JESSÉ SOUZA

Anúncio tardio de uma ação contra os incêndios e a política do mais do mesmo

Serra do Tepequém, no Município do Amajari, se recupera do fogo que atingiu boa parte de sua vegetação rasteira
Serra do Tepequém, no Município do Amajari, se recupera do fogo que atingiu boa parte de sua vegetação rasteira
Serra do Tepequém, no Município do Amajari, se recupera do fogo que atingiu boa parte de sua vegetação rasteira

No dia 20 de julho deste ano, esta Coluna publicou o artigo “Entre chuvas e secas, o despreparo para lidar com o sofrimento da população”, afirmando que pela primeira vez, , estava chegando a hora da verdade a respeito do enfrentamento a uma seca intensa. E a seca severa chegou, mostrando mais do mesmo e a repetida ladainha de outros tempos.

Depois que o principal ponto turístico de Roraima, a Serra do Tepequém,  no Município do Amajari, teve sua paisagem alterada pelo fogo que afetou toda vegetação rasteira – e isso há mais de um mês – é que o Corpo de Bombeiros anunciou neste domingo, em entrevista à Rádio Folha, que será iniciada somente esta semana  uma operação contra queimadas no Estado.

E um detalhe: o anúncio da operação de enfrentamento ao fogo foi feito depois de um fim de semana de chuva em boa parte do Estado, o que ajudou a controlar os incêndios, especialmente na Capital. O que chamou a atenção, ainda, foi a fala do comandante da Corporação, Anderson Carvalho, a respeito do fato de o governo ainda está em processo de reestruturação da Defesa Civil.

Todo esse tempo não tivesse sido suficiente para deixar tudo bem estruturando, levando em consideração que nos últimos quatro anos não tivemos nenhuma estiagem severa, o que ajudou sobremaneira a manter tudo sob controle, ainda que o governo nada tivesse feito.

Nos últimos anos, as previsões dos institutos internacionais apontavam para 2023 o início de um super El Niño, que poderia influenciar na previsão de recordes de altas temperaturas nos próximos quatro anos, o que vem se confirmando, infelizmente. Se esta Coluna conseguiu antecipar a informação, por que as autoridades locais também não seriam capazes de prever e se preparar com toda estrutura necessária para quando o momento chegasse?

Na Serra do Tepequém, que é uma vitrine política para o Estado, a situação só não foi pior porque a comunidade, sem condições e treinamento, agiu junto com a heroica Defesa Civil Municipal, com parcos recursos e efetivo. Sequer houve uma preocupação de treinar brigadistas, os quais precisam ser remunerados também em tempos de forte estiagem, porque sabemos que há recursos, sim. Assim como há recursos para festas e ações assistencialistas.
O fato é que, conforme assinalado em artigos de anos anteriores, desde a primeira gestão a atual administração do governo estadual não foi testada em relação a sua capacidade e competência para atuar no combate e prevenção a queimadas e incêndios. Nem para a seca principalmente em relação aos pequenos produtores. E estamos vemos cenas repetidas de uma tragédia anunciada.

Não custa repetir, quantas vezes forem necessárias, que os políticos sempre agiram com desprezo em relação aos efeitos de cada inverno e cada verão, jogando toda culpa e responsabilidade ao poder da natureza. Nos últimos quatro anos, não houve uma política efetiva de governo para prevenir os problemas de uma provável estiagem. Lembrando que, apesar das chuvas que caíram nos últimos dias, o verão com seca intensa vai seguir até os três primeiros meses do ano que vem.

Pelo desenrolar dos fatos, caso as ações tardias não surtam os efeitos necessários, será confirmada outra previsão desta Coluna que vem sendo repetida desde os primeiros anos da atual administração estadual: “se realmente houver o maior El Niño de todos os tempos, teremos a maior tragédia ambiental, humana e econômica dos últimos tempos”. O El Niño chegou. E, no Amazonas, a tragédia já é uma triste realidade.

*Colunista

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