Opinião

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O Mundo das Cores

João Paulo M. Araujo

Professor de Filosofia da UERR

A reflexão filosófica das cores implica numa via de mão dupla na qual temos de um lado, a natureza da realidade material e do outro, a natureza da nossa mente que percebe o mundo material. Nesse sentido, a discussão filosófica das cores tem como pano de fundo a filosofia da percepção, esta, por sua vez, está implicada em questões metafísicas, epistemológicas, científicas, estéticas e até mesmo semânticas. Assim, os filósofos se perguntam se as cores são propriedades de uma realidade que existe independente de nossa mente e como podemos explicar nossas experiências de cores.

Em seu De Anima, Aristóteles concluiu que as cores são propriedades dos objetos e explicou como os objetos sensíveis coloridos atuam nos órgãos dos sentidos. Com o surgimento da ciência moderna várias concepções aristotélicas foram colocadas em xeque. Leonardo da Vinci em seus estudos concluíra que as cores não eram propriedades dos objetos, e sim, propriedades da luz. Posteriormente, essa visão foi sedimentada com os estudos de óptica de Newton que através de um experimento com o prisma mostrou como a luz branca se decompõe num espectro de cores básicas, sendo elas condições de possibilidade para muitas combinações de cores. Dessa forma temos basicamente duas posturas que tratam das cores como características do mundo objetivo, uma afirma que cores pertencem a objetos e outra afirma que cores pertencem a luz. 

E quanto ao sujeito que percebe cores? Cores são características bem familiares no nosso cotidiano. Em nossa pluralidade perceptual, podemos observar variadas paletas de cores; preferimos umas ao invés de outras e isso muitas vezes se reflete até no modo como nos vestimos, na cor do nosso carro, nas paredes do interior de um imóvel e assim por diante. Todavia, o que é familiar aos nossos olhos torna-se problemático, quando não enigmático, sob o escrutínio do olhar filosófico. Filósofos como Locke, Hume e Russell tomaram a existência das cores como qualidades simples não analisáveis. Assim, cores seriam, em última análise, apenas Ideias ou dados dos sentidos (sense-data), mas isso não explica muita coisa, pelo contrário torna mais problemática a noção de cores.

O debate sobre os dados dos sentidos pode ser situado na primeira metade do séc. XX. Além dos filósofos citados acima, seu postulado está presente em muitos pensadores como Lewis, Moore, Ayer, Price, dentre outros. Contemporaneamente temos Brian O’Shaughnessy como um grande expoente e defensor da teoria dos sense-data. Apesar da discussão sobre os dados dos sentidos ter como questão principal o problema acerca do tipo de acesso que temos ao mundo real, quando representamos objetos dessa mesma realidade muitas vezes levamos em conta a questão das cores. Portanto, no que diz respeito as cores, para um defensor da teoria dos dados dos sentidos podemos concluir que não percebemos cores do mundo objetivo, mas apenas representações de cores, isto é, dados dos sentidos que nos informam acerca de objetos coloridos. Os sense-data estariam entrepostos como mediadores de minha percepção com o mundo, sem garantias de que as cores que vejo pertencem de fato ao mundo real.

Para além da teoria dos dados dos sentidos, pensar em cores é pensar em dois grandes blocos de descrição. Um bloco mais intuitivo e que muitas vezes é traduzido pela experiência de primeira pessoa (subjetiva) e outro bloco relativamente contra intuitivo, ou seja, constituído por uma descrição de mundo em terceira pessoa (intersubjetiva). Uma outra maneira de conceber essa questão é: de um lado existe nossa descrição perceptual de cores tal como fenomenologicamente a experiência de cores nos é dada e, de um outro, a descrição cientifica do que “realmente” acontece quando percebemos cores. Wilfred Sellars (1963) chamou isso de Imagem Manifesta do mundo versus Imagem Científica do mundo argumentando que as duas imagens estão em conflito irreconciliável e que, por seu turno, a Imagem Científica considerada superior, deve eventualmente substituir a Imagem Manifesta por completo. Tal substituição seria nociva para aquilo comumente chamamos de psicologia popular (folk psychology) que compreende noções como crenças, desejos, medos, intenções etc., tudo isso sob a ótica daquilo que chamado de estados mentais conscientes.

Do ponto de vista da nossa subjetividade, a nossa percepção de cores revela alguns problemas. A primeira questão seria uma questão qualitativa acerca da subjetividade das nossas percepções. É algo parecido ao que Thomas Nagel (1974) chamou de um “ser como…” (What is it like to be…). É comum a pergunta: será que a mesma experiência perceptual do vermelho que tenho quando olho para uma maçã é a mesma experiência perceptual de outra pessoa quando olha para a mesma maça? Isso os filósofos chamaram de qualia (palavra latina para qualidades). Os qualia fazem referência aos nossos estados fenomenológicos e qualitativos de consciência. Do ponto de vista subjetivo, intuitivamente podemos afirmar que as experiências de perceber uma maça vermelha não podem ser do mesmo tipo, pois trata-se de dois sujeitos com biografias e contingências heterogêneas. Já do ponto de vista objetivo, outros fatores contribuiriam para a distinção entre os dois tipos de experiência que, grosso modo, seria a maneira como a luz incide sobre o objeto em questão e a posição de cada observador no espaço, desde que seja levando em consideração uma situação espontânea e, portanto, não controlada de percepção de cores.

