Opinião

A influencia da escravidao nao se desenraiza num dia 15883

KinoMakunaima 4:

Resiliência ‘hermana’ no filme ‘A Bici de Ramon’

Éder Santos

O fluxo de venezuelanos para o Brasil é um dos eventos migratórios mais importantes da América Latina e uma das histórias de mobilidade humana mais impactantes de todos os tempos, que ocorre em nossa região de fronteira amazônica. A partir de 2014, a Venezuela entra em recessão econômica. No ano seguinte, a taxa de inflação atinge o valor mais elevado da história do país. É bem do nosso lado que existem grandes quantidades de jazidas de diamante, ferro, cobre, alumínio, bauxita, coltan (minério de alta resistência utilizado para fazer celulares e notebooks), urânio e gás natural. A Venezuela tem uma das maiores reservas de ouro do mundo e a sua maior riqueza natural que é o petróleo. Entretanto, o país entra em colapso, notadamente, com o embargo feito pelos Estados Unidos.

Não é novidade que os EUA tenham interesse nos territórios dotados de bens naturais seja qual for a nação. Os fracassos no Oriente Médio podem explicar parte das intenções dos EUA em retomar a exploração de países latino americanos. Os ataques militares dos EUA e seus aliados ao Oriente Médio, que deixaram milhões de vítimas, somados as campanhas midiáticas, ainda assim não permitiram o controle dos territórios de países como Iraque, Afeganistão, Iêmen, Líbia, Sudão e Síria. A aproximação da Venezuela com a Rússia, que mantem acordos de cooperação militar, econômica e cultural, assim como a China, principal credora do país, não é bem vista pela Casa Branca, que age para afastar qualquer força progressista em países latinos por meio de sanções econômicas e ameaças militares. 

  Não interessa aos EUA o projeto de integração econômica do Mercosul, como a iniciativa da Venezuela [em 2000] de promover e dominar a venda de petróleo aos países caribenhos. Nenhum tratado de comércio latino que seja alternativo ao imperialismo norte-americano é bem-vindo nesse processo, incluindo o comércio do petróleo em moeda chinesa, em euro ou em moeda indiana, pois tal desdolarização do comércio mundial enfraquece a hegemonia financeira dos EUA. Tais fenômenos são importantes para compreensão da crise nos país hermano, somado a falta de habilidade política dos governos de Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Assim, surge um dos capítulos mais trágicos para milhares de venezuelanos (as) que buscam refúgio imediato no Brasil ou na Colômbia.

O estado de Roraima faz fronteira com a Venezuela [e Guiana]. Durante décadas famílias roraimenses usufruíram desta posição geográfica privilegiada para fazer compras na Venezuela, pois a moeda brasileira tinha seu valor frente ao bolívar. Comprar mercadorias na cidade fronteiriça de Santa Helena de Uiarén era uma boa opção e um passeio de fim de semana para os brasileiros. Além disso, o turismo na Venezuela estava na ordem do dia, pois acessar lugares como a Ilha de Margarita, as praias El Água e Chichiriviche era bem fácil para os turistas brasileiros. Com a crise, foi a vez dos venezuelanos ingressarem no Brasil. Os migrantes  encontraram acolhimento. Por outro lado, esbarraram no preconceito, ódio e na resistência, pois no Brasil, o racismo estrutural é um problema de formação histórica.

Tratar a questão da migração venezuelana no cinema tem sido uma preocupação dos cineastas que moram no Brasil, com olhar sensível e corajoso, têm promovido uma imersão visual e sonora no universo das famílias de nossos hermanos. O curta de ficção “A Bici de Ramon” torna-se uma película necessária no debate sobre desigualdades sociais, racismo e direitos humanos. A direção cuidadosa de Benjamin Mast, com assistência de direção de Adriana Duarte, ambos de nacionalidade venezuelana, demonstram que o tempo no cinema ficcional é o tempo do drama vivido diariamente pelos migrantes na cidade de Boa Vista. Este espaço geográfico, fotografado com maestria no filme, quase sempre mantém pontos de fuga. Uma fuga que também diz respeito aos problemas econômicos para voltar a sonhar. Nesse caso, o sonho do protagonista (Ramón) é comprar sua bicicleta. O transporte não é o fim, mas o meio que permitirá o livre trânsito na cidade para o trabalho, para o lazer, para o romance. Uma vida em movimento, tal qual é a vida de quem atravessa o processo doloroso da migração impulsionada pela perspectiva histórica-estrutural.

 Ele e seus conterrâneos trabalham duro, capinando quintais, limpando para-brisas em faróis, vendendo bugigangas nas esquinas, recebendo pouco, mas trabalhando muito e tentando a sorte para sobreviver. Os diálogos bem construídos comunicam, pela palavra, os dramas vividos com direção de som e captação cuidadosas e comovente trilha sonora. A Bici de Ramón é um sonho que é roubado diariamente, na medida em que há no Brasil o ódio ao diferente, ao afro-indígena, fenótipos presentes nos migrantes. Esta espacialidade urbana em transe é o mosaico de um possível “aglomerado humano de exclusão” que precisa ser compreendido e resolvido, como preceitua os acordos internacionais assinados pelo Brasil. O filme demonstra que estes corpos lutam para voltar a sonhar, a trabalhar dignamente e, principalmente, a amar. Uma escolha que, em tais condições, pode até anular as outras opções, como é demonstrado no curta, mas nunca os impedirá de ir à luta.

