A grande preocupação
O que mais preocupa no avanço da candidatura do deputado federal Jair Bolsonaro (PSL) não é só o seu comportamento ultraconservador, defendendo o belicismo, elogiando torturadores do regime militar, atacando os gays e reforçando a intolerância a temas ligados a qualquer tipo de minoria. A grande preocupação é que esse político nunca administrou sequer uma cidade que o habilite a comandar o Brasil.
Militar da reserva que seguiu a carreira política, atualmente está no seu sétimo mandato na Câmara dos Deputados do Brasil, ou seja, quase três décadas em um confortável emprego e, para quem quer se o líder maior de um país, vê-se ausente das discussões de seu Estado, o Rio de Janeiro, nem nunca quis encarar a administração da Prefeitura ou mesmo daquele Estado.
É isso o que realmente preocupa, pois ninguém conhece suas verdadeiras intenções, a não ser os repetidos jargões e seu comportamento de não-diálogo quando questionado sobre seus pensamentos, propostas e planos para governar o Brasil. O Rio quebrou por causa da corrupção e teve que passar por uma intervenção federal na segurança pública, mas Bolsonaro passa ao largo das discussões.
Essa é a grande diferença dele para Donaldo Trump, presidente dos Estados Unidos, que ganhou as eleições na maior potência mundial com um comportamento explosivo e se comportando de forma politicamente incorreta, exalando homofobia, machismo e xenofobia. Se Bolsonaro nunca administrou uma bodega – como diz seu crítico e também pré-candidato à Presidência do Brasil, Ciro Gomes (PDT) –, Trump já era um empresário milionário, que comandava um império.
Nos EUA, Trump continua com seus rompantes e não consegue colocar em prática tudo aquilo que bradou na campanha eleitoral, mesmo ele sendo um empresário poderoso, mas que não consegue ter o poder acima do establishment (a elite social, econômica e política de um país) norte-americano.
A não ser repetir jargões, reagir energicamente ao ser confrontado e defender visões ultranacionalistas e conservadoras, teria Bolsonaro competência para administrar o Brasil, que precisa muito mais que um espetáculo visual e uma verborragia que soa bem aos ouvidos de quem perdeu as esperanças nas vias democráticas?
O Brasil definitivamente não tem a mesma realidade dos Estados Unidos, onde o establishment não se importa em ter um maluco com um Twitter no celular e um microfone presidencial para falar seus rompantes. O Brasil não se dá ao luxo de ter um presidente figurativo ou teatral. Fosse assim, Dilma (a quem muitos a chamavam de anta) estaria até hoje fazendo seus discursos antológicos…
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