Opinião

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A Filosofia definida a partir de seus problemas Laurinete Rodrigues da Silva* Marcos Alexandre Borges**

Ao longo da História da Filosofia, e também atualmente, são várias as reflexões de diferentes filósofos sobre a questão “O que é Filosofia?”. Dentre as contribuições atuais, e nacionais, temos alguns estudiosos que desenvolvem o argumento de que a filosofia é uma “atividade de resolução de problemas filosóficos”.

Durante a disciplina de “Introdução à Filosofia”, no primeiro semestre do curso de Filosofia da UERR em 2021.2, estudamos autores que desenvolvem argumentos para explicar a “filosofia como atividade de resolução de problemas filosóficos”, e, neste ensaio, vamos pontuar considerações de dois deles: Battisti (2016) e Porta (2004).

No texto a filosofia como atividade de resolução de problemas filosóficos, o professor Battisti (2016, p. 03-04), explica que conforme “atesta a história da filosofia: a filosofia são seus problemas em sua emergência histórica”. Ou seja, parece que a emergência de questões acerca de determinado fenômeno tende a se transformar em problema filosófico. Nesta linha de raciocino, Mário Porta (2016, p. 25), no seu livro “A Filosofia a partir de seus problemas: didática e metodologia do estudo filosófico”, nos esclarece, que a “filosofia não é um caos de pontos de vista incomensuráveis, nem consiste simplesmente em possuir certezas. Trata-se de ter opiniões sobre certos temas bem definidos e sustentá-las em algo diferente de uma convicção pessoal; mais ainda, o núcleo essencial da filosofia é constituído de crenças tematicamente definidas e racionalmente fundadas, senão de problemas e soluções”.

Para Battisti (2016, p. 03-04), entender que a filosofia são seus problemas em sua emergência histórica, significa compreender, no mínimo, três coisas: a filosofia é multiplicidade […]; os problemas garantem uma “origem” externa […]; a noção de universalidade deve ser entendida apenas negativa e relativamente”.

Essa explicação surge quando o autor faz uma analogia entre ciência e filosofia, e conclui que “a ciência tem objetos” e “a filosofia tem problemas” (Battisti, 2016, p. 03). Ao compreender isso entende-se o ponto de partida para compreender a questão “o  que é filosofia?”. Isto é, assim como o cientista não cria seu objeto, apenas recolhe-o e analisa-o, “o filósofo efetivamente não inventa problemas: ele os recolhe, os acolhe e os  transforma em filosóficos” (Battisti, 2016, p. 03). Esse exercício de um filósofo permite que problemas filosóficos se revertam em soluções.

Esses argumentos nos permitem compreender o que é filosofia desde o seu surgimento. Claramente, me
smo se considerarmos o argumento de que filosofia é “amar” ou ter uma
 relação de amizade com a sabedoria – devido ao significado “literal” da palavra “filosofia”: amor pela sabedoria” – é inegável que essa relação exige desenvolver questões, problematizar o que aparece a nós como verdade. Portanto, é apreciável o argumento de Battisti (2016) e Mário Porta (2004), quando nos explicam a filosofia como “atividade de resolução de problemas filosóficos”.

Para Battisti, não é possível definir a filosofia como algo específico no tempo e no espaço. A própria história da filosofia já a caracteriza como múltipla. Portanto, não é possível credenciar à filosofia uma definição universal e absoluta. Conforme explica este autor, “a filosofia é pura indeterminação, a menos que a cada momento histórico, cada autor, cada obra “construa” seu sistema de compreensão”. Ou seja, após destacar “a ausência de objetos filosóficos e de regionalização da filosofia”, bem como afirmar que inexiste “um ponto fixo e privilegiado determinante do fazer filosófico”, o autor conclui que, efetivamente, “são os problemas filosóficos” que dão “determinação, realidade e dinamicidade” à filosofia (Battisti, 2016, p. 05).

