Opinião

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Aprendendo e vivendo

O impacto da educação de qualidade na forma como habitamos o mundo

*Eduardo Fischer

Perguntas valendo nota: quem queremos ser e como queremos viver nas comunidades de que fazemos parte? Como queremos nos relacionar com as pessoas e os espaços que nos cercam?

É impossível pensar no agora e projetar o futuro da vida nas cidades sem voltar nosso olhar para a educação. A escola é uma das primeiras comunidades de que participamos ativamente; uma de nossas experiências iniciais como indivíduos em um espaço coletivo, diverso, que acolhe, desafia e estimula. Que ajuda a construir as respostas para essas perguntas, quando prepara as pessoas para habitarem o mundo de forma consciente, produtiva, sustentável, feliz.

A educação é o maior impulsionador dessa “formação ampla”. O que acontece na escola frutifica nas cidades, na sociedade como um todo, no planeta. É um poder transformador sem limites, que transcende os muros e transpõe barreiras. Eu acredito nisso – e certamente não estou sozinho.

A Agenda 2030 – o compromisso global assumido em 2015 e coordenado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que propõe que governos, instituições, empresas e sociedade atuem para enfrentar os maiores desafios do mundo contemporâneo, orienta seu plano por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; entre eles, educação de qualidade. A MRV&CO é signatária dos ODS – e a conexão da Agenda 2030 com a nossa estratégia de negócios consolidou e dinamizou as nossas práticas ESG.

Nesse contexto, quero destacar hoje uma das iniciativas do Instituto MRV, que desde 2014 canaliza recursos e inteligência para apoiar projetos na área da educação de qualidade – planejando, criando programas, buscando parcerias, reunindo voluntários que pensem como a gente. E agindo. Educação é uma causa central no nosso investimento social.

Unir forças aqui faz todo o sentido. Reunir, conectar – em latim, iungo. Não é por acaso que esse é o nome do projeto estruturado pelo Instituto MRV, em 2020, para promover o desenvolvimento profissional de educadores, apoiar a construção de metodologias que incentivem a aprendizagem e fortalecer comunidades escolares e o ensino em todo o Brasil.

O iungo conecta professores, gestores, centros de pesquisa e especialistas em educação, criando e reforçando redes de práticas de ensino, potencializando o protagonismo dos educadores e gestores escolares na evolução da sociedade. Isso ganha corpo em programas de formação continuada, produção de conhecimento e material de referência e em muitas trocas de experiências – sempre com foco em uma educação com mais significado e qualidade e, principalmente, alinhada com a realidade e as necessidades dos jovens. Especialmente depois da pandemia de Covid-19, que escancarou e agravou os problemas educacionais brasileiros e acentuou o desnível entre rede pública e rede privada, os desafios se tornam ainda mais complexos.

A atuação é voltada principalmente para o Ensino Médio – a etapa mais desafiadora da educação básica e também a que apresenta os piores índices no nosso país. É como um “problema crônico”, de impacto enorme na dinâmica social. Por isso mesmo, o iungo tem a noção de Projeto de Vida – o desenvolvimento integral do aluno e a conexão com o mundo atual – como propósito da escola e como aspecto transversal em todas as suas ações.

O iungo é um trabalho coletivo, que tem como meta principal dar aos educadores novas possibilidades para revigorar e aprimorar suas práticas pedagógicas visando esse desenvolvimento integral. Junto com parceiros – entre eles universidades de excelência como USP, Unicamp e PUC Minas – o iungo estimula e instrumentaliza a inovação na sala de aula, oferecendo cursos, materiais pedagógicos, pesquisas e eventos, com ações presenciais e on-line, sempre gratuitas que, só em 2021, impactaram mais de 180 mil educadores.

Contribuir com a construção de caminhos que favoreçam o desenvolvimento integral das novas gerações é uma preocupação nossa, e o iungo é uma das formas que encontramos para atender aos ODS da ONU; afinal, não há educação de qualidade sem educador qualificado. Como esse, existem outros caminhos possíveis, e eu acredito em seguir sempre buscando e fazendo acontecer.

Sem educação de qualidade, não dá para chegar a uma resposta promissora às perguntas que eu fiz no início. É a aposta mais certeira que se pode fazer em um amanhã como queremos – e tem tudo, absolutamente tudo a ver com pessoas, comunidades, cidades melhores. Com futuro e mundo melhores.

Estamos, tudo e todos, conectados. Então, vamos juntos?

 * Eduardo Fischer é CEO da MRV, empresa do grupo MRV&CO, uma plataforma habitacional composta por marcas que oferecem a solução de moradia adequada para cada necessidade e momento de vida.

A vassourada foi com cabos

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Bendita crise que veio tirar minha ilusão de permanência”. (Mirna Grzich)

Foi ainda nos anos oitentas, quando ainda éramos Território Federal. Anos depois mandei uma matéria para o jornal, falando sobre os cabos de vassouras. Certo dia eu estava em São Paulo, e pela manhã saí com meu cunhado e amigo, já ausente, Cézar. Saímos conversando e fomos comprar o jornal. Quando chegamos à banca de jornais, um cidadão aproximou-se e cumprimentou o Cézar, com alegria. Cézar apresentou-me ao amigo:

– Este é o Afonso, meu cunhado. Ele mora em Roraima.

Quando ele falou a palavra Roraima o cidadão quase pulou, arregalou os olhos e falou:

– Roraima?! Cara o que é que vocês fazem com tantos cabos de vassouras, em Roraima?

Apenas sorri, e fiquei na minha. Sem entender, o cidadão explicou:

– Ontem eu enviei cinco mil cabos de vassouras para Roraima, a pedido do Governo.

Aí entrei na minha e “expliquei”:

– Não. É que estamos próximos às eleições, e fazemos comícios com frequência. E com medida de segurança nós distribuímos um cabo de vassoura para cada participante, para o caso de brigas.

Rimos bastante da brincadeira, e voltei para Roraima, ansioso para descobrir o segredo. Já em Boa Vista comentei o caso com um grande amigo que trabalhava na Secretaria de Educação. Ele riu e explicou. O Governo comprara cinco mil vassouras para distribuir pelos interiores. Só que as vassouras vieram sem cabos. Mas foram distribuídas assim mesmo, enquanto o Governo encomendava e comprava os cabos. Só que no interior o pessoal usou varas como cabos. E quando os cabos chegaram foram armazenados em um depósito, onde permaneceram até uma pequena reforma no prédio, muitos anos depois.

Como os cabos foram distribuídos, não sei. Só sei que meu amigo ganhou uma porção deles e usou-os para fazer “pedrinhas” para jogo de damas. Foi tudo muito legal. E lembrei-me disso, tantos anos depois, quando vinha do supermercado, ainda há pouco, com o pão para o café da manhã. Ainda ali na esquina, um cidadão vinha caminhando com um garotinho de uns cinco aninhos de idade. O garoto contava um causo para o cidadão, que certamente era o seu pai. O que me chamou atenção foi a clareza nas expressões do garotinho. Era como se as palavras viessem de uma pessoa adulta. Curiosamente reduzi a marcha na caminhada, não pelo assunto, mas pela clareza na expressão da criança. E o mais incrível é que a conversa não tinha nada a ver com cabos nem com vassouras. Mas foi exatamente o que me veio à lembrança. O garoto e o cidadão entraram pelo portão da casa e eu segui, pensando em como as coisas fruem à deriva. Pense nisso.

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