A criminalidade em Roraima é um dos grandes desafios para este novo ano, especialmente porque o garimpo ilegal ganhou força novamente na Terra Indígena Yanomami, conforme recentes relatos, com destaque para a região centro-oeste do Estado, entre os municípios de Mucajaí e Alto Alegre, onde há fazendas que abrigam pistas clandestinas.
Como o garimpo ilegal requer uma logística muito onerosa, a associação dessa atividade com outros crimes é inegável, a exemplo do narcotráfico comandado por facções. A sociedade no crime acaba por disseminar a violência nos centros urbanos, a exemplo de Boa Vista, onde o crime organizado coopta jovens nos bairros periféricos.
Desde alguns meses atrás, estão sendo observadas mortes de bandidos por confronto relatados por policiais. Está muito óbvio que a população tem aceitado esse enfrentamento, mas tal cenário merece uma grande reflexão por parte da sociedade, especialmente das autoridades. Quem viveu na década de 1980 já viu cenas semelhantes, quando a criminalidade em virtude do garimpo ilegal também era um problema sem precedentes.
Da mesma forma que bandidos organizados representam uma ameaça aos poderes constituídos, também se torna um problema o surgimento de forças paralelas dentro da estrutura do Estado, com destaque para a Segurança Pública, quando alguns perdem a esperança de que a polícia e a lei não conseguem mais fazer frente à criminalidade e começam a agir por conta própria.
Foi assim que, no passado, surgiram os cemitérios clandestinos e forças paralelas dentro das polícias, as quais não precisavam se associar em milícias, porque eram o próprio poder dentro da estrutura governamental. Desinfectar o poder estatal não foi uma missão fácil, uma vez que não eram mais tão somente bandidos morrendo, mas qualquer cidadão que passasse pela frente do poder paralelo, o qual o papel da polícia, da Justiça e do coveiro.
Essa é a grande questão que precisa de uma séria reflexão no momento. Porque, quando o Estado começa a falhar, sem investir em tecnologia e inteligência, perdendo o controle sobre o avanço da criminalidade, sempre surgem justiceiros que, em um primeiro momento, alegam estar agindo em favor da sociedade, mas, logo depois, o papel de justiceiro ganha contornos cada vez mais violentos e perigosos.
O passado serve para isso, para ser visto pelo retrovisor para que a sociedade não repita erros no presente e no futuro. Pois, toda vez que as autoridades falham, sempre quem paga o preço alto é a população mais pobre. Quem achar que é exagero no que Boa Vista está se transformando, é só dar uma volta na zona leste da cidade, entre Caçari e Paraviana, onde a elite está bem acomodada e segura em suas casas reluzentes, enquanto na zona oeste a pobreza avança subjugada pela criminalidade.
*Colunista