Posto isso, uma das questões que fizemos é: mas, afinal, como saber se determinado  problema é filosófico? Sobre essa dúvida, percebemos em Battisti (2016, p. 05) que “problemas se tornam filosóficos por diferentes razões ou mesmo na ausência de razões: muitas delas são desconhecidas, “inconscientes”, insondáveis, inexistentes. Sua determinação histórico-filosófica é uma reconstrução racional importante, mas sempre parcial: a filosofia os acolhe e os faz problemas filosóficos. Não há, porém, uma  explicação completa da eleição deste e não daquele problema em determinado período histórico”.

Neste sentido, para acolhermos e desenvolvermos um problema filosófico é fundamental reconhecer antes de tudo que “um problema é uma estrutura epistêmica” que contém em si “uma dinâmica de investigação” (Battisti, 2016, p. 05).

Quando Battisti fala que um problema possui uma estrutura epistêmica ele expõe que a primeira coisa a se considerar é que “não  problemas sem algo  ser dado ou  conhecido” (Battisti, 2016, p. 05). Sobre esse ponto Battisti (2016, p. 05) esclarece: “isso significa que tampouco há conhecimento a partir do nada (do não conhecimento) nem conhecimento a partir apenas do  conhecido (por não revelar mais nada). Conhecimento é uma equação entre conhecido e desconhecido articulados em forma de problema. A filosofia, não tendo objetos propriamente ditos, tem apenas isso: a estrutura  epistêmica de um problema”. Portanto, nenhum problema filosófico parte do nada, do zero, do inexistente.

Em relação à “dinâmica de investigação” inerente à estrutura epistêmica do problema, Battisti enfatiza que “um problema encaminha alternativas, caminhos, soluções”. Não é por pura discordância que vários filósofos desenvolvem argumentos que desconstroem determinados problemas desenvolvidos por outros filósofos. Efetivamente, “não é porque ele quer rigorosamente começar do zero, mas porque ele quer construir novas articulações sobre as ruínas das outras, novos problemas a partir dos velhos” (Battisti, 2016, p. 05). Ainda sobre esse ponto, cabe anotar a contribuição de Porta (2004, p. 34) quando diz que “o devir filosófico contém uma certa continuidade, um certo sentido, algo assim como uma sedimentação conceitual. O pensamento anterior nunca é simplesmente negado ou esquecido, ele é sempre “superado” e “integrado” no posterior.  O devir não suprime, mas supõe o anterior, e constrói sobre sua base de formas diversas”

Partindo dessa mesma perspectiva que compreende a filosofia como atividade de resolução de problemas filosóficos, Porta (2004) complementa argumentos destacados por Battisti (2016). Para Porta (2004) a leitura de textos de filosofia deve ser pautada pela preocupação em descobrir qual o problema formulado pelo autor para apreendermos a lógica das suas razões. Ou seja, ele defende que para compreendermos os argumentos filosóficos de qualquer pensador devemos reconstruir racionalmente o problema formulado. Para isso, Porta (2004, p. 39) explicita que sempre precisamos fazer três perguntas, sendo a primeira, a mais decisiva, pois dará sentido as demais. As três perguntas são: “a) Qual é o problema (e, dado que todo problema se formula em uma pergunta, qual é, pois, a pergunta do autor?); b) Qual a solução ou resposta? (ou seja, qual é a tese ou conjunto de teses que ele propõe?); c) Quais são os argumentos e fundamentos? (por que ele escolhe uma resposta e não outra?)”.

Isso posto, cabe assinalar que o objetivo deste breve ensaio se cumpre ao assinalarmos argumentos dos autores Battisti (2016) e Mario Porta (2004) sobre a questão “o que é filosofia” a partir da noção de problema.

Para finalizar, gostaríamos de destacar um ponto que nos chamou atenção na discussão realizada por Battisti (2016, p. 04), quando expôs que “as alterações constantes das relações da filosofia com as outras áreas do conhecer, […] jamais abalaram a identidade da filosofia”. Ou seja, a Filosofia permanece conosco atualmente, apesar de constantemente sofrer ataques ou derrotas, como a que tem ocorrido no Brasil, com a retirada da disciplina Filosofia da base curricular do Ensino Médio, através da reforma sancionada na Lei nº 13.415 de 2017, que alterou drasticamente a estrutura do Ensino Médio brasileiro.

