A solidariedade é o maior exemplo
As últimas repercussões sobre o êxodo em massa de venezuelanos para Roraima, na imprensa nacional, só revelaram o que escrevi aqui, no ano passado: a solidariedade e o acolhimento dos roraimenses são muito maiores do que a discriminação, a xenofobia e o preconceito. O trabalho voluntário de distribuição de alimentos foi o grande destaque da mídia nos últimos dias.
Essa ação solidária vem ocorrendo muito antes da crise imigratória e se intensificou quando as praças e espaços públicos passaram a ser ocupados por venezuelanos, que fogem da convulsão social que se tornou a Venezuela. Na maioria das vezes, esses trabalhos ficam ocultos e não ganham repercussão na mídia tradicional nem nas redes sociais.
O voluntariado de muitos boa-vistenses e de migrantes que escolheram Roraima para morar é o que está fazendo a grande diferença diante da imobilidade do poder público, que acordou muito tarde para o problema provocado pela chegada em leva de estrangeiros. O Governo Federal, por exemplo, só se mexeu depois que a situação ficou insustentável em Roraima.
A crise sem precedentes na Venezuela deve se prolongar por muito tempo, o que indica que o Brasil terá que adotar uma política de longo prazo para acolher os imigrantes, a fim de evitar que os problemas sociais se ampliem e assim tornar menos traumática possível a fixação provisória ou definitiva dos estrangeiros que vêm em busca de comida e de reconstrução de suas vidas.
Enquanto os governantes ainda se organizam, é o perfil solidário e acolher do roraimense que ameniza o impacto dessa nova realidade que está sendo construída com a chegada dos imigrantes. A maior parte da população sabe que se trata de uma questão humanitária, no que pesem os impactos negativos que surgem a partir desse êxodo.
São essas pessoas que comprovam que o espírito solidário e cristão faz parte do perfil do roraimense; e que o espírito de porco, dos que abominam o estranho e pregam a violência contra estrangeiros que chegam desesperados, não vencerá. É fato que entre os que chegam há os bandidos e os que se debandam para o lado mal, mas estes também são minoria e não podem servir para igualar os demais que buscam reconstruir suas vidas.
É necessário que as autoridades continuem buscando saídas e alternativas, principalmente o Governo Federal. Não sabemos aonde isso vai parar, mas pelo menos sabemos que, se tudo der errado, o espírito solidário estará sempre vivo e atuante. É isso que supera o desalento diante de tantas incertezas para todos, brasileiros e estrangeiros
*Jornalistae-mail: [email protected]: www.roraimadefato.com.br