Finanças

Visao de Negocios 26 11 2018 7289

Editorial

O fenômeno do empreendedorismo feminino têm atraído recentemente a atenção de entidades que analisam o mercado e produzem estatísticas quanto à abertura de empresas no Brasil. Ao mesmo tempo em que 955.368 novos negócios foram registrados no país apenas nos primeiros cinco meses deste ano, um recorde apurado pelo Indicador Serasa Experian de Nascimento de Empresas, são projetos encabeçados por mulheres a maioria entre os iniciantes.

Mais precisamente, 51,5% de todas as empresas criadas nos últimos três anos e meio foram abertas por mulheres. O dado consta na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2016, realizada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP).

Fizemos um levantamento junto a várias pesquisas sobre empreendedorismo feminino. São informações que mostram a consolidação das mulheres no mundo dos negócios. E o resultado você irá conferir na coluna desta semana.

Fabiano de Cristo Consultor Empresarial [email protected]

EMPREENDEDORISMO FEMININO: ELAS DOMINAM

Empreender é transformar, gerar movimento. Quem abre uma empresa cria produtos, estabelece novos relacionamentos com fornecedores e colaboradores, gera emprego e renda e se esforça para atender à demanda de clientes cada vez mais atentos e exigentes. Nesse cenário de constante desenvolvimento, a liderança feminina tem ganhado cada vez mais força no mercado.

As mulheres têm aumentado sua representatividade e inovado nas formas de trabalho. Com elas, surgem também novos desafios e oportunidades para serem exploradas nos negócios. Na mesma medida em que as empreendedoras contribuem para o desenvolvimento do país, elas também investem na educação de suas famílias e, assim, possibilitam o crescimento de mais pessoas. O empreendedorismo feminino tem toda essa força. E é também expressivo em termos numéricos.

De acordo com o levantamento mundial Global Entrepreneurship Monitor 2017, que no Brasil é realizado em parceria com o Sebrae, mais de metade dos novos negócios abertos em 2016 foi fundada por mulheres. Elas são mais escolarizadas do que os homens empreendedores e atuam, principalmente, no setor de serviços. A taxa de empreendimentos iniciados no país, desde 2007, oscila entre 47% e 54% para homens e mulheres. Em 2016, a taxa foi de 48,5% para homens e 51,5 % para mulheres. Sinal de que o número de homens e mulheres interessados em empreender é proporcional há anos.

Esse é um caminho de desafios. Mesmo com todo o potencial econômico e empreendedor, as mulheres ainda precisam superar algumas barreiras. As empresas abertas por elas tendem a ter a vida mais curta. As empresárias têm menos redes de contato e nem sempre participam de negócios maiores ou inovadores.

Para a empresa crescer, é importante que empresárias deleguem tarefas operacionais e tenham atenção estratégica. Assumir o controle financeiro é ainda mais relevante nesse cenário. O Itaú Mulher Empreendedora apresentou um estudo de comportamento financeiro feminino. Esse estudo mostra um contexto histórico em que, desde a Idade Antiga, a mulher estava restrita ao ambiente privado e o homem manteve os espaços de participação na esfera pública. Por isso, as mulheres não foram estimuladas a ocupar o território das finanças. Basta pensar que apenas em 1962 elas tiveram acesso ao seu próprio CPF. Ou seja: há apenas 55 anos, elas não podiam ter conta em banco.

Se por um lado as mulheres têm conseguido mais espaço – e isso aumentou suas rendas –, a autoestima financeira­, ou seja, o nível de segurança para lidar com o dinheiro de forma a aumentar sua autonomia, não cresceu na mesma proporção. Segundo o estudo, as mulheres até vêm ganhando mais. No entanto, a autoestima financeira não se desenvolveu junto com esse aumento de renda. O desafio está em fortalecer esse aspecto, em construir confiança para que mulheres possam gerir melhor as próprias finanças e a tomar melhores decisões.

Diante de tantos desafios é que surgiu, em 2013, o programa Itaú Mulher Empreendedora. Trata-se de uma iniciativa voltada para capacitar, inspirar e conectar empreendedoras do Brasil para que elas melhorem o desenvolvimento dos seus negócios. Não se trata de dizer que um determinado gênero é melhor ou pior, mas garantir que, cada um do seu jeito, homens e mulheres têm talentos imprescindíveis para empreender.

RESENHANDO

Você sabia qual é a principal justificativa para uma mulher não abrir a própria empresa? É o medo do fracasso, que assombra 43% delas, indica o Sebrae. Entre os homens, esse índice é de apenas 34%. Não se trata de uma desconfiança quanto às próprias capacidades e habilidades, mas um receio de que o preconceito ainda seja maior do que o reconhecimento da mulher líder empresarial. As mulheres tendem a enfrentar maior dificuldade para se dedicar à vida profissional de forma a conciliar com a vida pessoal. Especialmente quando há filhos, o instinto materno fala alto e pode haver certa culpa por supostamente deixá-los em “segundo plano” durante momentos do dia. Esse é um desafio que depende muito do grau de amadurecimento dela como empreendedora. É preciso encontrar o equilíbrio, de forma que não se perceba prejudicando a vida pessoal em detrimento da profissional e vice-versa.