A Educação a peso de ouro: uma barra para o pastor e um bracelete para o ministro
Jessé Souza*
Aparentemente, nada tem a ver o garimpo ilegal com o Ministério da Educação e Cultura (MEC). Apenas aparentemente. Porque os últimos acontecimentos políticos já revelavam que, dentro do esquema montado por pastores evangélicos para liberar verbas do MEC, um deles chegou a cobrar uma barra de ouro como propina.
Os desdobramentos dos fatos mostram que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, se reuniu com o prefeito de Centro Novo do Maranhão, Junior Garimpeiro (Progressistas), cinco dias depois de sair da prisão sob suspeita de integrar uma organização criminosa armada que atua no garimpo ilegal de ouro.
O prefeito havia sido solto após ter sido preso, pela Polícia Federal, acusado de extração e venda ilegal de ouro há pelo menos três anos. Esse esquema foi responsável pelo desmatamento ilegal de mais de 60 mil hectares de áreas para abertura de garimpos, sem autorização dos órgãos competentes.
Aqui está a questão: o governo tem fortes ligações com empresários de garimpo e, na frente política, tem feito de tudo para não só impedir demarcação de terras indígenas, mas retirar áreas demarcadas dos indígenas, bem como uma grande mobilização no Congresso para legalizar o garimpo e facilitar a garimpagem artesanal a fim de abrir caminho para mineradoras.
Embora sejam fatos distintos e parecer um fato corriqueiro – um ministro ter contato com um prefeito para tratar de liberação de verbas, durante um jantar -, há um encontro de esquemas, o de liberação de verba por meio de negociação com pastores; e a afinidade com políticos que são não somente favoráveis ao garimpo, mas que também são acusados de crimes praticados no garimpo ilegal.
E não há nem como negar o fascínio pelo garimpo, uma vez que o prefeito Junior Garimpeiro presenteou o ministro com um bracelete de ouro. Embora não haja ilegalidade no ato de uma autoridade receber um mimo, não se tratou de qualquer presente, mas de ouro provavelmente extraído ilegalmente, por isso, como ministro e um cidadão evangélico, que preserva princípios, deveria ter se negado a receber o bracelete de ouro.
Enquanto a cena de promiscuidade garimpeira se desenrola na esteira de um esquema de favorecimento de verbas da Educação para pastores evangélicos, o garimpo ilegal avança no país, com grande destaque para o que ocorre na Terra Yanomami, em Roraima, onde os garimpeiros se apoderaram da pista de pouso dentro daquela área indígena.
A base aliada do governo Bolsonaro (PL) tenta aprovar os projetos de liberação do garimpo de forma urgente, no Congresso, na mesma pressa que o crime organizado (de facções ou de políticos) se apodera das frentes de garimpo em todo o país. O bracelete de ouro do ministro da Educação parece reluzir um pacto formal dos políticos e religiosos que até então era desconhecido da opinião pública.
*Colunista