Jessé Souza

A logica do jeitinho 17 03 2015 742

A lógica do jeitinho    –    Jessé Souza* O povo foi às ruas, no domingo, mostrar que não tolera mais a corrupção no Brasil. Mas, será mesmo?! Entre protestar contra a corrupção e lutar para que este grande mal que prejudica tanto o Brasil existe uma distância muito grande. Como se pode pedir o fim da corrupção enquanto, no cotidiano, o jeitinho brasileiro predomina? A contradição começa na hora de votar, de escolher nossos representantes em todos os níveis, do Legislativo ao Executivo.  Muitos se habituaram a vender ou negociar seu voto, seja por meio da comercialização direta, recebendo a chamada “boca de urna”, ou indireta, na antiga prática do “toma lá dá cá”. A lógica para comercializar o voto pode ser resumida assim: “Se eu estivesse no poder, também faria o mesmo”. Ou seja, muitos praticariam os mesmos atos corruptos para se dar bem, adotando as práticas antigas dos políticos desonestos que se locupletam do bem público de todas as formas. Muitas vezes, o mesmo que critica o político safado é o que desvia material no órgão público onde trabalha ou na empresa privada da qual é funcionário. Também é o mesmo que busca todos os tipos de benesses ou vantagens, como usar o carro público para fins particulares, fazer “gato” na ligação da rede de energia casa, receber sem trabalhar. Muitos que pedem o fim da corrupção são os que furam a fila, os que tentam pagar propina para o guarda de trânsito, os que querem tirar habilitação sem fazer teste algum, aqueles que jogam lixo na rua, que pegam atestado médicos falsos para justificar falta no trabalho ou que dão um jeito de sonegar impostos. No país do “jeitinho brasileiro”, será muito difícil combater a corrupção do mais alto grau, no topo da pirâmide, se o cidadão comum está corrompido em suas ações mais básicas. Nem caminhões que tombam na estrada, com o condutor preso às ferragens, escapam dos saques das mercadorias. Ou do carro de capota na estrada e as vítimas têm seus pertences afanados e o veículo depenado. É impossível imaginar um Brasil livre da corrupção quando tem gente vendendo CD pirateado até mesmo em frente do prédio da Receita Federal; ou que declara Imposto de Renda com recibos “frios”; ou, ainda, dos que não se cansam de correr atrás de benefícios políticos porque acham que cofres públicos têm a obrigação de manter benesses. Se não houver uma faxina moral e ética pessoal, comunitária ou coletiva na cidade onde se vive, de nada adianta se vestir de verde e amarelo, protestar contra os corruptos de Brasília, se na vida cotidiana as pessoas estão em busca de se locupletar de algo, buscando jeitinhos ou correndo atrás de político para pedir favores ou vendendo seu voto. *Jornalista [email protected]