Após o feriadão do Carnaval, mais uma fatura pode ser debitada na conta do povo
Jessé Souza*
Difícil acreditar que o Governo do Estado queira prosseguir com o estado de calamidade pública decretado no ano de 2020 por conta da pandemia de coronavírus. Pelo cenário que vimos durante o Carnaval, tudo indica que a Assembleia Legislativa de Roraima (ALE-RR) irá aprovar a mensagem governamental, uma vez que os deputados creem mesmo que estão com todas as autorizações em nome do povo.
Pelo pedido para se prolongar o estado de calamidade, o governo quer fazer acreditar que não conseguiu contornar os principais problemas do setor, apesar dos escândalos que se seguiram na condução da saúde pública. E até parece mesmo, pois nem o telhado do Hospital Geral de Roraima (HGR) consegue segurar qualquer chuva mais forte.
Dentro do contexto legislativo, nada foi feito pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da ALE em relação ao que foi denunciado pelo ex-secretário de Saúde Allan Garcês, que citou o nome de dois deputados que teriam ido lá interferir na gestão. E disse ainda que o irmão do governador foi persuadi-lo a pagar fatura de uma empresa que estava inclusive sendo investigada por irregularidade.
Nesse ínterim, a população acompanhou o caso da operação da Polícia Federal que flagrou um senador com R$30 mil escondidos dentro cueca, por mais absurdo que isso possa parecer. E tudo envolvendo verbas federais destinadas ao combate ao coronavírus.
E ainda temos o fato de o governo alardear que tem R$2 bilhões em caixa, economizados durante três anos sob o sofrimento do povo que não consegue sequer fazer cirurgias mais simples, obrigando as pessoas a recorrerem a rifas ou vaquinhas para arrecadar dinheiro a fim de pagar clínicas particulares.
Este é o contexto mais conhecido da população em relação à saúde pública durante a pandemia, pois ainda existem os fatos ocultos (ou ocultados) a cada secretário que pediu exoneração ou foram demitidos, chegando ao total de nove, cujo contexto vai além desse governo, quando os políticos da atualidade negociaram a saúde pública como moeda eleitoral.
Por tudo isso, e pelo espetáculo do horror apresentado durante a disputa pela presidência da ALE, fica difícil o cidadão em bom estado de consciência apoiar a continuidade do estado de calamidade, ou qualquer outra decisão nesse sentido, embora os perigos da pandemia ainda não tenham cessado.
É o mesmo cenário de querer fazer a opinião pública acreditar que os gestores da educação não tiveram tempo para tomar decisões a fim de resolver os principais problemas da educação enquanto as escolas ficaram fechadas por dois anos. Não há qualquer lógica nisso.
E tudo indica que os deputados irão mesmo debitar mais essa fatura na conta do povo. Porque, afinal, eles acham realmente que o povo está feliz com o espetáculo proporcionado durante o carnaval na Praça do Centro Cívico.
*Colunista