Jessé Souza

A morte de um rio 05 11 2014 240

Jessé Souza* A população brasileira está assistindo, no bom estilo “efeito binóculo”, ao Estado de São Paulo sofrer as duras consequências da falta de água para abastecer a população. Os mananciais de água potável secaram não apenas pela falta de chuva, mas pelos séculos de agressões ao meio ambiente, em especial aos rios e suas nascentes. Na manhã de ontem, um dos telejornais exibiu uma reportagem sobre a seca do leito do rio São Francisco, fonte principal de vida na região Nordeste. O rio está mirrando e pedindo socorro. Os alertas foram dados desde as audiências públicas sobre a transposição, mas ninguém deu a devida atenção. Em vez disso, a mata ciliar continua sendo destruída e as nascentes – chamadas aqui, por nós, de “olho d’água” – não receberam o cuidado necessário, desaparecendo na velocidade do avanço do descaso com o meio ambiente. Apesar de todo o alerta, em Roraima ainda não se preocupação para se preservar o rio Branco, que é o nosso principal manancial de água potável e fonte de renda para muita gente. As agressões partem de todos os lados, mas não há interesse das autoridades em se mover para agir preventivamente de forma rápida. A própria empresa responsável pelo abastecimento de água, e que mais tem obrigação de preservar, a Companhia de Água e Esgoto de Roraima (Caer), é a primeira a cometer crime, despejando dejetos nos canais e igarapés que deságuam no rio Branco. E abaixo da estação de captação de água de Boa Vista. Ao menos um fato é positivo: a mata ciliar está relativamente preservada, com algumas observações, principalmente nos pontos onde há balneários públicos e nas proximidades da ponte dos Macuxi, onde as empresas de extração de barro, areia e seixo destruíram a vegetação na margem do rio. Mas os alertas são vários, como lançamento de esgoto doméstico no igarapé Caranã, problema histórico nunca resolvido e que já decretou a morte agonizante daquele manancial, e volume alto de lixo lançado na calha ao longo da cidade, principalmente onde há nascentes. Tenho plena convicção de que nem a Caer sabe onde existem esses olhos d’água, pois se ele não cuida do básico, que é evitar lançamento de dejetos sem tratamento, então imagine quando se trata de ações de preservar aquele importante manancial. É preciso que os roraimenses se sensibilizem, sim, com o que vem ocorrendo com São Paulo, mas que essa sensibilidade nos faça abrir os olhos para que Roraima perceba a necessidade de agir agora, já, para evitar que o rio Branco seja atingido de morte. Os rios não são perenes; perenes são as agressões do ser humano ao meio ambiente. Então, que tratemos de olhar para a nossa realidade antes que seja tarde. *Jornalista [email protected]