Nenhuma surpresa a decisão da Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) de ter anunciado a mudança no calendário escolar deste ano ao adiar o início das aulas no interior de Roraima por falta de professor. Vem sendo assim desde a pandemia, quando também descobriu-se que, desde um certo tempo atrás, as obras de reforma das escolas não passavam de pintura de fachada e alguns consertos paliativos.
Mas, desde muito antes, não conseguir resolver questões básicas das escolas do interior e das comunidades indígenas tornou-se praxe. E isso só se mantém. Se for feita uma comparação com dados de outros estados, chega-se à conclusão de que o governo local não conseguiria administrar escolas de bairros mais populosos de uma Capital de qualquer Estado ou mesmo de alguns municípios mais populosos dessas unidades da Federação.
Para não ir muito longe, basta pegar os dados do Estado do Amazonas, que mantém 757 escolas estaduais, sendo 241 somente na Capital, Manaus. Em Roraima, são tão somente 63 unidades de ensino no interior, número que não alcança a soma de escolas existentes em cinco bairros manauaras. Esse total de escolas em cinco bairros na Capital manauara é quase equivalente ao número de escolas estaduais na Capital roraimense, que chegam a 75.
Além de não conseguir resolver os problemas das unidades escolares existentes, nos últimos cinco anos o governo não conseguiu sequer construir uma nova escola no Estado, nem Capital muito menos no interior e comunidades indígenas, onde as estruturas remontam a três décadas sem reformas ou ampliações, em sua maioria.
O resumo dessa realidade pode ser observado no Município do Amajari, Norte do Estado. No Distrito Tepequém, a Escola Municipal Olavo Bilac abriga turmas municipais e mais alunos do anexo do Colégio Militarizado Ovídio Dias, que funciona na Vila Brasil. Todos foram empurrados para um prédio inadequado, onde funcionava uma lanchonete, porque o prédio da escola entrou em uma daquelas reformas que se arrastam. Detalhe: a obra não tem placa indicativa de data, prazo, valor e nome da empresa para que possa ser fiscalizada pelo povo.
Com o prédio quase desabando sobre a cabeça da comunidade escolar de Tepequém, no ano passado, não houve outra alternativa senão fechar a escola para que fosse iniciada uma reforma, quando foi alugado o prédio de uma lanchonete para servir de sala de aula. Esse é o resumo clássico de como os governos estadual e municipal atuam no interior, sem prioridade, sem investimentos e muito menos sem a estrutura adequada.
Nas comunidades indígenas, a situação é bem semelhante. Construídas nos primeiros governos de Ottomar Pinto e Neudo Campos, na década de 1990, a maioria das escolas nunca recebeu obras de reforma e ampliação. Em várias delas, além de abrigar turmas municipais e estaduais, servem como clube de mãe, cozinha comunitária, posto de saúde e o que for possível abrigar.
Fica óbvio que nessas escolas não há biblioteca, salas de informática, laboratório e sequer possuem locais para atividades esportivas, como ginásio, quadra ou áreas cobertas para práticas de educação física, muito menos dispõem de espaços coletivos e áreas de convivência. E, da forma que foi exposto, sequer existem professores suficientes de todas as disciplinas.
Como as aulas começaram apenas na Capital, então ainda é cedo para saber como se desenrolará esse ano letivo…
*Colunista