Parabólica

Parabolica 17 06 2019 8396

Bom dia,

Daqui da Parabólica já havíamos alertado de que será preciso que o governo federal reveja a metodologia e a estratégia operacional com que tenta dar uma acolhida humanitária aos milhares de migrantes, especialmente venezuelanos que chegam às centenas ao Brasil, através de Roraima. A Operação Acolhida, espinha dorsal de todo o esquema de recepção e acolhida desses migrantes, idealizada e executada ainda no governo de Michel Temer (MDB), já não responde adequadamente aos desafios e consequências dessa migração.

AÇÕES 1

Ontem, no programa Agenda da Semana, da Rádio Folha FM 100.3, a porta-voz da Operação Acolhida, a coronel Carla Beatriz, deu informações que corroboram com as posições expostas anteriormente aqui neste espaço. Em síntese, a Operação Acolhida mantém nove abrigos para imigrantes venezuelanos em Boa Vista e dois na cidade fronteiriça de Pacaraima, que em seu conjunto abrigam cerca de 7.000 migrantes, incluindo um grande percentual de crianças. Essa gente abrigada recebe três refeições diárias; tratamento médico básico, prestado por médicos e enfermeiros da Marinha do Brasil; e outras tarefas menores.

AÇÕES 2

Além dos abrigos, a Operação Acolhida mantém uma espécie de abrigo parcial – com oferecimento de local para dormida e banho – para outros 1.100 migrantes que, ao cair da noite, procuram esse local, situado por trás da rodoviária internacional de Boa Vista. Outra atividade fundamental da Operação Acolhida é o processo de interiorização dos migrantes que consiste no encaminhamento de alguns – e esses já ultrapassam a 12.000 – para outros estados brasileiros. E neste caso, são utilizados especialmente aviões da Força Aérea Brasileira. Além disso, o Exército Brasileiro, a quem compete a coordenação da Operação Acolhida, mantém postos de triagem e recepção de migrantes em Boa Vista e Pacaraima, e nesta última cidade é também mantido uma espécie de hospital de campanha.

APENAS

Embora nenhum órgão público, ou mesmo outras organizações da sociedade civil que atuam no acolhimento de migrantes, nem mesmo os órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU), como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), tenham estatísticas confiáveis, um apanhado de informações permite estimar que entre 2015 e 2018 entraram no Brasil, através de Roraima, algo como 150.000 a 160.000 migrantes vindos da Venezuela. A comparação desse dado com o universo dos migrantes atendidos diretamente pela Operação Acolhida mostra que apenas 12% dos migrantes foram atingidos.

CONTINUÍSMO

Isso significa que do ponto de vista da eficácia, algo em torno de 88% da população migrante permanece desassistida pelo esquema de acolhimento humanitário idealizado pelo governo de Michel Temer (MDB) e seguido pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL), inclusive quanto à coordenação dos trabalhos. O atual coordenador, general Eduardo Pazzuelo, que teve rápida passagem como interventor federal na Secretaria Estadual da Fazenda (SEFAZ), foi nomeado para as duas funções pelo presidente emedebista. A bela e heróica história do Exército Brasileiro não merece passar por tal vexame.

ESGOTAMENTO 

Quantos migrantes venezuelanos existem hoje morando em Roraima, especialmente em Boa Vista? Seguramente ninguém sabe, apesar das evidências de que eles são muitos, e num tamanho que se demonstra a cada dia mais desproporcional ao tamanho da população roraimense e muito acima da capacidade das estruturas dos governos locais – estadual  e municipais – de lhes prestarem serviços públicos essenciais de saúde, educação, segurança pública e trabalho. O resultado disso é o esgotamento de tais serviços, que pode ser medido pela criminalidade crescente praticada pelos migrantes; pelos mais de 15.000 atendimentos médicos a eles prestados, considerando apenas a rede hospitalar estadual; pela taxa de desemprego – Roraima tem a maior do país –; e pela deteriorização visível da qualidade de vida da população local.

AGRAVAMENTO

Esse quadro descrito acima tende a se agravar, e num ritmo bastante acelerado. E não precisa ser especialista para concluir isso. Como dissemos no começo da Parabólica, a principal estratégia do governo federal – a quem cabe a maior responsabilidade pelo enfrentamento da séria questão migratória que Roraima enfrenta – a Operação Acolhida dá evidentes sinais de esgotamento e de ineficácia; a ação de outras instituições da sociedade civil e das instituições ligadas à ONU, em que pese sejam meritórias, estão muito aquém da possibilidade de enfrentamento dos gigantescos e greves problemas criados por um fluxo migratório que está muito longe de terminar.

OBA! OBA!

Está passando da hora das lideranças políticas do estado, entre as quais o governador do estado; os prefeitos municipais; e as lideranças políticas (senadores, deputados federais e deputados federais) saírem da zona de conforto e acordar para buscar soluções definitivas, antes que o esgarçamento da situação social do estado traga mais violência e miséria para uma população que até agora pagou o maior preço, por um problema que não é seu. É hora de acabar com o oba, oba, de tirar de foto para serem postadas nas redes sociais. Ninguém se engana com essas bobagens. 

BRUTAL

Só para encerrar: a manchete principal da Folha, de sábado último (15.06) tratou do aumento assustador da criminalidade praticada por migrantes. Ontem, um conhecido empresário, do ramo de material pesado de construção, foi brutalmente assassinado em sua residência, na Avenida Venezuela, por um assassino covarde, possivelmente de origem venezuelana, segundo testemunhas. Não é primeiro caso e seguramente não será o último se as autoridades continuarem omissas como estão.