Maria Nazaré Bessa Filgueiras nasceu em 9 de junho de 1911, na Fazenda Taboca no alto rio Amajari, então Município de Boa Vista do Rio Branco. Era filha de João Barreto de Matos e de Maria Bessa de Matos, cearenses, que aqui aportaram no início de 1880. Ao ficar órfão de pai e mãe, Nazaré Filgueiras foi criada pelo seu tio o capitão Bessa, um dos maiores fazendeiros à época.
Nazaré Filgueiras foi testemunha ocular da história de Boa Vista: ainda menina, participou dos mutirões para construção da Igreja de São Sebastião (1924), obra liderada pela sua avó Guilhermina Bessa, em cumprimento a uma promessa a São Sebastião (data: 20 de Janeiro).
Nazaré testemunhou a chegada do primeiro avião a pousar na região em 1925, o hidroavião Eleanor III, do cientista e naturalista americano Hamilton Rice, autor das primeiras fotos áreas de Boa Vista. A experiência e fotos desse cientista podem ser vistas no livro “Exploração da Guiana Brasileira”, onde ele relata, com riqueza de detalhes, a viagem que fez ao vale do rio Branco (Roraima).
Nazaré presenciou o “verão da fumaça”, uma terrível seca que assolou Boa Vista em 1926. Ela contava que a seca foi tão forte que era possível atravessar o rio Branco a pé ou em carro-de-boi.
Nazaré Filgueiras conheceu e conversou com o marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, militar e sertanista brasileiro, por ocasião de sua estada na Fazenda Iracema de propriedade do seu tio o capitão Bessa em 1927. O objetivo da visita do Marechal Rondon à região era inspecionar toda a faixa de fronteira brasileira com a Guiana Inglesa e Venezuela.
Nazaré Filgueiras casou-se em 12 de janeiro de 1928 com Raimundo Pinto de Souza Filgueiras, filho de Ismael Pinto de Souza Filgueiras (Juiz de Paz em Boa Vista).
O casal Raimundo e Nazaré teve 10 filhos: Clodir; Clodonir; Clodezir (Mimi) e Perpétua. Os falecidos são: Maria do Carmo, Yeda, Winder, Valcy, Clotilho, Clodecir faleceu em 2020 de Covid.
Aqui conto um fato narrado pelo filho Clodir: Nazaré estava grávida, prestes a ter o filho Clotilho, quando se deparou com uma onça suçuarana no terreiro de casa na fazenda “São Duarte”, na região do rio Amajari. O marido Raimundo Filgueiras estava numa roça próxima com seus trabalhadores. Diante da ameaça, e até para proteger o marido, pediu à filha Perpétua que lhe trouxesse a vara de madeira da tranca do curral e, ajudada pelos três cachorros da casa, Nazaré matou à pauladas a feroz onça.
No ano de 1949 a família deixou a região do Amajari e veio para Boa Vista para que os filhos estudassem. O pai, Raimundo Filgueiras, conseguiu emprego no Governo do Território, com atividade de carpintaria. A mãe, Nazaré Filgueiras, montou uma pequena lanchonete, com o nome de “Kiosque 3 de Outubro” – em lembrança à data em que a família chegou a Boa Vista vinda do interior. Este pequeno comércio de venda de refrescos, salada de frutas, e bolos, foi instalado anexo à construção do que viria se chamar “Palácio do Governo”, no futuro Centro Cívico.
Em 1956, o governador era o capitão José Maria Barbosa que usava o prédio da antiga Divisão de Ensino (Secretaria de Educação), no Centro Cívico, como sede do governo, onde despachava com seus assessores e atendia o público. Estas pessoas eram clientes da dona Nazaré, que tinha o seu “Quiosque” de vendas, ao lado do prédio.
Anos depois a senhora Nazaré Filgueiras instalou uma mercearia a “Casa Filgueiras”, na esquina da Rua Rocha Leal com a Rua Coronel Mota – no Bairro São Francisco.
O senhor Raimundo Filgueiras faleceu em 11/06/1969, e a senhora Nazaré Filgueiras faleceu no dia 27 de julho de 1997, aos 86 anos, no Hospital Sarah Kubistchek em Brasília-DF.
A Câmara Municipal de Boa Vista a homenageou, pondo o nome da senhora Nazaré numa Avenida em Boa Vista. Assim é que no dia 04/11/2002 foi aprovado um Projeto, que após aprovação, foi promulgado como Lei nº 629/02, publicada no Diário Oficial do Município de Boa Vista sob nº 863, de 06/11/2002, redenominando a antiga “Avenida S-4”, no Bairro Pintolândia, como “Avenida Nazaré Filgueiras”, uma das principais avenidas daquele bairro.