Jessé Souza*
Os fatos indicam que todo mundo fez questão de esquecer daquela grave denúncia feita no final de novembro de 2021, quando o então deputado Jalser Renier, que detinha o poder absoluto naquele momento, foi cassado e saiu denunciando que 80% dos deputados faziam a prática de “rachadinha” na Assembleia Legislativa de Roraima, a qual ele presidia.
Para quem ainda não sabe, a “rachadinha” é aquela prática de contratar servidores que ficam apenas com uma parte do dinheiro do salário do mês e devolvem a outra parte para o deputado dono da vaga. Geralmente tal servidor é lotado no gabinete parlamentar e nem chega a dar expediente.
Trata-se do mesmo modus operandi do esquema que ficou popularmente conhecido como “gafanhoto”, caso este que levou à condenação de vários políticos, entre eles o próprio deputado cassado, que chegou a cumprir pena, assim como o ex-governador Neudo Campos, e até conselheiros do Tribunal de Contas.
O tempo passou, os deputados conseguiram eliminar o Jalser e uma nova legislatura se instalou. Boa parte dos deputados daquele tempo retornou, mas nunca mais se ouviu falar daquela grave denúncia. No entanto, nos últimos meses, começaram a surgir novas denúncias de supostas contratações indevidas, desta vez de familiares de políticos influentes que estariam contratados com supersalários sem trabalhar.
As autoridades não podem, mais uma vez, fingir que não estão sabendo de nada, pois os indícios são fortes, com ampla repercussão nos grupos de compartilhamento de mensagens instantâneas, e existe o Portal de Transparência que pode facilmente ser acompanhado inclusive por um cidadão comum que tenha um celular com internet.
Já não bastam os recorrentes casos sobre corrupção que vêm ocorrendo de longas datas, cujos envolvidos sequer são acossados pela Justiça e continuam agindo como se nada tivesse ocorrido no verão passado da política roraimense.
Até aqui, nesses últimos anos, as investigações e condenações judiciais só ocorreram do lado dos políticos sem mandato, como vem ocorrendo com a ex-governadora Suely Campos, condenada duas vezes, em menos de dois meses, por atos de improbidade administrativa, além de uma acusação de peculato.
Até casos de ampla repercussão nacional, como o do dinheiro na cueca, parece ter sido normalizado como se fosse apenas um meme da vida real, com a população fingindo estar diante apenas de uma lenda urbana. Da mesma forma que todos ignoraram a denúncia de Jalser, colocando bem guardada na gaveta da amnésia coletiva, facilitando a omissão de quem deveria fiscalizar.
Na podre e pobre política, os fatos são assim, em que as denúncias surgem, mas são ignoradas porque há grandes interesses por trás (já esqueceram do secretário de Saúde que se demitiu atirando para todos os lados?); ou porque a opinião pública já normalizou a bandalheira geral porque, de alguma forma, se beneficia dessa mesma podre e pobre política a cada dois anos.
*Colunista