Há vários dados a serem analisados dentro do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2023, divulgado na semana passada, a respeito dos desafios da Segurança Pública em Roraima, que não tem conseguido acompanhar a nova geografia do crime nem a migração dos criminosos para o mundo virtual. Se o crime organizado impõe uma realidade aterradora, os crimes virtuais também exigem ações rápidas das autoridades.
Em um Estado onde políticos mantém como assessor e “influencer” gente já condenada por seguidas práticas de estelionato imobiliário, então elas não devem estranhar ou se alarmar com o crescimento dessa modalidade de crime. Conforme o Anuário, em 2021 foram 3.989 registros de estelionato, saltando para 5.209 no ano de 2022, uma alta de 27,4%. Já o estelionato por meio eletrônico subiu de 59 casos, no ano de 2021, para 759 ocorrências no ano de 2022, uma variação de 1.155,1%!
Os números mostram uma mudança no comportamento dos criminosos, conforme o Anuário: “O que antes era obtido primordialmente na interação violenta entre as pessoas parece se deslocar, de modo até mais rentável, para o campo das fraudes e das ocorrências que exploram o fenômeno da migração da vida social para o ambiente híbrido que conecta o físico e virtual”.
Se a Segurança Pública tem se mostrado deficiente para enfrentar os crimes no mundo real, há de se imaginar o grande desafio que é encarar criminosos virtuais “invisíveis”, uma vez que são necessários mais investimentos na polícia judiciária, no caso a Polícia Civil, para que haja instrumentos humanos e tecnológicos visando o enfrentamento dos novos arranjos e dinâmicas criminais do mundo virtual.
O fato é que a Polícia Civil funciona de forma precária, com delegacias que sequer conseguem ter estrutura mínima para registras boletins de ocorrência, em estruturas anacrônicas e efetivo deficitário, seja por falta de números de servidores suficientes ou porque há muitos cedidos para gabinetes parlamentares e outros órgãos que nada têm a ver com a polícia judiciária.
Os dados mostram um crescimento acelerado dos casos de crimes virtuais, que significa crescimento no volume de trabalho relativo a estes golpes, fato que passa ao largo dos gestores, que mal conseguem lidar com o sucateamento da polícia e efetivos reduzidos e envelhecidos, conforme aponta a análise dos especialistas no Anuário.
Até aqui, o Governo do Estado não mostrou nenhuma política para implementar ações e metodologia de trabalho para esta nova realidade, que exige mais recursos disponíveis para a investigação destes tipos de delitos, diante da carência de mão de obra especializada, mostrando a necessidade de treinar policiais e de obter recursos técnicos para habilitar a Polícia Civil para a nova realidade que se apresenta.
Difícil imaginar mudanças em curto espaço de tempo, diante da insuficiente formação dos policiais, “o que exige cursos altamente especializados e rotinas rígidas de atualização, dada a rapidez com que mudanças tecnológicas são introduzidas”. Impensável que o governo dê algum tipo de prioridade a crimes virtuais, uma vez que está perdendo a guerra para o crime organizado, que atua no mundo real desovando corpos rotineiramente cuja maioria dos casos se mostrou insolúvel.
*Colunista