Existem várias leituras a serem feitas a partir da Operação Martellus, realizada nesta quarta-feira, 18, pela Polícia Federal, com a finalidade de desarticular uma associação criminosa colocada em prática durante o período eleitoral de 2024 destinada a comprar de votos e praticar outros crimes eleitorais em Boa Vista no pleito deste ano.
Só o fato de um dos presos apontado como principal suspeito ser o presidente da Câmara de Boa Vista, vereador Genilson Costa (Republicanos), já é uma grave situação que exige tomada de atitude. Não se trata de qualquer acusação. A PF aponta que Genilson comprava votos dos eleitores na Capital para se reeleger pela terceira vez utilizando dinheiro do tráfico de drogas.
Estamos diante de uma séria questão, que necessariamente não é nenhuma novidade, pois o mesmo vereador já vinha sendo investigado desde 2022, quando a PF deflagrou a Operação Tânatos que investigava um grupo suspeito de movimentar R$ 5 milhões em tráfico drogas. O vereador foi um dos presos, mas isso não provocou qualquer reação de seus pares edis.
Em dezembro de 2023, Genilson foi finalmente denunciado pelo Ministério Público de Roraima (MPRR) junto com oito pessoas. A denúncia encaminhada à Justiça pelo MPRR afirma que o vereador é suspeito de integrar o grupo formado por mais oito pessoas que mantinham um esquema de tráfico de drogas em Roraima, inclusive os autos afirmam que o vereador chegou a fazer negociações de drogas de dentro do gabinete da Câmara!
E fica o questionamento: o que os vereadores estão esperando? Em 28 de fevereiro de 2022, uma segunda-feira de Carnaval, a Assembleia Legislativa de Roraima cassou o deputado Jalser Renier sob acusação de liderar milícia e mandar sequestrar o jornalista Romano dos Anjos, mesmo que o caso ainda estivesse em investigação e não houvesse qualquer condenação judicial até os dias atuais.
Outro fato estarrecedor, dentro desse contexto da Operação Martellus, é que o subcomandante-geral da Polícia Militar (PM), coronel Francisco das Chagas Lisboa, também foi preso por supostamente participar do grande esquema, responsável por alertar o vereador Genilson sobre qualquer denúncia de compra de voto que ocorresse contra ele, além de repassar informações sobre outras denúncias que a PM recebia, em grave quebra de sigilo do canal de comunicação da Corporação militar.
A prisão do coronel ocorre no exato momento em que a PM de Roraima comemora 49 anos, que por sua vez vive um de seus momentos mais delicados, pois o comandante-geral da PM, Miramilton Goiano, é investigado por supostamente encabeçar um grupo responsável pelo esquema de veda ilegal de armas e munições, em que outro apontado como partícipe é o deputado Rárisson Barbosa (PMB) – o que os deputados estão esperando também?
Outra questão é que o coronel preso ontem, Francisco Lisboa, foi nomeado subcomandante-geral da PM depois que o governador Antonio Denarium (PP`) exonerou a coronel Valdeane Alves estava no cargo, dia 11 de novembro passado, após ela defender que o comandante Miramilton se afastasse do cargo até que fosse concluída a investigação sobre a venda ilegal de armas e munições. É um enredo digno de um filme.
Há várias outras camadas dentro desse episódio, a exemplo do valor de R$1 milhão gasto para uma reeleição, mas não há espaço suficiente para discorrer sobre. No entanto, estamos diante de uma estarrecedora realidade, em que os dois principais militares do Alto Comando da PM sendo investigados pela Polícia Federal, enquanto o crime organizado amplia seu poderio no Estado, especialmente nos bairros da Capital.
O desenrolar das investigações apontam claramente uma intrincada conexão entre corrupção eleitoral, tráfico de droga e garimpo ilegal (já que Genilson foi flagrado com uma pepita de ouro quando foi preso no dia da eleição por suspeita de compra de voto). Da mesma forma que a investigação sobre venda ilegal de armas e munições também apontam para o garimpo ilegal. São sinais de um narcogarimpo que muitos insistem em negar.
E o que leva a uma situação mais grave é que tudo isso envolve PMs da mais alta patente e de confiança do governo. É preciso passar tudo isso a limpo.
*Colunista