JESSÉ SOUZA

A devastadora ação do garimpo ilegal às margens do Rio Uraricoera revelada por imagens

Área destruída pelo garimpo ilegal entre os anos de 2016 e 2019 (Imagem: Divulgação)
Área destruída pelo garimpo ilegal entre os anos de 2016 e 2019 (Imagem: Divulgação)

Imagens do mesmo local extraídas do Google Earth em anos diferentes, uma em 2016 e outra em 2019, na Terra Indígena Yanomami, mostram os severos estragos provocados pelo avanço da ação do garimpo ilegal às margens do Rio Uraricoera, um dos principais cursos de água do Estado de Roraima que deságua no Rio Branco.

Na confluência dos rios Uraricoera e Tacutu, a 30Km ao norte da Capital, forma-se o Rio Branco, o principal manancial de água potável do Estado e que abastece a maior parte de Boa Vista, além de banhar outros importantes municípios roraimenses até desaguar na margem esquerda do Rio Negro, já no Estado do Amazonas, perto da divisa com o Estado de Rondônia.

A grande conexão desses mananciais mostra a extensão dos reflexos do garimpo ilegal no Vale do Rio Branco e no Bacia do Rio Amazonas.  Pesquisas já mostraram a contaminação de peixes da região e de comunidade inteira de indígenas Yanomami por mercúrio, conforme foi relatado no artigo “Nova pesquisa apontará extensão da contaminação do mercúrio nos rios de Roraima”, publicado em 28 de agosto passado.

Comparação de imagens dos anos de 2016 e 2019 aponta os estragos provocados pelo garimpo ilegal (Imagens: Reprodução)

O forte impacto do garimpo não se resume à saúde indígena, conforme já mostrou pesquisa realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, a Fiocruz, apontando a contaminação de mercúrio pelo consumo de peixes e água contaminados. Conforme os estudos, a água também contamina a vegetação com o mercúrio. Para piorar ainda mais, com a incidência do fogo em períodos mais secos, com as queimadas o mercúrio é lançado no ar e chega a áreas muito mais distantes.

A poluição dos rios Uraricoera e Rio Branco também é visível a olho nu a partir da coloração escura de suas águas, inclusive na Capital, resultado da brutal destruição provocada pelo garimpo ilegal nos últimos anos, que devasta florestas e leitos de rios e igarapés, além de derrubar imensos barrancos de suas margens, provocando assoreamento dos mananciais.  

O Rio Mucajaí, que também deságua no Rio Branco no Município de Mucajaí, é outro severamente atingido pela destruição do garimpo, inclusive a poluição do manancial pode ser constatada não só pela coloração da água, mas também pela lama e lodo que se acumulam ao longo do rio, inclusive chegando até as Corredeiras do Bem-Querer, já em Caracaraí.

O garimpo ilegal em terras indígenas no país se intensificou ao longo dos quatro anos do governo anterior, com expansão de garimpos na Amazônia brasileira quadruplicando entre 2010 e 2020, conforme um dossiê publicado pela Aliança em Defesa dos Territórios, entidade criada em 2021 por povos indígenas.

No entanto, seguidas operações e maior rigor na fiscalização levados a cabo pelo atual governo vêm provocando não só a redução da ocupação garimpeira como também queda brusca na extração do ouro. E as constantes operações da Polícia Federal para desarticular o crime organizado que se formou no âmago do garimpo ilegal também ajudaram a sufocar a atividade ilegal. Mas esse é assunto para o próximo artigo.

*Colunista

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