Já se sabe que os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (ldeb) 2023 das escolas de Roraima, divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) no dia 14 de agosto, inspiram muita atenção por parte dos educadores e das autoridades. No entanto, quando os números são analisados por município, a situação é aterradora.
Boa parte dos municípios mais pobres do interior do Estado aparece nos gráficos com o insucesso de menos de 50% dos alunos nas avalições, demonstrando aprendizado inadequado. Outros aparecem com a grande maioria dos alunos não apresentando um bom nível de aprendizagem. Situação preocupante que deveria estar tirando o sono de políticos, que obviamente estão em campanha e sequer falam sobre Educação.
Não há nem como comparar a situação dos demais municípios com os números de Boa Vista, que ficou em 1º lugar no Ideb, com nota de 5,7, principalmente porque essas cidades longe da Capital vivem com baixo orçamento e pouco ou nenhum investimento. Depois da Capital, vem Caroebe, com 4,9, seguido de Alto Alegre e São Luiz, ambos com nota de 4,6. O último colocado foi Iracema, com 4,3. O Ideb é o principal indicador de qualidade da educação no país, daí a importância da análise desses dados,
Boa Vista ficou à frente de capitais como São Paulo, Recife, Campo Grande, Salvador, Macapá, Maceió, João Pessoa, Aracajú, São Luiz, Belém, Porto Alegre e Natal. No ranking nacional, Boa Vista ocupa a 13° posição. Alunos do 5° ano de 50 escolas da rede municipal da Capital roraimense fizeram a avaliação em 2023. São os chamados “anos iniciais do ensino fundamental”.
A lógica do Ideb é que as notas ajudam a entender o nível de domínio de conteúdo de alunos em áreas da educação. Em uma escala que vai de 1 a 10, é possível saber, por exemplo, se alunos dos primeiros anos do ensino fundamental sabem multiplicar números naturais, calcular a área de uma figura geométrica ou entender o assunto de uma reportagem ou tirinha. E os dados revelam um desafio enorme para mudar a realidade em que vivem.
Enquanto nos municípios mais pobres, especialmente nas comunidades indígenas, o único prédio da escola municipal é obrigado a emprestar o prédio para as escolas estaduais, além de abrigar posto de saúde, clube de mães e eventos do calendário do governo, em Boa Vista nesses últimos anos foram inauguradas 15 novas escolas e reformadas ou ampliadas sete escolas, criando 11.919 novas vagas: 3.261 em creches; 1.998 na pré-escola; 6.309 no fundamental I; 240 no Fundamental II; e 111 na Educação de Jovens e Adultos.
Apesar da grande diferença orçamentária entre Estado e municípios, seria ilógico fazer uma comparação. No entanto, de 2013 a 2023, conforme resultados de escolas rede pública que ofertam os anos finais (9° ano) e ensino médio (3° ano), de competência do Governo do Estado, não foi alcançada nenhuma nota projetada pelo Ideb. Por sua vez, Boa Vista avançou em sua nota de Proficiência, que é a média das notas das avaliações em Matemática e Língua Portuguesa. A rede municipal havia obtido as notas 210 em Matemática e 203 em Português, alcançando a média de 5,67 em 2021.
De outro modo, é abismal a diferença quando se trata da realidade dos municípios roraimenses mais pobres. Algo urgente precisa ser feito porque as notas indicam que os alunos não conseguem sequer fazer uma multiplicação básica ou interprestar uma reportagem de jornal. Que futuro poderemos esperar diante de uma triste realidade apresentada pelo Ideb? A resposta para esse questionamento impõe uma dura reflexão.
P.S.: Artigo atualizado para incluir o Município de Caroebe, o primeiro colocado na nota do Ideb entre os municípios do interior.
*Colunista