Ainda no que concerne ao sujeito percipiente, temos as questões acerca da possibilidade de experiências em que ocorrem a inversão no espectro de cores.  A hipótese do espectro invertido remonta pelo menos a John Locke. Posteriormente, outros filósofos como Wittgenstein, Putnam, Dennett, Shoemaker, Block, dentre outros, também se ocuparam desse problema. O problema consiste em saber como dois sujeitos que usam os mesmos termos linguísticos para discriminar cores podem ter diferenças na percepção de uma cor de modo que, por hipótese, a experiência fenomenal de vermelho em um sujeito é a experiência fenomenal de verde em outro sujeito e, no entanto, ambos se referem àquele fato físico como sendo uma experiência de vermelho. Na filosofia da mente a discussão sobre a inversão de espectro tem por objetivo refutar toda e qualquer forma de fisicalismo que negue a existência dos qualia. O argumento repousa na seguinte ideia: mesmo que os fatos físicos sobre cores possam se manter constantes, os elementos subjetivos dos qualia ainda podem variar entre si. Em outras palavras, como afirma Brown & Macpherson (2021) “a cor é um estudo de caso sempre pronto para variação perceptual”.

De um ponto de vista cético, dada as dificuldades em termos de variação cultural, científica, linguística e etc., sempre é possível se deparar com elementos de imprecisão em nosso vocabulário de cores, que por sua vez, abala muitas das pretensões epistemológicas de fundamentação do nosso conhecimento delas. Por conseguinte, torna-se bastante complicado determinar uma
ontologia das cores, isto é, dizer de uma cor o que ela é em si mesma. Como já fora afirmado, sob o escrutínio do olhar filosófico, as dificuldades só aumentam. Para além das dificuldades, o fato é que o estudo das cores, seja ele no campo filosófico, artístico ou científico, pode nos ensinar muitas coisas sob várias perspectivas. Uma vida sem cores seria uma vida extremamente pobre do ponto de vista da nossa Aesthesis, algo análogo ao erro que Nietzsche aponta ao se referir a uma vida sem música.

Aprenda observando

Afonso Rodrigues de Oliveira

“As pessoas inteligentes aprendem mais dos tolos do que os tolos das pessoas inteligentes”. (Marcus Cato)

Os entendidos sempre dizem que os inteligentes não discutem. Por que discutir se você pode estar aprendendo com o que você não concorda? É uma questão de respeito. Não devemos querer que as outras pessoas pensem exatamente como nós pensamos. No dia em que entendermos isso seremos mais inteligentes nas nossas decisões políticas. George Burns disse, e já repeti várias vezes, por aqui: “Pena que todas as pessoas que sabem como governar o país estejam ocupadas a dirigir táxis ou cortar cabelos”. Deixe as discussões políticas com os políticos. Escute-os e procure entendê-los, para você tomar suas decisões. Mas para isso você deve ter uma educação política suficiente para entender o assunto.

Sinta-se responsável pelo que acontece na política. Você é o responsável pelo político que elegeu. Se você não votou nele, preste atenção no papo dos que votaram. Tudo vai depender do nível de sua inteligência. Então cuide-se para entender do assunto e não cair na tolice das discussões tolas. É simples pra dedéu. É só você se educar. Porque enquanto você ficar esperando que os outros o eduquem, vai cair na furada. Aprenda aprendendo a observar com racionalidade.

Abril já se foi e não vemos nenhum trem pelos trilhos da civilidade, nos discursos políticos. Quanta boboquice ouvimos nos discursos tidos como políticos não está no gibi. O que indica que continuamos sendo e tidos como marionetes de espertalhões nada expertos. Políticos que ainda veem a política como a maior fonte de enriquecimento. Quantos pobretões brasileiros não se tornaram milionários na política, não temos as contas. Nem nos interessa. O que nos interessa é que prestemos atenção para aprendermos a aprender com os erros, tanto dos outros quanto nossos. Faça isso.

Na verdade, como povo, não sabemos como governar o País que temos. Então vamos eleger alguém que saiba. E como vamos descobrir qual é o entendido? Só saberemos quando nos educarmos. Então vamos nos educar. Converse com seu candidato ou com seus representantes, e veja se eles estão preocupados com a educação no Brasil. Porque o que temos ouvido por aí, até mesmo de candidatos, sobre a educação é vexatório. E não há uma política sadia sem uma educação eficiente. E a política faz parte da educação. Senão nunca seremos cidadãos. Seremos sempre marionetes, títeres de aventureiros mascarados. Vamos lutar pelo nosso voto facultativo. Mas só o mereceremos quando formos suficientemente educados para as escolhas dos candidatos, nas eleições. Pense nisso.

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