Em tempos de memes e fake news, não é uma missão muito fácil para a maioria dos eleitores entender a grande importância de uma eleição municipal. No entanto, pelas discussões abertas nas redes sociais e grupos de compartilhamento de mensagens, é possível observar que existe uma consciência crítica em boa parte das pessoas, as quais acabam sendo devoradas dentro da pobre e podre política.
As eleições municipais precisam ser analisadas e compreendidas sob duas importantes óticas: a do eleitor, como cidadão pagador de impostos e que quer ver suas necessidades básicas sendo atendidas; e a dos coronéis da política e seus capachos, que têm nesse pleito o ponto central para fortalecer suas bases e seus currais eleitorais para as eleições gerais.
Para o cidadão, a eleição em seu local de sobrevivência cotidiana precisa ser entendida sob o olhar de que é necessário se atentar para as soluções dos problemas que afligem quem mora ali, naquela cidade, como asfaltamento, esgoto, pontes, trânsito, saúde primária, incentivo ao empreendedorismo, urbanização, praças públicas etc.
Embora tenhamos que estar antenados com o que ocorre no país, nas eleições municipais deve estar em segundo plano o cenário de disputa lá em cima, sem misturar ideologia ou interesses que não dizem respeito às necessidades básicas da população. Quem tenta misturar eleição municipal com cenário nacional não tem boas intenções ou não tem propostas para melhorar a vida no seu município.
Sob a ótica dos coronéis da política, exatamente aqueles que dão as ordens nos partidos, as eleições municipais são vistas como o momento para fortalecer figuras que buscam se manter no poder junto com seu grupo, seja na Assembleia Legislativa, no Congresso Nacional ou na próxima disputa para os governos estaduais. Os municípios, então, são loteamentos particulares desses interesses de grupos.
É por isso que se vê candidatos disputando prefeituras sob a imposição de grupos para que eles mantenham sua hegemonia já pensando nas próximas eleições, incluindo aí deputado federal, senador e governo estadual. A eles não interessa saber se uma cidade precisa ser asfaltada, por exemplo, ou se falta mobilidade urbana naquele município.
Essa disputa de lobos e ovelhas eleitorais começa lá atrás, com destinação de emendas parlamentares ou verbas extras para as prefeituras onde estão redutos ou interesses (inclusive escusos) dos grupos, recursos estes que servem para tudo, entre esquemas e divisão do despojo, menos para atender às necessidades básicas dos munícipes.
É por isso que tem município no interior onde um voto está valendo R$1 mil, conforme relatam eleitores. Ou onde o candidato ou candidata à prefeitura são apenas embustes eleitorais para satisfazer a necessidade de seus grupos endinheirados, em que a disputa é feita não pensando em plataforma política, mas na tática da compra de votos – como se viu na eleição suplementar no Município de Alto Alegre. As apreensões de maletas com dinheiro são reflexo disso.
É este cenário que o eleitor bem-informado precisa entender a disputa eleitoral em seu município, analisando quem está visando a melhoria da qualidade de vida da população daquela localidade, ou se a disputa é tratada apenas voltada ao interesse de manter a hegemonia de um grupo ou de determinados coronéis.
*Colunista