Não demorou muito, mas a conta chegou tanto no Governo do Estado quanto na Assembleia Legislativa. E não é nenhuma novidade que, quando a crise se instala, quem paga o pato é sempre o pequeno, neste caso os servidores públicos comissionados. E o curioso é que se tratam de dois poderes que tinham discursos semelhantes de austeridade e saneamento.
Com relação ao Executivo, o governador Antonio Denarium se elegeu pela primeira vez prometendo uma administração saneadora e moralizadora, que ocorreria por meio de uma auditoria e uma reforma administrativa. Não custa lembrar que essa primeira eleição também foi capitaneada com o discurso de que havia recurso, e o que faltava era gestão. Mas nem saneamento nem auditoria e, mesmo assim, a reeleição veio logo no primeiro turno.
Agora, mal começou o segundo mandado e foi dado início à um empréstimo bilionário para supostamente investir na infraestrutura a fim de tocar grandes obras. O valor do empréstimo é de quase R$805,7 milhões, menos da metade do que se especulava desde o início do ano.
O Ministério Público de Roraima (MPRR) tardou, mas já ligou a luz vermelho, recomendando ao governador que exonere cargos comissionados a fim de reduzir despesas com a folha de pagamento, cujo valor alcançou 47,39% nos primeiros quatro meses deste ano, excedendo o limite de 46,55%, que é o teto máximo definido pela Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). A situação é periclitante.
Já em relação ao Legislativo, a realidade não é diferente. O atual presidente da Casa, o deputado Soldado Sampaio, foi eleito com o discurso de moralidade e saneamento, depois que houve um levante e cassaram o então deputado Jalser Renier, o retirando da presidência da Assembleia Legislativa sob a alegação de que havia gastos absurdos, inclusive com ações e programas que seriam atribuições exclusivas do Executivo.
Não só nunca existiu qualquer saneamento por lá, como sequer houve ao menos cortes ou reduções dos programas anteriormente criticados, os quais tiveram o comando divididos entre deputados aliados, que obviamente ocuparam os cargos comissionados aos quais têm direito.
E os parlamentares ainda mantém bônus e gratificações que jamais alguém pensa em reduzi-los ou mesmo extingui-los. Eles têm direito a auxílios alimentação, transporte e saúde, que somam 90% a mais ao salário deles.
Assim, no Legislativo e no Executivo, é bem provável que a degola de comissionados e o corte salarial irão atingir os que não têm padrinhos, os que realmente trabalham e os que ganham menos dos que não dão expediente ou estão sempre “à disposição” de algum outro político ou poder; ou mesmo de quem nem mora no Estado, conforme recorrentes denúncias que surgem aqui e acolá nas redes sociais.
É sempre assim: está em crise? Então, demite o barnabé – ou seja, aquele servidor público de baixo nível hierárquico e os sem-padrinho que dão duro para garantir o salário no fim do mês. Aí começa uma verdadeira caça às bruxas. Não surge uma proposta realmente saneadora, digna de cortes de gastos, que eliminem aquilo que está servindo somente de penduricalhos para os aliados políticos e todos os seus capatazes em tempo de campanha eleitoral. Nem cortes de regalias dos que estão lá em cima.
No final, o povo sempre paga a conta.
*Colunista