AFONSO RODRIGUES

A força da amizade

“A amizade duplica as alegrias e divide a tristeza”. (Frances Bacon)

Ainda bem que as pessoas continuam entendendo as brincadeiras. Continuo com o hábito de brincar com as pessoas. Ainda bem que me eduquei nas brincadeiras. Ontem foi uma manhã terrível para um idoso sem sangue suficiente. Foi o que aconteceu com ele. Uma bateria de exames para fazer. E ele, pra variar, totalmente desorientado. Exame marcado para o dia 19. E teria que não comer qualquer coisa depois das 17 horas, do dia anterior aos exames. Passava das 22 horas quando ele gritou: ai meu Deus! E agora, Tinha? Esqueci-me de jantar antes das sete, e agora, que estou caindo de fome e não posso mais comer? Ela sacudiu a cabeça e respondeu: Lamento, mas não posso fazer nada.

O cara dormiu com fome e levantou-se às seis da manhã e teve medo de beber água, porque poderia fazer mal no exame. Se foi, para os exames. Uma caminhada muito longa até o local dos exames. E foi aí que a jiripoca piou. Rodou, rodou, desorientado, sem saber onde se apresentar. Foi até a recepção, olhou para a atendente e falou sério:

– Sei não. Mas ela me mandou pra cá, mas me disse que era na decepção. Ela não falou recepção, mas decepção.

A moça riu com alegria e o orientou. E novamente a jiripoca piou. A moça chegou com cinco tubinhos compridinhos, e levou muitos minutos para encontrar uma veia no braço do idoso. Já se conhecendo, ele sugeriu que ela tentasse o braço esquerdo dele. Ela foi legal e aí encontrou a única veia do braço esquerdo. E o azar foi do idoso que apavorado, começou a contar a quantidade de sangue que ela retirava. Quando ela encheu o quinto tubinho, ele concluiu que ela teria tirado 2 litros de sangue da sua veia. Mas não se desesperou. Apenas pensou em perguntar para a moça se teria sido mesmo dois litros. Mas deixou para lá, despediu-se da moça e voltou para casa, com prazo marcado para voltar, para pegar o resultado dos exames.

Voltou à caminhada de volta para casa. Agora preocupado com a caminhada, agora com trânsito maluco, e dificuldade para atravessar as ruas.  A fome já era tão grande que ele nem conseguia mais se lembrar dela. Finalmente chegou à casa tranquila. Passava das dez e todo mundo ainda dormia. Ele entrou devagarzinho e foi acordando o pessoal. Beliscou o braço da Tinha, ela acordou e perguntou:

– Já foi fazer exames? E por que não me acordou na saída?

Ele não falou nada. Foi fazer o café, amassar as bananas com veia, bebeu muita água e depois comeu muita banana amassada com mel, aveia e canela. Rimos muito e recuperei o sangue que a moça tirou do meu braço esquerdo. Pense nisso.

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