Ir para a sede do Município do Uiramutã, o mais isolado do Estado, pode ser comparado a ir do inferno ao paraíso em uma única viagem de quase 300Km a partir da Capital. O inferno por causa da absoluta precariedade das rodovias. E o paraíso está em conhecer as exuberantes cachoeiras que existem naquela localidade.
É inconcebível a forma como as autoridades dos três níveis de governo tratam a população não só daquele município, formada por maioria indígena, mas também de outros municípios que precisam passar por aquelas estradas. Para chegar à região e adjacências é necessário passar por duas rodovias federais (BR-174 e BR-433) e uma estadual (RR-171), as quais estão deterioradas de forma ultrajante e perigosa.
O martírio do viajante começa no trecho norte da BR-174, que dá acesso à fronteira com a Venezuela. Até o Município do Amajari, numa extensão de 100Km, a estrada está em boas condições por estar passando por obra de recuperação. Depois desse trecho, a estrada está tomada por buraqueira, cujo pior trecho fica depois do entroncamento com a RR-400, na entrada para o Sítio Arqueológico Pedra Pintada, onde o asfalto desapareceu e virou uma perigosa piçarra que mais parece pista de rally.
A saga prossegue na entrada para a Vila Surumu, pela BR-433 (antiga RR-220), que também está em condições lastimáveis até a localidade chamada de Placa, já dentro da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, a partir de onde começa o acesso ao Uiramutã. Não só a população é penalizada, mas servidores de órgãos federais que prestam serviços nas terras indígenas, funcionários de instituições, estudantes, visitantes e turistas.
O drama do visitante prossegue pela RR-171, estrada estadual largada à penúria governamental, que só realiza obras de recuperação paliativas no verão para logo em seguida ser destruída pelas chuvas, que também arrastam as pontes de madeira. São 191Km de muito sofrimento, cujo perigo aumenta nas subidas de serras, onde a buraqueira divide o perigo com imensas pedras que se tornam perigosos obstáculos. Essa estrada dá acesso à sede do Uiramutã e prossegue até o Parque Monte Roraima, onde não se parece mais como uma estrada.
Sem qualquer dúvida, a RR-171 não é somente a estrada mais setentrional de Roraima, mas a pior rodovia do Estado sobre a qual não há sequer uma promessa de asfaltamento. Até porque as autoridades estaduais sempre se esquivam de suas responsabilidades porque ela dá acesso a várias localidades na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. No entanto, em período eleitoral o que não faltam são veículos oficiais em busca de voto dos indígenas. Neste exato momento, a movimentação de candidatos é intensa na região.
Precisar de atendimento médico de urgência na sede de Uiramutã é equivalente a ter a morte decretada. Percorrer essas estradas é correr sérios riscos de vida, seja no verão ou inverno. É inacreditável o descaso dos governos com as estradas daquela região. Chega a ser surreal, pois as degradantes e vergonhosas estradas contrastam com a exuberante beleza cênica da região. Igualmente impressionante é a passividade cega daquelas populações, que aceitam esta humilhante realidade como um desígnio dos céus. Só pode ser isso!
*Colunista