LETRAS SABOROSAS

Aprenda a fazer Damorida de cogumelos

Conheça também um pouco mais sobre o empreendedorismo nas comunidades indígenas

Aprenda a fazer Damorida de cogumelos

RECEITA DO DIA

Damorida de cogumelos

Por Denise Rohnelt Araujo

INGREDIENTES:

300g de cogumelos shitake e shimeji

15g de cogumelo seco Yanomami hidratados (por 8 horas em água fria)

02 colheres de sopa de pó de cogumelo Yanomami

02 litros de água

08 pimentas ardosas variadas inteiras (murupi, olho de peixe, canaimé,malagueta)

10 pimentas de cheiro que não ardem

02 colheres de sopa de tucupi negro 

Pedaços de beiju de mandioca.

Sal a gosto

MODO DE PREPARO:

Em uma panela de barro colocar a água, todas as pimentas inteiras, o pó do cogumelo  e os cogumelos Yanomami hidratados para ferver.

Em uma frigideira antiaderente, grelhe os cogumelos shitake e shimeji, em seguida coloque na panela com os outros ingredientes. 

Deixe cozinhar por 30 minutos tampado, até as pimentas ficarem cozidas e macias. 

Colocar o tucupi negro e tampar a panela até a hora de servir.

Servir em tigelas fundas ou cumbucas de tacacá com um pedaço do beiju de mandioca. 

Porção para 2 pessoas. 

DICA- Podem utilizar os cogumelos que mais gostarem ou encontrarem, assim como as pimentas, e se não gostam de comidas picantes, colocar apenas duas pimentas dedo de moça ou malagueta inteiras. A picância da pimenta está nas suas sementes,  por isso cozinho inteiras. Esta receita é a minha versão do prato original e está registrada no livro “Mesa Brasileira, guia para servir e degustar nossa comida regional”, Claudia Matarazzo.

O empreendedorismo nas comunidades indígenas

Hoje no dia dos Povos Indígenas quero registrar o empreendedorismo das comunidades indígenas de Roraima nos segmentos da gastronomia e do turismo.

Temos no estado aproximadamente 55 mil indígenas de nove etnias: Ingarikó, Macuxi, Patamona, Sapará, Taurepang, WaiWai, Wapichana, Yanomami e Ye’kwana.

Segundo o quadro geral dos povos indígenas no Brasil do Instituto Socioambiental (ISA) os Macuxi e os Yanomami estão em maioria no estado de Roraima. 

Devemos conhecer a cultura dos povos para poder respeitar seus costumes, sua arte, seus ingredientes e também o seu empreendedorismo. Afinal muitos acham que os povos da floresta não precisam fazer nada, só caçar e pescar, mas essa ideia de achar que as comunidades não podem ter celular, internet e empreender, é coisa do passado.

Muitos indígenas hoje são protagonistas e escrevem suas estórias do futuro, mas sempre preservando o passado ancestral.

É o caso da mestra em cerâmica Lídia Raposo, que é guardiã da tradição da confecção das panelas de barro do povo Macuxi, e que me ensinou a fazer a autêntica Damorida, prato emblemático do estado, que recebeu  título de patrimônio imaterial de Boa Vista.

Mas tenho observado que muitas comunidades andam buscando orientação no Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), uma entidade privada que promove a competitividade e o desenvolvimento sustentável desses empreendimentos com foco no fortalecimento do empreendedorismo. 

Na gastronomia e turismo temos a Comunidade do Kauwê, que fica no município de Pacaraima, que trabalham o Café Imeru, tipo Arábica de altitude, agroecológico e o primeiro café arábica de Roraima. A palavra Imeru em Macuxi quer dizer Cachoeira, e o Sítio Cachoeirinha iniciou a plantação. A jovem Ana Karoliny Calleri além de empreender com o café junto com sua família, buscou apoio no Sebrae e desenvolveu uma experiência turística, onde mostra as belezas da sua região aliadas à gastronomia: o serviço de café da manhã com os produtos da sua fazenda. Ainda na Comunidade temos o Café Uyonpa dos tipos arábica e robusta amazônico; a Kauwê Turismo que trabalha o etnoturismo e também faz parte do projeto de turismo do Sebrae.

O Sebrae orienta o emprendedor desde como abrir sua empresa, como fazer a parte financeira, do marketing, e para os que entram nos projetos, consultorias especializadas para o fortalecimento do negócio, além de trabalhar com feiras locais e incentivos às viagens para conhecer outras realidades.

Na Comunidade do Kauwê, temos a agrônoma Vera Lucy Brandão, que trabalha com sistema agroflorestal, e desenvolveu jujubas de cupuaçu para aproveitamento da fruta em todo seu potencial. Ela está empreendendo com sua microempresa Yu’Prima Vera- Resgatando Tradições, e tem trabalhado com vários produtos, tendo a consultoria do Sebrae.

Existem outras comunidades que estão empreendendo para transformar a realidade local, e assim possibilitar melhorias para seus habitantes.

Há alguns anos a Associação Yanomami- Hutukara e o Instituto Socioambiental – ISA, vem trabalhando os Cogumelos Yanomami que são coletados na Terra Yanomami e são resultado do profundo conhecimento tradicional indígena sobre o manejo da floresta, e promovem a economia contribuindo com a manutenção da sociobiodiversidade brasileira.

A farinha de tapioca flocada com a castanha do Pará moída, Mawkîn é um produto ancestral feito pelas mulheres do povo Wai Wai, que habitam as Terras Indígenas WaiWai e Trombetas-Mapuera, no sul de Roraima.

As pimentas variadas, que são desidratadas e defumadas, levadas ao sol para secarem e depois trituradas, se tornando pó, a jiquitaia  Tay Tay Pimenta  é um projeto da Comunidade Vista Alegre desde 2018. Hoje possuem mais um Polo de plantação na Comunidade Indígena Aurora do Campo, com quatro tipos de pimentas.

O Tucupi Negro é o caldo da mandioca brava, conhecido como manipueira (água da mandioca), que depois de retirada parte da goma, é reduzido no fogo por mais de oito horas. A comunidade da Tabalascada no município do Cantá iniciou seu projeto para comercialização.

É importante neste dia dos Povos Indígenas, mostrar que eles também estão empreendendo e que podem recorrer às instituições para obterem ajuda no desenvolvimento de seus projetos.

Que possamos ter um comércio justo e um consumo consciente, a partir da bioeconomia, pois empreender com os insumos da floresta é mantê-la em pé e protegida, pois os Povos Indígenas são os guardiões da nossa terra.