Jessé Souza*
Um fato passou oculto aos olhos da opinião pública, no sábado passado, durante a visita feita pelo governador Antonio Denarium (sem partido) à obra de ampliação do Hospital Geral de Roraima (HGR), com a construção do Anexo E, e à estrutura montada para atendimento de pacientes com coronavírus: a ausência em peso da maioria dos parlamentares federais.
Vivemos um momento delicado e preocupante, diante do avanço da pandemia, mas apenas a deputada federal Joênia Wapichana (Rede-RR) fez-se presente para conhecer a realidade da saúde estadual e fazer questionamentos, além de alguns deputados estaduais da base aliada. Nem mais um deputado federal, sequer um senador.
A impressão que se tem é que a pandemia não está tirando o sono da maioria de nossos políticos, mesmo com as notícias nacionais de que Roraima está no topo dos estados que mais sofrem com o avanço da Covid-19, nem com as recorrentes divulgações de que o HGR não dispõem de mais vagas nos leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI).
A população elegeu os parlamentares para que eles estejam atentos e presentes nestes momentos cruciais. Mas esse visível desinteresse em dar satisfação à opinião pública só revela o quanto há uma distância entre o discurso pregado durante a campanha eleitoral e a prática depois que os políticos se elegem.
Outro fato revelado a partir da visita feita ao HGR, no fim de semana passado, diz respeito ao tratamento aos povos indígenas dentro da estrutura estadual. O Governo do Estado não pensou duas vezes em fechar a coordenação de saúde indígena quando o Hospital Geral foi transformado referência no atendimento a pacientes com coronavírus.
É como bem frisou a deputada Joenia, diante do governador e do secretário estadual de Saúde, Marcelo Lopes, durante a visita: embora o atendimento de baixa complexidade seja feito pelos Distritos Sanitários, quando se trata de alta complexidade os indígenas precisam ser atendidos na rede estadual.
Quando a situação apertou por causa da pandemia, não houve qualquer ponderação em desativar a saúde indígena, pois quando se trata dessas comunidades, elas não têm qualquer valor perante as decisões governamentais. E olha que o secretário já trabalhou na saúde indígena, como ele lembrou em sua fala.
Perante a presença da deputada Joênia, Marcelo Lopes afirmou que o governo Denarium acabava de assumir o compromisso não só de reabrir a coordenação da saúde indígena, como também melhorar o atendimento no setor público estadual para estas populações.
Essa é a grande diferença de um parlamentar que trabalha em gabinete e do que vai à rua, que é de poder cobrar pessoalmente as ações em favor de seus eleitores. É por isso que a ausência da maioria dos deputados federais soa como um desleixo ao momento crucial que vivemos na saúde pública.
Pelo que o governador mostrou, durante a visita, o Estado tem tomado as providências necessárias para evitar o colapso da rede estadual e também evitar que falta insumos básicos, como oxigênio para os pacientes. Além de mostrar o que está sendo feito no Anexo E do HGR, cuja estrutura representará um alivio na garantia de uma saúde pública gratuita e de boa qualidade.
Mas a garantia de que realmente tudo isso irá funcionar depende das ações dos parlamentares, que para isso foram eleitos, e da cobrança por parte dos eleitores perante aqueles que eles elegeram para nos representar em Brasília. Isso é o que faz a diferença.
Como cidadãos, não podemos mais permitir essa ausência de nossos representantes nas grandes questões que nos afligem, em especial a saúde pública. Já sabemos que os políticos só costumam trabalhar quando são pressionados. O momento de cobrar é esse.
*Colunista