Opinião

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Filosofia da Religião

Marcos Alexandre Borges

A Filosofia da Religião é um ramo da Filosofia que se ocupa de conceitos relacionados com a esfera espiritual do ser humano, do modo como pensamos no sagrado e na divindade, no significado e valor da fé, entre tantas outras coisas que fazem parte do fenômeno religioso. Diversas são as questões que constituem este campo de investigação. Por exemplo, sobre a existência de Deus (ou de deuses); sobre o que se entende e como nos relacionamos com a divindade; sobre o que é religião; sobre como se explica a existência do mal; entre tantas outras perguntas deste campo da Filosofia.

Em Filosofia da Religião, a religião é tomada como objeto de análise crítica em seus mais diversos aspectos. Não significa que o filósofo tenha como objetivo, simplesmente, refutar as religiões, ou desqualifica-las. Pelo contrário, visa fazer aquilo que é próprio da Filosofia sobre os conceitos religiosos, e é próprio da Filosofia buscar esclarecer o que for obscuro, entender o que for confuso, conhecer o que for desconhecido. Ou seja, em Filosofia da Religião, faz-se análise crítica dos elementos relacionados ao fenômeno religioso para que os mesmos possam ser questionados e para que seu sentido seja compreendido. Não é por acaso que algumas instituições religiosas, como a Igreja Católica, exigem a graduação em Filosofia, além de Teologia, na formação do sacerdote.

Discussões sobre Filosofia da Religião existem desde aqueles que são considerados pela tradição filosófica como os primeiros filósofos, os pré-socráticos. Xenófanes (570 a. C. – 475 a. C.), por exemplo, criticava o antropomorfismo presente na religião grega de sua época, que atribuía aos deuses características humanas, o que, segundo ele, era um equívoco. Já na Idade Média, São Tomás de Aquino (1225 – 1274), um dos mais importantes nomes da Escolástica, dedicou parte de importantes obras, como a “Suma Teológica” e a “Summa contra os gentios”, para apresentar argumentos de prova da existência de Deus. Na Modernidade, John Locke (1632 – 1704) traz à luz sua “Carta sobre a Tolerância”, uma obra na qual o filósofo inglês discute as relações entre Igreja e Estado, e defende que uma sociedade civil deve ter leis que garantam a possibilidade de existirem diferentes vertentes religiosas (ainda que seja circunscrito, nesse texto, às religiões cristãs), que se respeitem mutuamente sob o valor daquilo que dá título ao texto: a tolerância.

Como escreve Bertrand Russel (1872 – 1970), a religião é um fenômeno complexo, pois envolve um aspecto individual e um aspecto social. Individual porque está relacionado com a espiritualidade, e com elementos muito pessoais, íntimos e subjetivos. Social porque a religião é um fenômeno social. Por exemplo, em grande medida, a prática da religião é realizada de modo institucionalizado, sendo que cada vertente religiosa tem características, regras, e fundamentos, rituais próprios, que devem ser observados por todos aqueles que compartilham a mesma religião.

Enfim, trata-se de um fenômeno extremamente complexo, mas que faz parte muito significativamente da vida de diversas pessoas. Sendo assim, merece ser analisado, refletido, debatido e compreendido, até mesmo para que as práticas religiosas de cada um, a partir de sua religião, possam ser vivenciadas de modo mais significativo.

Se você, leitor ou leitora, tem interesse em saber mais sobre Filosofia da Religião, em conhecer de forma mais aprofundada o que este artigo (que não passa de um brevíssimo resumo de alguns pouquíssimos autores, temas e problemas dessa imensa área de estudos da Filosofia) pretende apresentar, nesta semana, nos dias 17 e 18 de maio, a Universidade Estadual de Roraima, através dos cursos de graduação em Filosofia e de pós-graduação (lato sensu) em Filosofia da Religião, realizarão a terceira edição do Colóquio Filosofia da Religião. O evento será online, gratuito e aberto a acadêmicos e ao público em geral.

A mesa de abertura será no dia 17 de maio, terça-feira, com início às 19 horas, pelo canal da Escola Amazônica de Filosofia no YouTube (link: https://www.youtube.com/watch?v=VTeWoWNe9to). Esta mesa terá como tema geral “Perspectivas em Filosofia e Religião Medievais”, e terá como palestrantes a professora e pesquisadora da UNIFESSP, Cecília Cintra Cavaleiro de Macedo, e o pesquisador da PUC de São Paulo, Pedro Henrique Ciucci da Silva.

