AFONSO RODRIGUES

A força do palhaço

“Já gritei e pulei de tanta felicidade, já vivi de amor e fiz juras eternas, “quebrei a cara” muitas vezes! (Charlie Chaplin)

Não há quem não se divirta com o trabalho de um palhaço. E nunca entendi por que o pessoal chama de palhaço os que erram. O que indica que somos vizinhos. Mas vamos deixar os tolos pra lá, e vamos nos divertir com os palhaços. Eles são profissionais de verdade. Eu era criança e morava em Macaíba, no Rio Grande do Norte. Sempre que o circo chegava à cidade e era montado, o palhaço saía pela rua, acompanhado de pessoas que por acompanhá-lo ganhavam o ingresso para o espetáculo.

Dizem que certa vez um palhaço estava dando um espetáculo em um auditório. E não foi em Macaíba, só ouvi essa historinha marota. O palhaço contava casos que eram mais causos. O auditório lotado. Muito riso e aplausos. Na fila da frente das bancadas tinha um senhor já idoso, aposentado militar, e carrancudo. Não sei qual era o posto dele na aposentadoria, mas devia ser bem alto, pelo seu comportamento. Toda vez que o palhaço contava uma piada que parecesse anormal para o cidadão aposentado, ele criticava como reprimenda. Mas o palhaço não estava nem aí. Continuava seu trabalho com calma e seriedade.

Foi aí que ele contou o caso bem interessante que certa vez outro palhaço fizera em Macaíba, na minha infância, que faz tempo pra dedéu. Na caminhada pelas ruas o palhaço cantava alguma música estranha, os acompanhantes riam e cantavam também. E uma das músicas que me trouxeram esse papo, foi: “Eu vi uma velha lá em Macaíba, tomando chá de copaíba”. Só que o palhaço, maldosamente, não falava copaíba, mas, cupaíba. E ele fazia isso maldosamente. E foi aí que o palhaço de muitos anos depois, fez no palco, e irritou o cidadão aposentado. O reboliço formou-se e divertiu para dedéu.

Depois de ser tantas vezes repreendido pelo cidadão aposentado, o palhaço resolveu provocá-lo. Imaginou que ele seria, pelo seu comportamento, um militar aposentado. Não vacilou, e fez a seguinte pergunta para o auditório:

– Qual a diferença entre um general e um balde de ferro e furado?

O riso foi geral, e o barulho irritou o aposentado que levantou o braço e gritou:

– Eu não permito que se brinque assim com as autoridades! Quero respeito!

O palhaço não se intimidou e continuou perguntando:

– Alguém tem uma resposta?   

Com intenção de evitar mais confusão, um cidadão logo atrás do aposentado levantou o braço e falou:

– Eu tenho a resposta. Posso falar?

O auditório ficou em silêncio e fez euforia batendo palmas. E o cidadão falou:

– É QUE O GENERAL JÁ FOI SOLDADO. E O BALDE AINDA NÃO. Pense nisso.

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