As mentiras se repetem no país que já enfrentou uma revolta contra a vacina
Jessé Souza*
O Estado de Roraima continua sendo terra fértil para o movimento negacionista que se implantou no Brasil a partir das fake news sobre a vacina, alimentadas por igrejas evangélicas e ancoradas no posicionamento político dos seguidores do bolsonarismo. Muitos se negam a se vacinar porque acreditam nas mentiras incisivamente compartilhadas principalmente em grupos de WhatsApp.
Entre as populações indígenas, há quem acredite que a vacina pode transformar as pessoas em animais. Entre os não indígenas, com a lavagem cerebral política anticiência e a pregação dos púlpitos de pastores adeptos da política negacionsita, as pessoas passaram a crer que a vacina é uma trama maligna para instalar um chip do capeta ou parte de um plano mundial para eliminar as pessoas que irão morrer em um ano depois de vacinadas.
Como estamos em uma realidade em que as pessoas estão suscetíveis a mentiras e teorias da conspiração, com muitos sequelados espiritualmente devido a aproveitadores religiosos, além de outros sujeitos a qualquer paranoia, muitos estão deixando de se vacinar. E outra grande parcela passou a crer que não precisa mais tomar a segunda dose, porque também foram contaminadas por essas paranoias disseminadas pela internet.
O número de não vacinados em Roraima é muito grande, apesar de as doses da vacina estarem disponíveis em vários postos da Capital e do interior. O negacionismo alimentado pelo bolsonarismo e a teoria diabólica disseminada por evangélicos irresponsáveis são o estopim para que o Estado apresente um baixo número de imunizados contra o coranvírus.
Como os políticos foram responsáveis por fazer a população perder o medo do vírus, especialmente na campanha eleitoral passada, a maioria das pessoas já não segue mais os protocolos sanitários, como o uso de máscara e a higinenização das mãos. E, ao se negarem a se imunizar, muito contribuem para os baixos números da imunização.
Os dados mais recentes colocam Roraima como o Estado com a pior cobertura vacinal do Brasil, com somente 55,28% da população imunizada com a primeira dose e 39,68% com a segunda. Significa que o desafio deste ano é se livrar do negacionismo que está destruíndo as pessoas não somente na questão da saúde como também na forma de entender a política.
É inconcebível que no país onde houve a Revolta da Vacina, na década de 1900, quando se pregava o boato de que as pessoas que se vacinassem iriam ficar com a feição de boi ou vaca, as pessoas ainda acreditem nessas mesmas mentiras. É por isso que se vacinar já é um bom começo para começar a mudar essa mentalidade retrógada que estão instalando no país. Esse é o grande desafio.
*Colunista