Como reitera Battisti (2016, p. 04) “poder-se-ia pensar em certo esvaziamento histórico da atividade filosófica; poder-se-ia pensar que a soma das diferentes ciências daria conta  de todas as nossas inquietações e, portanto, faria da filosofia a pré-história científica. Ocorre, no entanto, que a filosofia continuou firme e forte ao longo dos tempos: os problemas se alteram, mas permanece a mesma filosofia, em constante diálogo entre presente e passado, sem problema de atualidade”.

Portanto, em tempos de avanço do conservadorismo, de retrocessos e ataques à Filosofia, resta-nos procurar entender o pensamento filosófico e defendê-lo mais arduamente. A Filosofia como “atividade de resolução de problemas filosóficos” nos ensina a questionar sempre, a detalhar a estrutura dos diversos problemas que podem ser  transformados em filosóficos. A ação questionadora da filosofia incomoda aqueles que não querem o livre pensar e conhecer, por isso ela é mais fundamental atualmente, porque nos permite o exercício necessário para superar os mitos.

* Professora do Curso de Serviço Social e aluna do Curso de Filosofia da UERR.

** Professor do Curso de Filosofia da UERR.

REFERÊNCIAS

Battisti, César Augusto. A filosofia como atividade de resolução de problemas filosóficos. In. Heuser, E. M. D e Frezazatti, W. A. Textos para ensinar e aprender essa tal Filosofia. Cascavel, PR.: Edunioeste, 2016 (61  69)

Porta, Mário Ariel González. A filosofia a partir de seus problemas. São Paulo: Editora Loyola, 2004.

Construindo a Nação

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Todo legislador sábio deve tudo subordinar à preocupação de assegurar a felicidade e a tranquilidade dos cidadãos”. (Aristóteles)

Legislar com sabedoria não é simples. E nem temos ideia de quando isso vai mudar. Conjugar sabedoria com honestidade tem sido difícil, desde os primórdios da humanidade. E continuamos vivendo e sofrendo este transtorno social. Ainda queremos governar com falácias intencionadas. O que torna mais difícil ser cidadão. Enquanto no formos capazes na nossa luta pacifica, não seremos respeitados como deveríamos ser. Até mesmo quando há intensões de respeito, há desconhecimento e despreparo para a função, na administração.

Aristóteles também disse que: “Só pode ser feliz o Estado edificado sobre a honestidade”. Quem de nós conhece um Estado edificado sobre a honestidade? Mas ainda não acordamos para o fato de que somos nós, eleitores, os responsáveis pela formação do Estado, na base da honestidade. Só que ainda não nos esclareceram isso. Ainda não nos disseram que temos todo o poder de que necessitamos para formar um Estado honesto. E que somos nós, eleitores, que temos o poder de criar e formar administradores com competência para construir e manter nossa felicidade calcada na honestidade.

Só conseguiremos o que merecemos quando formos realmente educados, civilizados e instruídos para sermos o que realmente somos e não sabemos que somos, porque não nos deixam ser: Cidadãos. Ainda somos tidos e mantidos como títeres. E pelo que vemos, atualmente, estão forjando uma campanha para a formação de novos e “instruídos” títeres, de futuros administradores. E o mais grave na caminhada é que os futuros administradores vêm de uma formação anacrônica, ultrapassada, mas alimentadora da nossa ignorância política. Vamos parar com a pantomima da discussão vazia e perigosa sobre os andares da política, na caminhada para o fim do túnel. Vamos nos educar para que possamos ser os responsáveis pelo nosso futuro, pondo em nós mesmos, a culpa pelo desacerto na política.

Só quando formos politicamente educados e civilizados, seremos capazes de sermos cidadãos de fato e de direito. Vamos acordar e perceber que nunca seremos cidadãos respeitados, enquanto formos obrigados a votar. A obrigatoriedade no voto é um cabresto que nos mantém presos à ignorância. E a educação é a carta de alforria, na escravidão eleitoral em que vivemos. E o pior é que somos presos por nós mesmos, pelo nosso desconhecimento político. Ainda continuamos confundindo política, com maracutaia. Vamos parar de gritar e fazer bagunça, e procurar a nossa cidadania. Pense nisso.< /span>

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