Assaltante armado não é profissão, mas e o político que rouba os cofres públicos?
Jessé Souza*
Independente se de esquerda ou de direita, não se pode normalizar nem banalizar o errado que atenta contra os direitos da sociedade e contra as leis, especialmente a Constituição Federal. A fala do professor de Geografia de uma escola estadual de Roraima defendendo bandido, em uma sala de aula cheia de adolescentes, é um desses embustes que surgem na sociedade do pós-verdade.
Chega ser estarrecedor um professor contestar o porte de arma defendendo que um assaltante armado também seria um “cidadão de bem”, um “pai de família que também está trabalhando”. Isso não tem nada a ver com o estado de direito, pois defender que um bandido armado estaria trabalhando para sustentar sua família extrapola o “coitadismo” que acomete muitas pessoas.
Com toda razão o caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais e grupos de WhatsApp, provocando imediata indignação nas pessoas, a ponto de a Secretaria Estadual de Educação e Desporto (Seed) se pronunciar logo em seguida afirmando que tomará “medidas cabíveis”.
Mas… Alto lá. Não estaria o professor tão somente levando à última potência o que já vem sendo normalizado pela sociedade em geral, há muito tempo, especialmente o eleitor quando defende abertamente o “rouba, mas faz”? Afinal, quem rouba é ladrão, o que é um ato fora lei e, em vez de ser eleito, deveria ser denunciado, preso e banido da política.
É isso o que se espera de um ladrão que sai para assaltar a mão armada, que seja preso, julgado e condenado à prisão. Também deveria ser assim com os políticos, que são eleitos para defender o bem público e coletivo, mas rouba o dinheiro que deveria estar sendo aplicado na saúde, na educação e na segurança como prioridade.
Porém, não é assim que muitos reagem, inclusive vários desses que partiram para o ataque contra o professor que defendeu o ato de assaltar como um trabalho de pai de família e cidadão de bem. Da mesma forma é estarrecedor que cidadão de bem e pai de família defenda o político “que rouba, mas faz”. Isso também não pode ser normalizado sob nenhuma hipótes.
Porém, a sociedade brasileira vem normalizando o errado, conduzindo e reconduzido os ladrões na política que roubam, mas são perdoados porque fazem algo em troca, seja comprando o voto ou que se passam como “trazedores de recursos”, como se isto fosse a expressão máxima de um político.
O professor precisa ser responsabilizado pelo seu grave erro. Mas o erro dele não é menor nem menos pior do que o praticado pelo eleitor que defende político ladrão, inclusive inflando o peito para dizer: “ele ou ela rouba, mas faz”. E isso precisa ser combatido com todas as forças, até mais do que a usada para julgar e condenar sumariamente o professor que defendeu assalto como um emprego de pai de família.
Ou o ladrão pé de chinelo com uma arma na mão é mais bandido que um ladrão de terno e gravata que nem precisa ter uma arma em punho? Ou a sociedade já aceita que político ladrão seja uma profissão?
*Colunista