Opinião

Ainda bem que ainda nao somos 13345

Ainda bem que ainda não somos

Afonso Rodrigues de Oliveira

“Somos o único caso de democracia que condenados por corrupção legislam contra os juízes que os condenaram”. (Joaquim Barbosa)

Sempre tive uma admiração muito forte pelo Dr. Joaquim Barbosa. Admirei, recortei e guardei, essa frase dele, publicada no Jornal “O Globo”, no Rio de Janeiro, faz umas três décadas. Tenho-a decorada e a repito, com consideração. Mas sempre que menciono a frase torço o nariz, pensando que ainda vamos demorar muito para corrigir tais distorções na nossa justiça. Porque ainda não somos uma democracia, e continuamos caminhando a passos de tartaruga, rumo à democracia. Quando será que iremos consegui-la?

Como será que estão pensando no problema que, certamente, vai nos torturar durante as próximas eleições: o que irá acontecer quando não pudermos ir votar, por conta da pandemia? Já pensou nisso? Cara, o problema não vai ser tão simples assim. Mas não vamos nos apoquentar. Vamos cuidar da saúde para não termos que pagar multa por não termos votado. Já que ainda votamos por obrigação e não por dever de cidadão. Mas vamos nos cuidar e reservar os poucos reais para a multa, e pensar mais maduramente na nossa tarefa. E esta não é nem será tão simples assim. Vamos ter que trabalhar muito para convencer os maus-políticos, de que precisamos nos educar para sermos cidadãos de fato e de direito.

E só quando formos realmente livres poderemos iniciar a caminhada para a cidadania. Ainda vemos grandes autoridades e intelectuais defendendo a atual democracia. Quem sabe, um dia resolveremos o cansativo problema da urna eletrônica. Porque já querem nos convencer que o problema está resolvido. A bem de quem? Mas fique calmo ou calma. Sabemos que cada um de nós é responsável pela caminhada da carruagem. Então vamos fazer nossa parte, educando-nos, já que não nos educam.

Vamos fazer nossa parte como ela deve ser feita. Vamos dar mais atenção às falas mais equilibradas, nos discursos políticos. Vamos sair do analfabetismo político em que ainda continuamos nadando. Vamos parar de ver a política como blá-blá-blás de aventureiros que buscam, porque veem, a política como a maior fonte de riqueza. Vamos nos respeitar, elegendo apenas candidatos que mereçam nosso respeito, respeitando nosso voto. Seu voto é muito importante, para você menosprezá-lo dando-o a candidatos que não mereçam seu respeito.

Vamos ser cidadãos. Mas para isso é necessário que nos preparemos para merecer a cidadania. Porque nunca seremos cidadãos, enquanto não formos politicamente educados e orientados. Vamos mudar nossa visão, numa visão periférica sobre a política. Pense nisso.

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Pautando a sociedade: indígenas e espaços institucionais  

Evandro Pereira

Os indígenas precisam cada vez mais ocupar espaços institucionais. Na luta pela afirmação dos direitos dos povos originários, esta ocupação em áreas do estado é importante e estratégica. Ao longo de minha trajetória, por meio da educação e do trabalho, busquei estar atento aos rumos do estado, compreendendo que temos uma história de colonização, racismo e preconceitos estruturais.

 Para superar este passado e pensar soluções democráticas para o futuro, não basta criticar o estado ou os caminhos que a sociedade hegemônica adotou em um contexto capitalista, que visa o lucro acima das pessoas. É preciso que tenhamos consciência de classe e aprender a jogar este jogo da democracia representativa.

Assim como outros parentes indígenas que lutam pelos seus espaços e, para contribuir com nossa sociedade em várias áreas, tive a honra de chefiar a divisão administrativa da Superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), onde trabalhei de 2013 a 2016.

Fui responsável por todos contratos administrativos e licitatórios do IPHAN. Responsável técnico pelos processos burocráticos, como emissão de diárias no sistema federal. Fui presidente de várias comissões, como a Comissão Permanente de Licitação em alguns municípios. Fui pregoeiro oficial, cuidei do setor de recursos humanos e pela execução orçamentária e financeira do IPHAN.

Trabalhei no Ministério da Pesca e Aquicultura em Roraima (MPA), de 2010 a 2013, como Coordenador de Monitoramento da Pesca e Aquicultura. Presidi as CPLs nos municípios do Amajari e Pacaraima. Fui assessor da CPL em Uiramutã e chefe de seção de arrecadação e financeira no Instituo de Previdência de Roraima. Na Prefeitura municipal de Alto Alegre fui pregoeiro e assistente administrativo da seção de logística do Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei Yanomami), de 2020 a 2021. Coordenei o Espaço CONAFER Roraima (Confederação nacional de Agricultores familiares e empreendedores familiares rurais do Brasil – CONAFER). Todas estas experiências referentes a administração pública.

Nós indígenas sempre temos que lutar por estes espaços, executando com ética e competência nosso trabalho. Sabemos que Roraima por muito tempo sofreu (e ainda sofre) em sua estrutura com os apadrinhamentos, filhotismos, mandonismos e indicações políticas. Um ciclo que pode ser rompido com educação política. Para além deste trabalho na vida pública institucional, na condição de indígena, tive atuação na Igreja Católica, em movimentos sociais e populares, onde fiz inúmeras amizades. Estes são espaços importantes para a formação de nosso caráter republicano e nossa convicção da vida coletiva, com o bem comum sendo o centro de nosso trabalho.

Sociólogo, ex-coordenador da Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores indígenas de Roraima e membro do Comitê Pró-cultura de Roraima