No segundo e último dia do evento, 18 de maio, teremos duas mesas de comunicações, também com início às 19 horas, com a participação de pesquisadores de universidades situadas em diferentes regiões do Brasil, e também do exterior. Teremos pesquisadores da UERR e da UFAM da Região Norte; da Universidade Católica de Pernambuco, do Nordeste; da Unifesp e da USP, do Sudeste; da PUC/RS, da região Sul; e da Universidade de Lisboa, Portugal, tratando de diferentes autores, temas e problemáticas relacionadas à Filosofia da Religião.

As inscrições para participação como ouvinte serão feitas durante o evento, via Formulário de Inscrição e Frequência que será disponibilizado no chat da transmissão, tanto no primeiro quanto no segundo dias. A emissão dos certificados de participação será feita a partir do preenchimento e envio do referido Formulário. Todas as informações sobre o colóquio, como as Programações do primeiro e segundo dias, podem ser conferidas no site do evento: uerr.edu.br/cfr. Mais esclarecimentos podem ser obtidos, também, pelo e-mail: [email protected].

Marcos Alexandre Borges é professor do Curso de Filosofia da UERR

Máscaras de proteção: muita história para contar

J.A.Puppio*

Com a pandemia do coronavírus, a máscara de proteção virou item indispensável, sendo procurada e utilizada no mundo todo. O seu uso, porém, se iniciou muito antes do que se imagina.

Se analisarmos o momento histórico em que essa peça começou a fazer parte da vida das pessoas, remonta pelo menos ao século 6 a.C. Em tumbas persas, foram encontradas imagens de pessoas cobrindo a boca com panos.

Ainda era um processo em que o acessório tinha função mais de vestuário do que protetiva. O reconhecimento do uso de máscaras para proteger as vias respiratórias de trabalhadores veio depois. Plínio (79-23 a.C.) citava o emprego de bexiga animal como cobertura das vias respiratórias sem vedação facial com o intuito de proteger contra a inalação do óxido de chumbo nos trabalhos dentro das minas. Outros autores de antes de Cristo também aludiam o uso de respiradores feitos com bexiga de animais para serem usadas por mineiros.

O surgimento da máscara médica, porém, foi relatado no século 14, período em que a peste negra chegou à Europa e provocou a morte de mais 25 milhões de pessoas, entre 1347 e 1351.

Naquela época, os estudiosos acreditavam que a doença se espalhava por meio do ar envenenado, gerando um desequilíbrio nos fluidos corporais das pessoas contaminadas. Eles tentavam se proteger cobrindo o rosto
. A imagem marcante da peste, aquela sinistra máscara com bico de pássaro, só foi aparecer muito tempo depois, em meados do século 17.

Em seu tempo, Leonardo da Vinci (1452-1519) recomendava o uso de um pano molhado contra agentes químicos.

Na fase mais vigorosa da Revolução Industrial, entre 1800 a 1850, começou-se a fazer diferença entre os contaminantes particulados e gasosos, anteriormente reconhecidos somente como “poeira”. Nesse quesito, pode-se dizer que o desenvolvimento mais significativo dos últimos séculos provavelmente foi a descoberta, em 1854, da capacidade do carvão ativo de remover vapores orgânicos e gases do ar contaminado. Nessa época, E.M. Shaw e o físico Jonh Tyndall inventaram o “filtro contra fumaça” para bombeiros, que tinha uma camada de algodão seco para proteger contra particulados, cal sodada contra o gás carbônico e carvão ativo contra outros gases e vapores.

Os avanços mais rápidos relacionados a medidas de proteção respiratória aconteceram, principalmente, durante a Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), com o advento das máscaras de uso militar.

Os alemães desenvolveram aerossóis altamente tóxicos no campo de batalha, forçando à criação de filtros altamente eficientes contra particulados. Um desses filtros foi desenvolvido em 1930 por Hansen e usava lã animal impregnada de resina, com eficiência em torno de 99,99 %. Atualmente, os filtros contra aerossóis utilizam fibras mais baratas, de mais fácil obtenção, com baixa resistência à respiração e com boas propriedades contra o entupimento superficial.

