A situação da saúde pública e o desespero da população em busca de atendimento
Jessé Souza*
São recorrentes os fatos que mostram a falta de investimento na saúde pública nos governos locais. No Hospital da Criança Santo Antônio, a longa fila de espera provoca repetidos casos de pais que se desesperam e acabam sendo imobilizados por seguranças ou guardas municipais.
Nas redes sociais, quase diariamente surgem famílias fazendo “vaquinha” ou promovendo rifas beneficentes para realizar cirurgias que não são realizadas no Hospital Geral de Roraima (HGR), que tem uma lista de 9 mil pessoas na espera das chamadas cirurgias eletivas.
No Clínica do Hospital Coronel Mota, as reclamações são constantes devido ao tempo de espera para o atendimento de especialidades, impondo um sofrimento angustiante que pode decidir pela sobrevivência dos pacientes, uma vez que ao receber o resultado do exame já pode ser tarde demais.
No Governo de Roraima, já se sabe que os recursos existem, mas o que falta é gestão, conforme as palavras do próprio governador Antonio Denarium (PP) quando ainda estava em campanha e conforme ele mesmo anunciou que o governo tem dinheiro em caixa.
Recentemente, o secretário estadual de Saúde, Leocádio Vasconcelos, anunciou sua demissão do cargo, mas voltou atrás depois de ser ouvido pelo governador, o que comprova que antigas práticas ainda precisam ser extirpadas da saúde pública que viveu por todos esses tempos em um corrupção sistêmica.
Enquanto não se sabe quem manda e desmanda na saúde estadual, as pessoas não conseguem cirurgias, as quais foram suspensas no início da pandemia. Até hoje a Secretaria Estadual da Saúde (Sesau) sabe exatamente qual é o número de pessoas que esperam por cirurgia, mas a estimativa é de 9 mil.
Na Prefeitura de Boa Vista, a saúde pública continua não sendo prioridade, com maior fatia do orçamento, aprovado inclusive pelos vereadores e sancionado pelo prefeito Arthur Henrique (PMDB), destinado para manter jardinagem na Capital.
A consequência disso são as grandes filas de espera de pais e mães com suas crianças no Hospital Santo Antônio, de onde partem reclamações corriqueiras. São esperas que chegam até a 10 horas durante a madrugada devido à falta de médicos, quando ficam apenas dois plantonistas, número que se reduz para um ao amanhecer.
O início da pandemia serviu para escancarar a desestruturação das Unidades Básicas de Saúde (UBS), as quais se negavam a fazer sua parte no atendimento básico, determinando que a população doente se encaminhasse para o já superlotado HGR.
Hoje a situação se reverteu, em que passou a existirem UBS que não fazem mais atendimento da população alegando que só recebem casos de Covid-19. No bairro Cidade Satélite, por exemplo, quem precisar de atendimento primário é obrigado a perambular pelos postos de saúde em busca de uma unidade que esteja disponível. Isso tem feito lotar o atendimento do Hospital das Clínicas.
São evidências divulgadas diariamente pela imprensa e nas redes sociais que mostram a falta de prioridade para a saúde pública em que Estado e municípios jogam a culpa na pandemia, mesmo sabendo que o descaso de gestores e políticos vinham de muito antes, quando a desculpa era a imigração desordenada.
A realidade da pandemia, por dois anos seguidos, e o avanço do êxodo venezuelano não mudaram o comportamento de nossos legisladores, gestores e políticos de uma forma geral. Variantes da Covid-19 continuam surgindo e a imigração segue aumentando, mas não se viu uma preocupação, de fato, com isso, nos orçamentos aprovados no fim do ano passado.
Especialmente não houve uma atenção com relação à saúde pública, que é a principal demanda neste dois cenários de crise instalado há dois anos. Não fosse a atuação de Organizações Governamentais (ONGs) e a Operação Acolhida para atender os venezuelanos, estaríamos em um cenário de guerra. E isso não sensibiliza nossos políticos, que igornam a situação da saúde pública.
*Colunista