JESSÉ SOUZA

A situação da Venezuela pode ser comparada a pular da frigideira para cair na fogueira

A situação da Venezuela pode ser comparada a pular da frigideira para cair na fogueira
Venezuelanos estão indo às ruas protestar contra o resultado das eleições que reelegeram Nicolás Maduro (Foto: Divulgação)

Os pequenos avanços econômicos e políticos observados na Venezuela pela imprensa internacional, em 2022, ruíram após as eleições presidenciais que reconduziram Nicolás Maduro ao poder, sob protestos de boa parte da população e contestações dos governos de vários países. Embora tenham surgidos vozes que torçam por uma “primavera venezuelana”, os fatos não indicam boas notícias.

Não se trata de culpar o chavismo, o madurismo ou bolivarianismo. Chamem o regime ditatorial venezuelano do que quiser. No entanto, a história daquele país mostra uma sequência de reviravoltas que podem ser comparadas a pular da frigideira para cair na fogueira. Por isso, enquanto uns protestam indo às ruas, muitos batem em retirada para outros países porque não acreditam mais em nada.

Aos fatos. Em 1989, a Revolução Liberal Libertadora encabeçada pelo militar José Cipriano Castro, com apoio de lideranças políticas e militares, colocou para fora um presidente eleito e estabeleceu um novo sistema. Novamente, em 1953, um novo ditador tomou o poder, o general Marcos Pérez Jimenez que, apesar de governar com mão de ferro, tinha apoio popular devido aos tempos de bonança petrolífera.

Foi um período muito parecido com o que ocorreu com Hugo Chávez, que surfou no bolivarianismo sustentado pelo petróleo. Quando começou a sucumbir, o governo de Pérez também descambou para um momento parecido com o que se vê com Maduro, com perseguições à oposição, jornalistas e quem se atrevesse a contestar o regime, além de mortes e outras desgraças.

O que mudou no cenário histórico foi a falência da Venezuela recentemente devido não só às sanções econômicas, mas também à corrupção sistêmica que tomou de conta do país e de todas as instituições, principalmente as Forças Armadas. Com fome e desesperados, desta vez os venezuelanos começaram a fugir, em uma diáspora que o roraimense conhece muito bem por aqui, na fronteira Norte.

Mudaram os governos e os ditadores, mas o único fato que não mudou foi o papel decisivo das Forças Armadas, que estiveram presentes em todos os momentos históricos e políticos, inclusive apoiando incondicionalmente os ditadores. São os militares que dão as cartas na Venezuela, seja qual for o ditador da vez.

Portanto, dificilmente pode-se esperar uma reviravolta baseada em uma “primavera venezuelana”, como muitos começaram a conjecturar, pois a Venezuela está nas mãos de uma elite militar safada e corrupta, que contaminou boa parte da população, inclusive com criação de milícias que apoiam o regime e reprime os opositores.

Pelo histórico daquele país, enquanto as Forças Armadas estiverem no controle de tudo, o máximo que os venezuelanos irão conseguir é pular da frigideira para cair dentro da fogueira.   

*Colunista

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