Éder Santos é cineasta, jornalista, sociólogo, doutorando em Geografia Humana pela UNIR, presidente da Associação Roraimense de Cinema e Produção Audiovisual Independente, pesquisador do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Modos de Vidas e Culturas Amazônicas (GEP Cultura/UNIR) e da Mostra Internacional do Cinema Negro (SP). E-mail: [email protected].

A influência da escravidão não se desenraiza num dia

Helano Márcio Vieira Rangel

Docente do curso de Direito da Estácio

 

 

O dia 13 de maio nos recordou de relevante data histórica para o Brasil: a Abolição da Escravatura. Cicatriz social maior não há – vitimar centenas de milhares de pessoas a trabalho forçado e condições desumanas por conta da cor da pele. A Lei Áurea de 1888 promoveu alforria aos escravos no país. Não obstante, a lei não promoveu a inclusão social dos recém-libertos, nem criou mecanismos para sua qualificação. Desse modo, muitos se mantiveram na Casa Grande, o que gerou uma cultura de desvalorização do trabalho doméstico que persiste até os dias atuais.

 

Vale ressaltar que a abolição da escravatura é fruto de um processo histórico de pressões externas vindas do Império Britânico, ávida por vender produtos de sua pujante indústria, e de pressões internas de abolicionistas como Castro Alves, Joaquim Nabuco e José do Patrocínio, entre outros. Em algumas regiões, a luta pela abolição intensificou-se bem antes da promulgação da Lei Áurea.

 

Não se pode olhar o passado sem conectá-lo ao presente. Infelizmente, ainda hoje, a exploração do trabalho humano persiste em nossa sociedade. Situações de exploração de pessoas em condições análogas à escravidão subsistem no campo e na cidade, entre brasileiros e imigrantes ilegais, do agronegócio às empresas de facção de costura.

 

Precisamos desenvolver políticas públicas para garantir o fim da escravidão contemporânea. Sociedade e forças constituídas como o Ministério do Trabalho, Polícia Federal, e o Ministério Público do Trabalho, todos precisamos ser parceiros em denúncias e apuração de crimes.

 

Os grandes problemas estruturais da sociedade brasileira não se resolvem na letra de uma lei. Padrões culturais levam séculos para se transformar e exigem grande esforço em educação e inclusão social. Como diria Joaquim Nabuco em sua clássica obra “O Abolicionismo”, – “a influência da escravidão não se desenraiza num dia”.

Fique atento aos conhecimentos

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Nossos conhecimentos aumentam sempre, através dos nossos atos, em qualquer hora e lugar em que nos manifestamos”. (Waldo Vieira)

E o crescimento depende de nossa atividade com o conhecimento da nossa evolução. O que nos leva a ser mais cuidadosos com nosso comportamento. Porque somos nós os responsáveis por nós. E como nem sempre nos vemos como realmente somos, precisamos ter mais cautela em nossas atitudes no dia a dia. Pena que as escolas não nos ensinem isso. E como santo de casa não faz milagre, fica difícil pra dedéu, os pais passarem esse recado para os filhos. Normalmente os filhos só se atentam para os ensinamentos dos pais, quando já adultos. E muitas vezes, quando já muito adultos.

O Paulinho da Viola nos chama a atenção, através da música: “Meu pai sempre me dizia, meu filho tome cuidado, quando eu penso no futuro não esqueço meu passado”. Lembrar o passado sempre nos traz crescimento. Porque tanto podemos pensar em coisas agradáveis como nas desagradáveis do passado. E é com elas que aprendemos a aprender tanto com os acertos quanto dom os erros. E quando aprendemos com os erros do passado não os cometemos no presente. E é por aí que construímos o futuro. E podemos e devemos passar para nossos filhos, recados que podem lhes ajudar a refletir no futuro. Mesmo que os recados sejam os mais simples possíveis. Milha mãe, por exemplo, quando éramos crianças e começávamos a discutir, ela nos alertava: “Quem muito fala muito erra”.

E por falar nisso, o que ouvimos de absurdos em erros elementares praticados por comunicadores, na gramática, não está no gibi. Todos os dias lemos nas telas: “Voltamos daqui a pouco”. Vamos ser mais cautelosos nos nossos comportamentos, até mesmo no falar. E isso não quer dizer que devemos ser os tais na linguajem. A simplicidade é essencial para o respeito. E quanto a falar, que não era minha intenção neste papo, devemos observar que uma coisa é uma conversa simples e coloquial, outra é na comunicação. Quando estou falando com você falo só pra você…

Aumentemos nossos conhecimentos através dos nossos atos. Sempre que praticamos um ato para o bem, aprendemos, e nossos conhecimentos crescem. Mesmo quando só percebemos isso muitos anos depois. Mas os conhecimentos permaneceram dentro de nós, nas nossas mentes. E como somos de origem racional, os conhecimentos perduram, mesmo quando já não estamos mais neste corpo. É através dos nossos descendentes que os conhecimentos vão crescer, dependendo do quanto o transmitimos aos nossos filhos. Transmita sempre o melhor, a seus filhos, eles sempre merecem. Pense nisso.

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