JESSÉ SOUZA

A gritaria sobre áreas ambientais e o caso da reclassificação da Flona Parima

Imagem mostra a localização da Flona Parima, que já era a Reserva Florestal do Parima desde 1961 (Foto: Reprodução)

Por mais contraditório que seja, já houve policial federal defendendo o garimpo ilegal na Terra Indígena em Yanomami, durante entrevista. E por mais absurdo que possa parecer, o presidente da Fundação Estadual do Meio Ambiente e de Recursos Hídricos (Femarh), Glicério Fernandes, a quem compete defender o meio ambiente, no fim de semana concedeu entrevista à Rádio Folha criticando a criação de áreas de conservação em Roraima.

O absurdo se amplia na mesma medida em que são divulgadas informações distorcidas, especialmente sobre a unidade de Parima, localizada no Município do Amajari, ao Norte de Roraima. O que ocorreu ali foi apenas uma reclassificação, sem tirar nem pôr mais nada. A Reserva Florestal do Parima já existia desde 1961, com uma área de 109.484 hectare, portanto há 62 anos, ou seja, há mais de meio século de existência sem provocar nenhum escândalo ou crítica de políticos ou quem quer que seja.

Com a reclassificação, a reserva passou a se chamar Floresta Nacional (Flona) do Parima, o que significa que, agora, a área se caracteriza como uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável de acordo com o Sistema Nacional de Unidades de Conservação. Ninguém será desapropriado ou  prejudicado. Nenhum município ou assentamento está sob ameaça. Chegaram até a divulgar fake news, pregando que a Serra do Tepequém iria ser incluída na área. Tudo balela.

Por isso, é incabível o posicionamento de políticos e autoridades a respeito da criação da Flona Parima, que fica em uma região atacada severamente pelo garimpo ilegal, por grileiros de toda espécie e que abriga os principais mananciais de água potável, a exemplo do Rio Uraricoera, afluente do principal curso d’água do Estado, o Rio Branco, que por sua vez é afluente do Rio Negro, no Amazonas. Então, trata-se de uma região estratégica para preservar os recursos hídricos para as futuras gerações.

Embora contraditório, o posicionamento de quem comanda a Femarh não chega a ser uma surpresa em si, nem para quem acompanha a realidade em Roraima, pois, em 07 outubro de 2021, a Polícia Federal desencadeou a Operação Urihi Wapopë que localizou uma empresa que armazenava combustível ilegalmente em uma Área de Proteção Permanente com licença ambiental emitida pela Femarh, levantando suspeitas quanto a regularidade da emissão da autorização.

E não custa lembrar que operação ocorreu no Município de Mucajaí, em uma empresa investigada por suspeita de fazer parte de uma organização que dava apoio logístico à exploração do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami.  E lá foi encontrado querosene para abastecer aeronaves armazenado. Também não custa lembrar que, naquela época, o Governo de Roraima sancionou uma lei autorizando o garimpo e outra que impedia os agentes estaduais de apreenderem materiais e equipamentos de garimpeiros.

Então, não se pode subestimar as forças nem um pouco ocultas que agem no Estado para confundir a opinião pública e defender interesses próprios ou escusos, visando tão somente avançar a grilagem, os tentáculos do garimpo ilegal, abertura de fazendas de gado que abrigam pistas clandestinas e outras situações que estão sendo investigadas pela PF nas seguidas operações.

Há muito mais significados na fala do representante do governo, quando crítica áreas ambientais, a respeito da falta de estrutura nos assentamentos e no desenvolvimento das populações que vivem no entorno das áreas protegidas. O Governo do Estado, por exemplo, sequer consegue dar estrutura mínima às estradas de acesso para a Serra do Tepequém, nem promove a regularização fundiária de quem lá mora e vive exclusivamente do turismo. Isso só para constatar o nível das falácias.  

*Colunista

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