Até quando, senhores?A questão da saúde mental em Roraima é grave e precisa sair da teoria para a prática. A teoria: o Ministério Público do Estado de Roraima (MPRR) promoveu uma audiência pública com gestores e profissionais da área de saúde mental do Estado e municípios, além da sociedade civil, na sexta-feira passada.
A prática: enquanto as autoridades estavam na audiência, no mesmo dia um rapaz de uma família no Residencial Vila Jardim, no bairro Cidade Satélite, na Zona Oeste de Boa Vista, que sofria de epilepsia desde pequeno, teve um surto repentino, tentando se jogar do segundo andar do apartamento e agredindo familiares.
Ali começou o drama daquela família, que ligou para o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) a fim de levar o rapaz para o setor psiquiátrico do Hospital Geral de Roraima (HGR). Porém, o atendente do Samu afirmava que esse serviço seria obrigação a Polícia Militar.
Chamada pela família, uma guarnição da PM dizia que era obrigação do Samu levar o jovem em surto. Desesperada, a família voltou a ligar para o Samu, que reafirmava ser uma obrigação da PM. Então, um policial pegou o celular para conversar com o pessoal do Samu, abrindo uma discussão ali, na frente de todos.
Vendo aquela cena, um vizinho se dispôs a levar o jovem em seu carro, enquanto Samu e PM não se entediam e provavelmente não irão entrar em um acordo sobre isso enquanto a teoria não se tornar uma prática diária, de política pública que tire os doentes mentais desse martírio.E que ninguém pense que o drama dessa família acabou por aí. No setor psiquiátrico, por ser a primeira vez que isso ocorria em suas vidas, os familiares foram mal orientados, desrespeitados e até colocados em risco. Uma servidora do setor não só proporcionou um mau atendimento como colocou em risco a vida da acompanhante do paciente.
Ao falar que não era “babá de ninguém”, a servidora permitiu que a moça que acompanhava seu irmão em surto ficasse dentro da psiquiatria do HGR, onde a porta de ferro é trancada no cadeado, como se fosse uma cela de um presídio, por motivos óbvios. Por muita sorte não foi agredida por outros pacientes psiquiátricos e por ter sido socorrida a tempo quando seu irmão estava em surto, passando a agredi-la.
É lamentável que a saúde mental esteja nesse nível, contrariando tudo aquilo que foi discutido na audiência pública realizada pelo MP, ou seja, por uma integração dos serviços e recursos dentro de uma política de saúde mental séria, sem remendos e improvisos. A pergunta é: até quando isso vai continuar assim?
*[email protected]: www.roraimadefato.com.br