Jessé Souza

A midia e a mulher 05 03 2015 697

Jessé Souza* Às vésperas de comemorar o Dia da Mulher, 08 de março, três fatos divulgados esta semana na internet nos remetem a uma profunda reflexão sobre o papel na mídia frente aos desafios do sexo feminino na sociedade. O caso do apresentador Luciano Huck é o mais estarrecedor por atingir a infância em cheio. O artista da Globo lançou uma camiseta para crianças com a frase “Vem nim mim que estou facim”, cuja foto promocional do seu site de vendas é uma menina de não mais que 7 anos de idade exibindo a frase que toma toda a frente da blusa. Um parêntese: não entrarei na questão da ofensa ao português que, por si só, é grave. Há muito tempo que a sociedade tenta combater, com todas as armas e forças, a pedofilia e o abuso sexual contra crianças e adolescentes, então chega um artista global e lança uma blusa que incentiva as crianças a anunciarem que estão “facinhas” para qualquer investida sexual. Não há como justificar tal atitude. Trata-se de um desavergonhamento completo e falta de respeito às famílias que tentam proteger suas crianças contra crimes sexuais e todos os tipos de abusos, estas cada vez mais vulneráveis justamente pela ação da mídia que incentiva a erotização cada vez mais cedo da infância. Outro fato foi a representação de uma entrevista do artista Alexandre Frota, no programa Rafinha Bastos, na Band, na qual ele narra, como se fosse uma piada tosca, a forma como abusou sexualmente de uma mãe de santo, durante uma sessão, deixando a mulher desmaiada, no final, com um “mata leão”. E isso sem contar o deboche e o preconceito com a religião afro. Ainda que tenha sido uma invencionice, já que este artista é reconhecidamente um grande idiota, levar ao ar uma entrevista com este conteúdo é um incentivo ao estupro e ao desrespeito com o sexo feminino. Há, ainda, um terceiro fato: a entrevista feita pelo apresentador Gugu, do SBT, com a assassina Suzane von Richthofen e a namorada dela. A criminosa matou os pais, mas o apresentador achou normal ir à prisão para que a assassina relatasse suas intimidades com a namorada. Tratam-se da espetaculirazação do crime e do endeusamento de uma assassina, como se fosse natural uma moça matar os pais e se tornar personagem famosa na TV.  Isso significa um recado para as adolescentes: “O crime também pode gerar fama na mídia”. Enfim, a sociedade fica a mercê de uma mídia que tenta fazer a sociedade crer que o errado está certo, que banaliza o sexo, a pedofilia e o estupro, querendo que a sociedade aceite os crimes como algo normal. TVs são concessão pública, então é preciso que os órgãos fiscalizadores tomem providência. E o incentivo à pedofilia deveria ter atenção da Promotoria da Infância. E, mais que isso, é papel dos pais e educadores combaterem todas estas formas de lavagem cerebral que a mídia e os artistas fazem. O momento de abrir a discussão é agora, antes que seja tarde demais  para nossos filhos e filhas. *Jornalista [email protected]