Uma jovem morreu no fim de semana passado, após levar um tiro na cabeça e em uma das mãos, o que indica sinal de defesa durante um crime de execução, a qual foi encontrada às margens do Anel Viário, localizado nas cercanias de Boa Vista, um local muito utilizado por criminosos para desovar corpos. Condutores de veículos olhavam a cena da jovem no chão e seguiam em frente, mesmo que ela ainda apresentasse sinais vitais.
Nas redes sociais, vários comentários. Mas, entre as autoridades, zero repercussão. Na imprensa, mirradas linhas. Em um tempo atrás, um crime nestas condições mobilizava a imprensa em busca de respostas, enquanto parlamentares sentiam-se pressionados pela opinião pública a subir à tribuna do Legislativo para cobrar providências e discutir a Segurança Pública. Como a criminalidade normalizada, hoje o caso é tratado apenas com mais um para a estatística escondida em alguma gaveta.
É o cenário que temos em Roraima, onde uma organização criminosa venezuelana despacha corpos na área central de Boa Vista, consequência de acertos de conta na guerra pela disputa aberta do tráfico de drogas nos bairros 13 de Setembro, São Vicente e Pricumã. Mas as autoridades brasileiras não dão uma resposta à altura para desarticular esses grupos bem organizados que se valem da migração em massa e da insegurança que reina no Estado.
O caso da jovem que morreu provavelmente por acerto de conta é mais um dentro do cenário da criminalidade que se instalou em Roraima, onde o crime organizado brasileiro se associou uma facção venezuelana violenta, assunto este que acaba de certa forma invisibilizado devido a outras repercussões, especialmente neste momento devido ao caso de pistolagem em que o ex-senador Telmário Mota é investigado.
Na crônica policial, as notícias recorrentes são quase as mesmas: mortes no trânsito devido à imprudência de condutores, seguidos casos de estupros de crianças e adolescentes, além do alto número de ocorrências de violência contra mulheres, o que significa uma preocupante realidade da violência de uma forma geral, em que a criminalidade resultante do poder do crime organizado fica em último plano nas discussões e cobrança por parte da sociedade.
O silêncio que se faz sobre a atuação de facções criminosas só reforça a preocupação de que o poder público não consegue fazer frente à criminalidade e aos verdadeiros atores do banditismo que se instalou no Estado. Verdade que há condenações, aqui e acolá, de integrantes de facções que cometeram crimes atrozes, mas não o suficiente para dar a resposta que a sociedade merece a fim de frear a criminalidade.
O toque desse alarme só vai ser ouvido mesmo no próximo ano, quando os dados da violência e da criminalidade forem divulgados pelos fóruns e institutos nacionais que monitoram a violência e a Segurança Pública brasileira. O Estado de Roraima deverá encabeçar as estatísticas no país neste ano de 2023. Vamos ver até onde as autoridades irão fingir que não estão vendo nada…
*Colunista