Opinião

Procure o lado bom 13189

Procure o lado bom

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Os pontos culminantes da vida dos bem-sucedidos geralmente chegam no momento de alguma crise, através da qual são apresentados ao seu outro eu”. (Napoleon Hill) Não é pequeno o número de pessoas que aprenderam com a crise atual. Muitos mudaram de rumo, não dirigidos, mas empurrados pela pandemia. Mirna Grzich já nos mandou um número enorme de exemplos de como devemos considerar as crises: “Bendita crise que vai ampliar minha visão”. Então vamos parar de lamentar a crise, em vez de aprender com ela.

Paralela à vereda do mal está sempre a do bem. Cabe a cada um de nós saber que vereda tomar para caminhar por vias que desconhecemos. O importante é que sejamos o que realmente somos, e não o que pensamos que somos. Você prestou atenção à beleza do domingo, ontem? Não sei onde você estava, mas isso também não importa. O que importa é como você encarou a crise e viveu cada minuto do dia com a beleza exposta.

As crises sempre existiram, e sempre existirão. O que devemos é nos prepararmos para a próxima, depois que vencermos esta. Então vamos vencê-la, sem nos rendermos. “O reino de Deus está dentro de nós”. Então procuremos em nós mesmos o que temos para sermos superiores às crises. Porque elas têm infinitas características. A diferença está em como as vemos e as encaramos. Seja positivo.

Acredite na sua capacidade de superar. Não baixe sua cabeça, nem fique olhando para o bico dos seus sapatos. Erga a cabeça e se olhe no seu espelho interior e veja-se no que você realmente é. E você é um ser humano de origem racional. Todo o poder de que você necessita está em você. Você não precisa ficar procurando-o fora de você. É só entender os acontecimentos, e dentro deles ver em você mesmo, a sua evolução racional. E sua felicidade está onde você está. É só saber vivê-la.

Não permita que qualquer crise faça de você um coitadinho de si mesmo. Seja qual for o acontecimento, não deixe que ele acabe com você. Nunca amanheça seu dia sem dar bom-dia ao dia. Ele está esperando por você para você vivê-lo. Então viva-o feliz, independentemente da crise que está assolando o mundo. Porque ela não é maior do que você se você não se inferiorizar. Sinta-se superior, mas sem arrogância.

Seu valor está no que você é, mas nem sempre no que você pensa que é. Não precisa pensar que é, basta ser. Contemple seu dia, hoje. Não fique preso a más notícias nem a coisas que não valham sua atenção. E sua atenção deve estar no desenvolvimento da humanidade. Ligue-se ao próximo e você será um deles. Você receberá de volta o que doou aos outros. Cresça na racionalidade e será dono de si. Pense nisso.

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NORMOSE

Rafael Parente Ferreira Dias

Professor de Filosofia da UERR

O sol despontou, mais um dia se inicia: lavar o rosto, escovar os dentes, arrumar a cama, tomar café, trabalhar, almoçar, assistir televisão, jantar, interagir nas redes sociais, e, finalmente, dormir. Grosso modo, essa é a implacável rotina de muitas pessoas ao redor do mundo. Durante algum tempo é possível se deliciar na mesmice da vida, sentir algum prazer na realização dos desafios cotidianos.

Porém, até quando você conseguirá se adequar perfeitamente a todas as regras de etiqueta, a todos os moldes estabelecidos pelo “politicamente correto”? Seja qual for a ideia que temos sobre o sentido da vida, é provável que em algum momento da jornada surja em nossa mente os seguintes questionamentos: qual é a razão do meu existir? Por que a vida é tão monótona? A sociedade está no rumo correto? Se tais perguntas ainda não surgiram em você, então cuidado! Talvez você esteja vivenciado a normose 1 .

Mas, o que é normose? Trata-se de um conceito utilizado por alguns psicólogos para descrever uma tendência patológica cuja principal característica é um estado quase hipnótico no qual o indivíduo normaliza todos os eventos da vida, incluindo aspectos negativos, tais como: violência, fake news, preconceito, autoritarismo, trapaça, desigualdade etc. 

Ao aceitarmos passivamente os referenciais simbólicos de sucesso, beleza e prazer estabelecidos pelo sistema, entregamos a nossa mais preciosa qualidade – a individualidade – para ser engolida, triturada pela coletividade. Para sermos “aceitos” pelo grupo, abandonamos os nossos talentos, silenciamos as nossas verdadeiras opiniões, escolhemos um caminho que “outros” determinaram.

 A fim de justificar a manutenção deste tipo de comportamento mórbido, passamos a viver uma vida de aparências, sempre preocupados com a opinião alheia. Desta crise de identidade, surge muitos outros problemas ligados ao psiquismo humano, tais como: sentimento de inadequação, insegurança, medo excessivo. Esses são os reflexos de uma vida irrefletida, representam o subproduto de uma personalidade que não ousou ir além das frivolidades, conformou-se com as imposições sociais, e o resultado prático é um desencaixe existencial, um ser-sem-sentido que contamina a expressão da nossa autêntica individualidade. 

Estando envolvido nas ciladas da moralidade coletiva, não somos capazes de reencontrar a nossa genialidade perdida. Ora, cada ser humano é uma peça única nesse grande xadrez da existência. Devemos estar cientes de que a escolha é um ato gratuito, somos livres para delinear o projeto de vida adequado às nossas aptidões. O movimento em direção à individualidade é em si mesmo um ato heroico, até mesmo poético, pois exige uma dose considerável de coragem, resiliência e determinação. Assumir as rédeas da própria vida e conduzir os pensamentos, palavras e ações na direção das próprias inclinações não é o caminho escolhido pelas massas, mais fácil do que criar as próprias convicções, é seguir cegamente as convicções alheias e este parece ser o caminho escolhido por muitos indivíduos.

A normose constitui-se, portanto, como uma espécie de esquecimento do ser. Trata-se de um anestésico existencial poderoso que embota a consciência, tornando-a uma presa fácil para o sistema. Reflita, leitor, o sistema teria interesse em pessoas com 1 Para maiores aprofundamentos sobre o termo normose, consultar a obra: Normose, a patologia da normalidade. Normose? Seria mais fácil convencê-los a adquirir algum produto? Seria mais fácil convencê-los a apoiar alguma ideologia? A denegrir uma instituição? A assumir certas tendências da moda?

Querido leitor, caso você se sinta afetado pelos efeitos nocivos da normose, não se preocupe, é possível neutralizá-los. Experimente ler novos livros, acessar novos sites, viajar para lugares inusitados, frequentar novos ambientes, ampliar o seu repertório musical e cultural. Alterando os seus hábitos e costumes é possível alterar também a sua forma de ver o mundo; rompa com os grilões da mesmice, divorcie-se dos antigos padrões, crie novas atividades, seja criativo e permita a chegada do novo, do ser-que-sempre-se-renova.