AFONSO RODRIGUES

Aprendi com ela

“Nada nos fará tão generosos e sensíveis às faltas dos outros como conhecer totalmente, através de autoexame, as nossas próprias”. (François de S. Fénelon)

Acho mesmo que está na hora do ser humano se cuidar. Ainda pensamos que somos superiores a todos os outros animais. Quando na verdade ainda não atingimos o conhecimento suficiente para entender que também somos animais. Nós e eles, os apelidados de irracionais, estamos apenas em grau de evolução diferentes. Vamos prestar mais atenção ao comportamento dos irracionais para poder entendê-los. Porque só aí nos entenderemos.

De uns anos para cá tenho prestado mais atenção ao comportamento dos animais. Já lhe falei daquele cachorro, ali na esquina. Todas as tardes eu passava e ele estava deitado na calça. Eu o insultava, chamando-o de otário e coisa assim. Naquela tarde eu passei por ele e o xinguei. Ele levantou-se veio devagarinho e arrancou o bolso da minha calça, e arranhou o meu bumbum. Ele correu, entrou pelo portão da casa e ficou deitado e olhando pra mim, com os olhos arregalados. Saí rindo, pela rua, como se tivesse recebido uma lição.

Durante o período que estive na Ilha Comprida, observei e aprendi muito com os cachorros passeando pela areia da praia. Já lhe falei daquele grupo de cachorros. Eram uns sete cachorros. Eles vinham pela Avenida São Paulo, e entraram na Via Cancapuí. Só que um dos pequenininhos e descuidado, continuou caminhando e atravessou a Candapuí. Os outros perceberam e pararam, esperando-o. Ele percebeu e voltou. Aí o grupo seguiu, entraram na Rua Roraima e seguiram rumo à Avenida Beira Mar. Fiquei um tempão ali na varanda, rindo com a lição que aprendi dos irracionais. E ainda tem o caso, da tarde em que estávamos no “Boralá”, um ambiente paradisíaco na ponta norte da Ilha. Aquele cachorro deitado na areia da praia, levantou-se, entrou no mar, banhou-se e voltou e deitou-se na areia.

Eu tenho um par de tênis que uso quando vou limpar o quintal. E isso para evitar de entrar em casa com os pés sujos. Quando vou à tarefa, calço os tênis, rapidamente, e vou à luta. E ele fica sempre ali fora. Recentemente cheguei, e não sei o quê nem quem, me alertou. Aí peguei um dos tênis, o sacudi para limpar, e calcei. Quando peguei o outro tênis, ela pulou para fora e saiu correndo. Era bem pequenininha, pixititinha, era uma lagartixa recém-nascida. Já pensou se eu tivesse calçado sem olhar? Teria matado a coitadinha. Aí fiquei sorrindo com a lição que aprendi, que todo mundo sabe: que é nunca calçar o tênis sem verificar se há algum bichinho lá dentro. Aprendi essa lição,  

com ela. Pense nisso.

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