No fim da Primeira Guerra Mundial, a gripe espanhola se tornou uma pandemia global extremamente avassaladora, que vitimou 50 milhões de pessoas. Acredita-se que a propagação do vírus tenha sido impulsionada pela volta dos soldados, que retornavam das trincheiras. A publicação britânica “Nursing Times”, de 1918, divulgou que as freiras da St. Marylebone Infirmary, em Londres, levantaram divisórias desinfetadas entre cada cama dos pacientes. Outra medida adotada era que “cada enfermeira, médico, babá ou assistente” no local tinha que usar uma máscara para se proteger. As pessoas comuns também foram estimuladas a usar máscara. Muitas as improvisaram com gaze ou adicionavam gotas de desinfetante a engenhocas adaptadas embaixo do nariz.

Com relação às máscaras de proteção mais adaptadas ao cenário atual de Covid-19, temos estudos comprovando a maior eficácia dos modelos N95, que se tornaram simbólicas desse período. Ajustado adequadamente ao rosto, o objeto é capaz de filtrar 95% das partículas transportadas pelo ar, como vírus, o que outros apetrechos de proteção não conseguem. Seu uso começou nos idos de 1910.

Contudo, as primeiras máscaras cirúrgicas começaram a ser utilizadas por médicos em 1897. Consistiam em um lenço amarrado ao redor do rosto, mas não foram projetadas para filtrar doenças transmitidas pelo ar. Eram mais usadas para impedir que os médicos tossissem ou espirrassem gotículas nas feridas durante a cirurgia. E assim se seguiram novas possibilidades, mais seguras e efetivas, que nos protegem até hoje.

*J.A.Puppio é empresário e autor do livro “Impossível é o que não se tentou”. www.grupoairsafety.com.br

Quem sabe, sabe

Afonso Rodrigues de Oliveira

“A sabedoria verdadeira se percebe, geralmente, pela modéstia e pelo silêncio”. (Napoleon Hill)

Nunca tente mostrar sua sabedoria através da conversa. Falar sempre na hora certa já é um saber. Um perigo nas discussões. Por que discutir se você está certo? Se você considerar o erro do interlocutor, estará aprendendo com ele. O que já indica sabedoria. Embora ainda não percebamos, nós nunca ganhamos uma discussão. O que acontece é que nos enganamos com a maneira sutil do adversário, com uma parada.

Nada mais inteligente do que ficar na sua quando percebe que algo está errado e ninguém pede sua ajuda para corrigir. Você pode até estar colaborando, corrigindo um equívoco. Mas faça isso em segredo. Aproveite uma oportunidade, ou chame o cidadão em particular e faça a correção, mas sem arrufo. Simples pra dedéu. É só você saber como usar os seus saberes, inteligentemente. O respeito que você recebe é sempre retorno do respeito que você dá.

Via de regra, os sábios não são faladores. E você pode ser um sábio, sem saber que é. Um dia você vai descobrir o porquê do respeito que os outros têm por você. Aí você vai sorrir e se olhar no seu espelho interior. Os inteligentes fazem isso. Os menos preparados riem, porque não acreditam que eles têm um espelho dentro deles.

Nesse fim de semana observei isso em várias conversas a que assisti, entre amigos. Acabei concluindo que a pandemia, que está tentando ir embora, afetou o comportamento das pessoas. Muitas das quais já viveram pandemias anteriores. Mas, mesmo assim, não resistiram à “prisão-domiciliar” imposta pelo covid-19. Felizmente o problema está indo embora, e voltamos a ver que havia muitas outras pandemias antigas, agindo paralelamente. Mas não tínhamos informações sobre elas. O que nos levou a falatórios descontrolados, mostrando que ainda temos muito que aprender para saber viver.

Vamos prestar mais atenção às mudanças atuais, que não são diferentes das mudanças passadas. Somos seres em evolução. E isso porque vivemos sobre um planeta em constante e permanente evolução. Mas a evolução do planeta é infinita. Enquanto a nossa é eterna, num constante e permanente ir e vir. O que nos obriga a evoluir, mas dentro da racionalidade. E o saber faz parte do nosso desenvolvimento. Ou progredimos, ou continuaremos ferindo o desenvolvimento da humanidade. E como fazemos parte dela, vamos cuidar dela.

Respire fundo, maneire nos seus pensamentos e aprenda a aprender com os erros, tantos os seus quanto os dos outros. Não deixe de frequentar a Universidade do Asfalto. É nela que está o saber, embutido na mente sadia. Pense isso.

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