado o posto de 8ª economia industrial do planeta.

Apesar dessa intensa transformação a maioria dos brasileiros e das brasileiras ainda guarda a memória da vida rural, afinal, cada um de nós é, no mínimo, neto de pessoas que vivenciaram morar e trabalhar no interior. E essa memória nos traz uma visão idílica de que viver no meio rural é sinônimo da paz, tranquilidade e de uma vida plena de harmonia com a natureza. Quem já anda por volta de 50 anos ou mais lembra do movimento muito próximo ao dos hippies, que buscava valorizar a vida no campo, expresso nos versos inesquecíveis de Zé Rodrix, interpretados em outros, por Elis Regina:

Eu quero uma casa no campo///Onde eu possa compor muitos rocks rurais///E tenha somente a certeza///Dos amigos do peito e nada mais

Eu quero uma casa no campo/Onde eu possa ficar no tamanho da paz///E tenha somente a certeza///Dos limites do corpo e nada mais

Eu quero carneiros e cabras/Pastando solenes no meu jardim///Eu quero o silêncio das línguas cansadas///Eu quero a esperança de óculos///E meu filho de cuca legal///Eu quero plantar e colher com a mão///A pimenta e o sal

Eu quero uma casa no campo///Do tamanho ideal, pau a pique e sapé///Onde eu possa plantar meus amigos///Meus discos e livros e nada mais

Onde eu possa plantar meus amigos///Meus discos, meus livros e nada mais///Onde eu possa plantar meus amigos///Meus discos e livros e nada mais

Pois bem, neste mundo cada dia mais digital e interconectado pelas redes sociais, ainda tem muita gente no Brasil que sonha em morar, ou ter um sítio no interior. Aqui em Roraima, não é diferente, e milhares de pessoas juntam algum dinheiro, fruto de renúncias de outros prazeres, para comprar uma área rural e ali fazer sua morada, ou lugar de lazer. Muitos, ao alcançarem a aposentadoria, ou mesmo quando conseguem ir e vir para cidade optam por viverem nessas áreas rurais.

No caso dos boa-vistenses o prazer e o encanto de morar no interior têm sido substituídos pela sensação de insegurança e angústia por conta de assaltos, roubos, assassinatos e até estupros cometidos por bandidos de toda espécie, que continuam impunes e praticando terror contra os indefesos moradores. Tudo resultado desse quadro de falência total do aparato de segurança pública do Estado brasileiro, e especialmente, das forças policiais do estado de Roraima, que se mostram incapazes de dar um mínimo de segurança e conforto aos moradores do interior de Roraima, especialmente de Boa Vista. Fruto desse clima de insegurança e terror, muita gente está abandonando, ou vendendo seus sítios, e até fazendas, por fugir da ameaça permanente desses marginais impunes.

O novo governo que já assumiu, nesta fase de intervenção federal, cujo titular Antonio Denarium, declara identificação com o meio rural tem o dever de, em curto prazo, dar um combate sem trégua à violência que anda imperando em Roraima, tanto nas cidades do estado, quanto, e especialmente, aos indefesos moradores do interior. Essa gente do interior paga impostos, e acima de tudo gera empregos, que se fechados impulsionam trabalhadores e trabalhadoras, quase sempre sem qualificação, a incharem as periferias urbanas, construindo um processo que se auto-alimenta de violência.

POIS É

O governador eleito Antonio Denarium (PSL) anunciou no discurso proferido durante a cerimônia de diplomação dos eleitos, realizado na sexta-feira (14.12), no Centro de Atividades de Fronteira (CAF), da Universidade Federal de Roraima, que já lhe foi entregue pelo governo federal a Anuência Prévia, expedida pelo Conselho de Defesa Nacional (CDN) que permite ao governo estadual expedir títulos definitivos em áreas rurais na Faixa de Fronteira, dentro das glebas já transferidas ao estado. O documento estava com sua tramitação segura pelos ministros de Michel Temer (MDB) fazia mais de um ano. Tudo para tentar reeleger os correligionários de Temer em Roraima. E de nada adiantou prejudicar tanto o povo roraimense, que respondeu nas urnas, derrotando esses correligionários.

TROCA?

Não se quer aqui, defender os malfeitos do governo Suely Campos (PP), que vai responder na justiça e para a história, pelo que fez, ou deixou de fazer durante os quase quatro anos que governou Roraima, mas esse comportamento do governo federal de utilizar os meios públicos para atender os interesses, alguns inconfessáveis, de seus apaninguados no estado, deve ser repudiado com todo vigor. Aos olhos de quem tem a percepção do movimento político em torno do novo governo, não paira dúvida de que “essas concessões” de última hora parecem destinadas a entronizar os parceiros de Temer na parceria com o governo que já se instalou em Roraima. Quem viver verá!