JESSÉ SOUZA

A regressão que revela a incivilidade das pessoas no trânsito roraimense

Essa imagem acabou se tornando uma cena corriqueira no trânsito roraimense, onde a inprudência e a irresponsabilidade reinam

Os acidentes de trânsito se tornaram uma nova modalidade pandemia no Estado, com registro de casos diariamente. Se os jornais fossem noticiar cada acidente, não haveria espaço para outras notícias. Enquanto isso, uma incômoda cena chama a atenção na Avenida Brigadeiro Eduardo Gomes: o órgão estadual de trânsito, o Detran, desde 2021 não consegue terminar a construção de sua sede, ao valor de R$8 milhões (isso se não ocorreu aqueles famosos aditivos), tornando um símbolo da morosidade e do que o trânsito se tornou.

Enquanto o número de acidentes avança, com mortos e feridos no trânsito, não é apenas a obra da sede do Detran que chama a atenção. O órgão estadual determinou a suspensão temporária de blitz e, ao mesmo tempo, anunciou uma estatística que mostra redução de 32,54% no número de infrações de trânsito no Estado, quando comparados os meses de outubro e novembro de 2023. Mas é óbvio que haveria redução se o órgão suspendeu ações repressivas nesses últimos meses do ano.

Como se sabe, o Detran é um órgão estadual que tem como responsabilidade principal estabelecer normas, fiscalizar o cumprimento das leis de trânsito, promover ações educativas e aplicar penalidades em caso de infrações. No entanto, não se vê nenhuma ação educativa do órgão estadual que possa fazer frente a este momento crítico no trânsito. Na TV, o que existe é uma campanha educativa sobre faixa de pedestre na Capital, realizado pelo município.

Boa Vista já foi a Capital de respeito à faixa de pedestre, que mostrava a urbanidade e civilidade da população, mas uma realidade de intolerância, imprudência e negligência por parte de condutores e pedestres avançou tanto a ponto de termos regredidos. Pelo que se tem visto  nos últimos meses, a saída da Prefeitura para evitar acidentes em vias de tráfico intenso foi a instalação de redutores de velocidades, as lombadas, mais conhecidas como quebra-molas.

O exemplo é a Avenida Carlos Pereira de Melo (que interliga não só o Cidade Satélite ao Centro, como outros bairros igualmente populosos da zona Oeste), que recentemente vem ganhando lombadas no lugar daqueles sinalizadores eletrônicos que marcam o excesso de velocidade, alertam os condutores e parabenizam aqueles que trafegam dentro do limite permitido na via. Ninguém respeita mais esses equipamentos eletrônicos, tornando-se obsoletos nas ruas e avenidas da Capital. Os condutores nem mais se orgulham por receber um “parabéns”.

No bairro São Vicente, na zona Sul, onde vinham ocorrendo graves acidentes, a saída também foi instalar os quebra-molas à moda antiga para obrigar a redução em alguns cruzamentos, inclusive naqueles pontos onde foram instaladas rotatórias. Essa redundância de medidas, de fato, obrigam o condutor a reduzir a velocidade, sob o risco de danificar o veículo. É só assim que os condutores têm respeitado.

Essa regressão na engenharia do trânsito, infelizmente, tem se mostrado necessária, pois nem mesmo os semáforos estão sendo capazes de fazer os imprudentes e irresponsáveis pararem no sinal vermelho. Nem as vias preferenciais estão sendo respeitadas, com registros diários de acidentes motivados por esse tipo de infração, conforme as recorrentes notícias do jornal.

A realidade mostra que é preciso de medidas urgentes no trânsito, enquanto o Detran sequer consegue concluir a obra de sua sede.  A educação no trânsito precisa ser repensada e remodelada, inclusive como disciplina escolar desde a infância, bem como o trabalho de conscientização precisa estar em pauta obrigatória. Assim também os trabalhos repressivos e a punição exemplar da Justiça nos crimes de trânsito.

E em tempos de intolerância e extremismo, o que transformou a realidade em uma guerrilha urbana no trânsito, o assunto também precisa ser visto dentro da ótica de direitos humanos, em que ninguém pode se sentir superior a ninguém quando se trata de mobilidade urbana, especialmente por sua posição financeira com suas máquinas exalando superioridade em forma de transgressões.    

*Colunista

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